Porto Maravilha quer virar o jogo — mas segurança e união ainda são os maiores desafios

em Diário do Rio, 4/abril

Empresários, representantes do poder público e lideranças se reuniram nesta sexta-feira para discutir o presente e o futuro do Distrito Empresarial do Porto.

Numa manhã movimentada no Porto Maravalley, um dos principais hubs de inovação do Rio, empresários, representantes do poder público e lideranças da sociedade civil se reuniram nesta sexta-feira (04/04) para discutir o presente e o futuro do Distrito Empresarial do Porto. O encontro, que mais parecia uma grande assembleia de interesses diversos, mostrou que muita coisa está acontecendo na região — mas também escancarou os entraves que ainda travam o progresso do Porto Maravilha.

Se por um lado surgem projetos ambiciosos, como o Data Porto, parceria entre o Código Carioca e a ESPM para levantar dados estratégicos da área, por outro lado os empresários enfrentam uma realidade dura: galpões invadidos, furtos de cabos, aumento de moradores em situação de rua e vandalismo.

Segurança virou o calcanhar de Aquiles do Porto

Sônia Carolia, da Kreimer Engenharia, foi direta: “Mesmo do lado da Polícia Federal, sabemos que a região não é segura. A falta de ação da Prefeitura nos deixa vulneráveis e afasta investimentos”. A Kreimer tem cinco galpões no Armazém 2 e relata prejuízos constantes com invasões e roubos.

A proposta colocada na mesa foi clara: criar um sistema de segurança compartilhada entre os empresários, num modelo de rateio, para tentar minimizar os danos enquanto o poder público não chega com força total. A Aliança Centro e o Sindoperj também defenderam a criação de um modelo associativo mais estruturado para dividir custos e otimizar as ações.

Falta comunicação — e dados

Leonardo Ribeiro, presidente do Distrito Empresarial do Porto, não economizou nas palavras: “Falta integração entre os setores. Não nos comunicamos. Temos um déficit de comunicação integrada e participativa, que nos impede de tirar as ideias do papel e trazê-las para a realidade. Problemas sempre vão existir — a questão é o que fazemos com eles. É nosso dever nos integrarmos, desenvolvermos ações e levarmos essas demandas ao poder público. E precisamos que a Prefeitura e o Estado estejam abertos a nos receber.” destacou o empresário.

Hiroshi Shibuya, do NAU (Núcleo de Ativação Urbana), reforçou que sem dados, é impossível cobrar políticas públicas eficazes: “Em 2021 tivemos reunião com a Secretaria de Cultura e com a de Turismo, mas não conseguimos avançar porque as empresas não enviaram informações. Precisamos de um termo de compromisso”.

O Data Porto surge justamente como resposta a essa necessidade. O projeto busca consolidar informações sobre os principais gargalos da região — segurança, mobilidade, turismo, infraestrutura — para orientar decisões futuras. A adesão das empresas, no entanto, ainda é baixa.

Governo marca presença — mas precisa avançar

Representando a Prefeitura do Rio, estiveram presentes o subsecretário de Desenvolvimento Econômico, Marcel Balassiano, e Márcio Lopes, da mesma pasta. Eles reforçaram o compromisso com a revitalização da região através do Reviver Centro e das iniciativas das ruas temáticas, como a Rua da Cerveja e a Rua Carioca. Mas também ouviram cobranças por ações mais práticas e rápidas.

Turismo e imagem da região em jogo

Marcelo Martins, da Triple M Turismo, levantou uma preocupação urgente: a imagem negativa do Porto Maravilha tem afastado eventos e turistas. “A insegurança é um freio. Tem estrutura, tem localização, tem história. Falta um empurrão.”

Já Denise Lima, do Pier Mauá, trouxe uma visão mais otimista: “Temos lazer, bons restaurantes, geração de empregos… é preciso valorizar os avanços. O turista está voltando, aos poucos. Mas temos que andar de mãos dadas: empresas, governo e comunidades.”

Comunidade no centro da pauta

Raquel Spinelli, da ONG Providenciando a Favor da Vida, foi a voz ativa da comunidade do Morro da Providência. Ela reforçou a importância de integrar as favelas e moradores da região ao processo de revitalização: “Não adianta maquiar a cidade sem enfrentar as questões sociais. Moradia, acesso, oportunidades. Isso precisa andar junto”.

Próximos passos

O encontro terminou com o compromisso de criar um termo de adesão das empresas do Distrito Empresarial, voltado à segurança, compartilhamento de dados e participação ativa nas decisões sobre o território.

A expectativa é que, até maio, tudo esteja pronto para o Fórum de Soluções do Porto Maravilha, que reunirá novamente os principais agentes públicos e privados da região.


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