CBMM e Universidade de Birmingham desenvolvem tecnologia para reciclagem de carbono com uso de nióbio

em Cenário Energia, 16/julho

Parceria internacional visa descarbonizar a indústria do aço por meio de inovação com perovskitas, reduzindo emissões e viabilizando retrofit industrial de baixo custo.

A CBMM, líder global em produtos de nióbio, e a Universidade de Birmingham, no Reino Unido, anunciaram uma iniciativa conjunta que pode representar um divisor de águas na luta pela descarbonização industrial. O projeto, ainda em fase de laboratório, utiliza materiais à base de nióbio para transformar o dióxido de carbono (CO₂) gerado por processos industriais em um insumo reutilizável — o monóxido de carbono (CO) — contribuindo diretamente para a economia circular do carbono e para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

A proposta tecnológica é baseada no uso de perovskitas — materiais cristalinos conhecidos por sua estabilidade e performance química — dopadas com nióbio. Esses compostos são capazes de converter CO₂ em CO com altíssima seletividade, atingindo quase 100% de eficiência na transformação, segundo os primeiros resultados laboratoriais.

Inovação aplicada à indústria pesada: retrofit com menor custo e mais eficiência

De acordo com a CBMM, uma das grandes vantagens do projeto está em sua aplicabilidade prática. A nova tecnologia poderá ser incorporada aos processos existentes de produção de ferro e aço, como os altos-fornos, por meio de retrofit — sem a necessidade de substituições estruturais ou investimentos bilionários em infraestrutura. Com isso, a barreira econômica para adoção de soluções de baixo carbono é reduzida, facilitando a escalabilidade global da inovação.

Outro diferencial é que a tecnologia opera em temperaturas significativamente mais baixas do que os métodos convencionais de captura e conversão de carbono, o que proporciona redução de custos operacionais e ganhos em eficiência energética — uma equação desejada por toda a indústria intensiva em emissões.

Segundo o professor Yulong Ding, diretor do Centro de Armazenamento de Energia da Universidade de Birmingham, “a siderurgia é um dos setores industriais mais difíceis de descarbonizar. Ela é essencial para cadeias produtivas críticas em todo o mundo, mas também responde por uma parcela considerável das emissões globais. Estamos muito satisfeitos com a parceria com a CBMM, que permitirá desenvolver uma solução técnica, economicamente viável e com responsabilidade ambiental”.

Escalabilidade com apoio da CBMM e de venture studios internacionais

A parceria conta com o suporte técnico da CBMM, que além de fornecer expertise em aplicações de nióbio, atua como facilitadora da transição entre a pesquisa acadêmica e a aplicação industrial. O projeto deverá evoluir para testes em escala piloto nos próximos três anos. A etapa seguinte envolve a comercialização da solução, liderada pela startup PeroCycle, criada especificamente para essa finalidade.

A PeroCycle conta com o apoio da Universidade de Birmingham, da Anglo American e do estúdio de venture building Cambridge Future Tech, especializado em transformar inovações acadêmicas disruptivas em negócios escaláveis. Essa estrutura de fomento à inovação acelera a chegada da tecnologia ao mercado, com foco na sua adoção por siderúrgicas globais em busca de neutralidade de carbono.

“Essa parceria representa um passo estratégico na busca por soluções sustentáveis para a descarbonização da indústria, especialmente a do aço, uma das mais difíceis de transformar. O uso do nióbio nessa aplicação inédita reforça nossa convicção de que inovação e sustentabilidade caminham juntas”, afirma Leonardo Silvestre, Gerente Executivo de Inovação da CBMM.

Compromisso com Net Zero e com novas aplicações do nióbio

A iniciativa está alinhada às metas climáticas da CBMM, que busca alcançar emissões líquidas zero nos escopos 1 e 2 até 2040. A empresa tem investido sistematicamente em inovação disruptiva, com foco em novas aplicações do nióbio em setores estratégicos como energia limpa, mobilidade elétrica, polímeros, cerâmicas avançadas, insumos agrícolas e, agora, captura e reutilização de carbono.

Além de reforçar o papel do Brasil como provedor global de soluções para a transição energética e climática, a aplicação do nióbio em tecnologias de captura e reciclagem de carbono marca uma nova fronteira de uso para o metal — tradicionalmente associado à siderurgia, mas com crescente presença em mercados de alto valor agregado.

A expectativa é que, nos próximos anos, soluções como a que está sendo desenvolvida com a Universidade de Birmingham ajudem a redefinir os padrões ambientais da indústria global, viabilizando um modelo mais limpo, competitivo e circular de produção industrial.


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