Escassez de mão de obra na construção civil
em Mundo RH, 17/setembro
Pesquisas apontam falta de profissionais qualificados no Brasil e no mundo; veja os impactos e onde recrutar talentos para o setor da construção civil.
A falta de mão de obra qualificada voltou ao centro do debate no setor da construção civil no Brasil e no mundo. No país, entidades da indústria e do governo reconhecem o problema e articulam ações de qualificação. No exterior, pesquisas apontam déficits expressivos para atender demandas de moradia, infraestrutura e metas de transição energética.
O cenário no Brasil
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) registra que a “falta ou alto custo do trabalhador” aparece entre os principais entraves para as empresas da construção, segundo a Sondagem Indústria da Construção de julho de 2024. No levantamento, 24,7% dos industriais citaram dificuldade em contratar, mesmo para posições menos complexas. (Agência de Notícias CNI)
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também levou a escassez de mão de obra qualificada como tema central de sua Reunião Nacional da Construção Industrial, em março de 2025, refletindo a pressão sobre produtividade e prazos em canteiros e projetos de retrofit. (CBIC)
Do lado do governo, o Ministério do Trabalho e Emprego e a CBIC discutem, desde janeiro de 2025, um pacote de qualificação em parceria com o SENAI para repor e atualizar o quadro de trabalhadores. A idade média já chega a 42 anos, o que acende alerta para reposição e formação de novos profissionais. (Serviços e Informações do Brasil)
Apesar do crescimento estimado de 4,1% do setor em 2024, a CBIC projeta desafios de ritmo e capacidade para 2025, reforçando a urgência de qualificação e retenção. (CBIC)
A fotografia internacional
Relatórios globais reforçam que a construção civil está entre os setores mais pressionados pela escassez de trabalhadores. O McKinsey Global Institute aponta que, em mercados avançados, a demanda por mão de obra cresceu mais rápido do que a capacidade de atrair profissionais. (McKinsey & Company)
No Reino Unido, a CITB projeta a necessidade de +251.500 trabalhadores até 2028 para cumprir a carteira de obras prevista. Pesquisas setoriais e dados oficiais já registram dificuldades crescentes de recrutamento e alta de vagas em engenharia civil. (CITB + Reuters)
Nos Estados Unidos, o Home Builders Institute (HBI) e a NAHB relatam déficit de profissionais qualificados que encarece custos, alonga prazos e agrava o déficit habitacional — com impacto direto na oferta de moradias e na economia. (HBI + Anec casas)
Já a OCDE mapeia a escassez de habilidades como fenômeno transversal, com a construção entre os setores mais expostos. Para a organização, a resposta deve incluir formação, requalificação e políticas migratórias. (OECD)
Por que falta gente qualificada?
- Envelhecimento e reposição lenta de operários e técnicos, com menor entrada de aprendizes e alta evasão em programas de formação. (Serviços e Informações do Brasil)
- Baixa produtividade histórica e canteiros pouco digitalizados, o que pressiona custos e prazos e exige novas competências (como BIM, industrialização e pré-fabricação). (McKinsey & Company)
- Ciclos de demanda que elevam a competição por profissionais em ondas, dificultando o planejamento de longo prazo. (McKinsey & Company)
O que as empresas podem fazer agora
- Calibrar salários, benefícios e trilhas de carreira para funções críticas (encarregados, carpinteiros, armadores, eletricistas, mestres de obras, técnicos em edificações).
- Acelerar parcerias de qualificação com SENAI, escolas técnicas e universidades locais, inclusive patrocinando turmas “sob medida” para demandas específicas. (Serviços e Informações do Brasil)
- Profissionalizar o recrutamento com múltiplos canais e métricas de tempo de preenchimento por especialidade.
- Digitalizar o canteiro com BIM, checklists de segurança e gestão de obras, ganhando produtividade e tornando as vagas mais atrativas. (McKinsey & Company)
Onde recrutar profissionais de construção civil no Brasil
- Vagas.com — páginas específicas para construção civil e engenharias, com bom alcance nacional.
- Catho — forte presença em engenharia civil, obras e gestão; conta com app e vitrine para empresas.
- InfoJobs — grande volume de vagas operacionais e técnicas (pedreiro, carpinteiro, técnico de edificações, orçamentista).
- Indeed — ampla base e busca por palavras-chave (BIM, NR-35, leitura de projetos, acabamento).
- LinkedIn — essencial para engenheiros, coordenadores e gestores; permite anúncios segmentados por certificações.
- SINE — forte capilaridade regional em funções operacionais, especialmente em capitais.
Dicas rápidas para aumentar a conversão de vagas
- Descrever competências objetivas: leitura de projetos, experiência com alvenaria estrutural, drywall, instalações prediais e normas NR-10/NR-35.
- Mostrar jornada e pacote: turno, alojamento, VR, bônus por produtividade e segurança.
- Incluir trilhas de formação: custear cursos rápidos (SENAI) e plano de carreira por obra.
- Reduzir o tempo de resposta: entrevistas ágeis e propostas em até 48 horas após a etapa final.
- Campanhas locais: combinar plataformas digitais com feirões de emprego e convênios com sindicatos.
A visão da liderança
Márcio José de Oliveira, sócio e diretor executivo da Nely Rodrigues Construções e Vital Brasil Engenharia, com 28 anos de atuação no setor, afirma que, apesar da reputação da empresa, o gargalo de mão de obra é um dos maiores entraves.
“Não se trata de falta de demanda. Pelo contrário, a procura por obras é constante e robusta. O verdadeiro gargalo é a carência de profissionais, tanto qualificados quanto não qualificados”, aponta.
Segundo Oliveira, a empresa já utiliza plataformas digitais, mas elas funcionam muitas vezes como “bancos de dados estáticos”. A busca, então, se expande para redes sociais, grupos de WhatsApp e até o boca a boca em padarias e lojas de material de construção.
Ele aposta no futuro: a Inteligência Artificial. “Visualizamos um sistema inteligente capaz de mapear o perfil completo de cada profissional e apresentar a eles um verdadeiro cardápio de oportunidades. O trabalhador teria autonomia para escolher a obra mais alinhada às suas expectativas e competências. Isso poderia inverter a lógica atual e aumentar o engajamento”, projeta.
Para Márcio Oliveira, essa revolução seria a chave para superar a escassez e elevar a qualidade dos projetos: “Teríamos profissionais mais motivados e alocados em funções ideais. A inteligência artificial pode ser a ferramenta que ajudará a conectar talentos às obras de forma justa e eficiente.”
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