Crime ambiental
Uma combinação notável de circunstâncias torna especialmente chocante a decisão do governo do Estado do Rio de propor a emenda constitucional que reduz a um quarto a verba disponível para o meio ambiente, e de vetar a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Guandu. O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara está praticamente paralisado pelo misto de incompetência e negligência com que vem sendo administrado - um exemplo típico de dinheiro público mal gasto. Para agravar o quadro, o Rio de Janeiro tem a responsabilidade de sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007 e a pretensão de ser o palco dos Jogos Olímpicos de 2012. E ainda uma fortíssima estiagem, que intensificou em muito a poluição do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes, já está pondo em risco o fornecimento de água no interior do estado e é ameaça para o abastecimento da capital no ano que vem. Em tal situação, seria de se esperar que o governo estadual buscasse alternativas para cuidar do seu problema fiscal, e se voltasse para a questão ambiental - levando em conta a necessidade de montar uma boa estrutura para o Pan, especificamente o problema do saneamento da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá - e ainda estudasse medidas extraordinárias para enfrentar o problema crítico da água. Mas preferiu caminhar na contramão. Depois de ter vetado a criação da APA do Guandu, decide reduzir brutalmente o dinheiro do Fundo Estadual de Conservação Ambiental, proposta aprovada em primeiro turno com lamentável facilidade (45 votos a 16) na Assembléia. Espera-se que seja um engano imaginar que, como resultado, haverá grave deterioração na maneira como o estado cuida de seus problemas ambientais. Mas, desde o início de sua gestão, a governadora Rosinha Matheus gastou com o meio ambiente apenas R$ 56 mil, ou 0,01% dos R$ 500 milhões disponíveis - dinheiro usado, aliás, para pagar dívidas com a Light. Esta cifra e o seu emprego dão a medida da importância que está sendo atribuída ao meio ambiente. Não deixa de ser uma demonstração de coerência no descaso reduzir ao mínimo uma verba que praticamente não era usada.