‘Home resort’ reconquista o alto padrão paulistano

em Valor Econômico, 4/abril

Equipados e bem localizados, projetos com lazer de hotel retornam ao mercado de São Paulo. No Rio, produtos semelhantes têm alta liquidez.

Condomínios-clube sempre fizeram parte da cultura imobiliária paulistana. Os primeiros projetos datam dos anos 1950, cujos representantes legítimos são o Edifício Bretagne, em Higienópolis, de Artacho Jurado; e o Condomínio Parque da Aclimação ou Kowarick, na região da Avenida Paulista, concebido pelo arquiteto alemão Herbert Duschenes. Em comum, amplos jardins no pátio central, obras de arte, piscina e até restaurante.

Seis décadas depois, nos anos 2000, uma segunda geração desse tipo de produto invadiu a cidade, aproveitando-se de uma inesperada oferta de grandes terrenos cedidos por indústrias que deixavam bairros como Mooca, Tatuapé, Barra Funda e Santo Amaro, rumo ao interior. Aí vieram as quadras poliesportivas, as academias e os salões de jogos.

Contudo, com a elevação dos custos de construção, escassez de terrenos — que pressionou o valor do metro quadrado na cidade — e as mudanças de hábitos e costumes nas pessoas que vieram após 2010, esses empreendimentos foram saindo de cena aos poucos. Pelo menos até agora.

“O condomínio-clube do passado virou ‘home resort’, ficou menor e tem ‘amenities’ mais selecionados, conforme a época atual e o público”, analisa Cyro Naufel, diretor Institucional do Grupo Lopes.

O executivo recorda os lançamentos em terrenos de 40 mil metros quadrados, algo impossível nos dias de hoje, até por limitação prevista na legislação do município. Lembra ainda que muitas opções de lazer caíram em desuso com o passar do tempo. “Há 20 anos, condomínios com ‘lan house’ eram a grande novidade. Com a chegada da internet Wi-Fi e dos serviços de banda larga residencial, esse espaço simplesmente desapareceu”, afirma o diretor.

Localização importa

Desde o início, poder usufruir de lazer completo dentro do prédio foi o principal atrativo desses projetos, o que compensaria a localização mais periférica. Hoje em dia, essa praticidade segue valendo, mas a demanda por “location” ganhou relevância em razão da mobilidade urbana tão dificultada em dias atuais. Por conta disso, a incorporadora Meta decidiu lançar o The Club em pleno Jardim Guedala, vizinho a grandes hospitais e escolas tradicionais e a cinco minutos da Ponte Cidade Jardim, um dos acessos da Avenida Faria Lima, polo financeiro da capital.

Assinado pelo arquiteto Gui Mattos e com VGV de R$ 550 milhões, o empreendimento terá torre de 42 andares, com apartamentos, estúdios, escritórios, lojas e mais de 40 tipos de “amenities”, como quadra de “beach tennis”, academia assinada por marca, spa, piscinas e simuladores de Fórmula 1 e avião para a turma gamer.

“O tempo sempre foi um ativo importante do paulistano. Com o trânsito cada vez pior, fazer parte da rotina diária de treinos, aulas esportivas ou lazer com os filhos, sem precisar sair do condomínio, ajuda muito”, afirma Alexandre Souza Lima, CEO da Meta.

Ele destaca que cada “cluster” — residencial, estúdios e escritórios — terá acesso independente e pacote de itens diferentes. O The Club tem previsão de entrega em 2029, e o metro quadrado residencial está na faixa de R$ 18,5 mil.

No Rio, condomínios com lazer de hotel dominam a Zona Oeste

Bairros como Barra e Recreio têm lançamentos em profusão e alta liquidez

Na Zona Oeste do Rio de Janeiro, os condomínios-clube são as grandes vedetes do mercado imobiliário. Projetos com lazer de resort na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes dominam a oferta de imóveis de alto padrão e chegam a ser totalmente vendidos no dia do lançamento. “Em geral, esses empreendimentos conquistam compradores que vivem distante da praia ou os próprios vizinhos em busca de ‘upgrade’ ou investimento rentável”, explica Nayara Técia, CEO do grupo On Brokers, que atua na região.

Segundo ela, 80% dos negócios de sua empresa vêm da comercialização de imóveis dessa categoria. “Todo mundo quer conforto, ainda mais sem precisar sair de casa. E, no Rio, com a questão da violência urbana, isso é um atrativo a mais”, resume Nayara.

Há opções para todos os gostos e bolsos. Na Barra, a Tegra Incorporadora desenvolve o Claris Casa & Clube em parceria com a Carvalho Hosken. São 99 residências de quatro andares, três ou quatro suítes, com 318 a 580 metros quadrados. Uma alameda vai integrar as unidades, com paisagismo e áreas de descanso. O clube do condomínio terá deque molhado, piscina de 25 metros, quadra de areia, churrasqueira gourmet e varanda de festas.

No mesmo bairro, o Arte Wave Surf Residences, da Construtora Calper, ficará dentro do Cidade Arte, bairro planejado com oito residenciais e 90 mil metros quadrados de lazer, incluindo ciclovia, pet park, pistas de skate, patins e corrida, sete quadras de tênis de saibro e seis de areia, oito poliesportivas e quatro campos de futebol. O VGV é de R$ 600 milhões.

A grande estrela do Arte Wave será a piscina de ondas para a prática do surfe. “Não é uma praia artificial, mas um equipamento inclusivo, para ensinar as pessoas a surfar e encorajá-las a ir para o mar depois”, explica Ricardo Rinauro, CEO e fundador da Calper.


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