Apê de grife: como as marcas de luxo invadiram o mercado imobiliário

em Valor Econômico / Pipeline, 12/maio

Lamborghini, Porsche, Bentley e até Senna emprestam nome e aceleram vendas de residenciais.

No campeonato mundial das residências de marca, o Brasil vem se destacando como um dos circuitos mais relevantes para empreendimentos que incorporam identidades ligadas a design, moda ou estilo de vida — como Pininfarina, Bentley, Porsche, Armani, Versace, Fasano e Dolce & Gabbana.

A associação com marcas de luxo de fora do setor imobiliário – que começou em Miami e Dubai, e primeiro para design de interiores – tem efeito comprovado na demanda, garantem os incorporadores. A valorização é de até 30% em relação a um apartamento similar sem a etiqueta – e faz diferença também na velocidade de vendas. Um lançamento recente associado a carros de luxo vendeu todas unidades em três horas, conta o CEO da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Araújo.

“Luxo tem muito a ver com escassez. É preciso fazer produtos verdadeiramente únicos, irreplicáveis, como o carro de modelo único, que vai ter uma disputa à parte e a chance de conseguir uma margem melhor do que a média”, compara o vice-presidente de negócios da Gafisa, Luis Fernando Ortiz. Para manter a raridade, a regra é a grife não ter mais de um endereço na mesma cidade ou região.

A incorporadora deve concluir no fim do ano as obras do Tonino Lamborghini, nos Jardins, com tíquete médio de R$ 10 milhões para as unidades, de 252 m². A cobertura, dúplex, foi a primeira a ser vendida. “Trazer uma marca não é só uma estampa para colocar na frente do prédio, mas trazer tudo que ela representa para o projeto, e quem for morar lá entender que aquele empréstimo te trouxe algo a mais.”

A iniciativa pode ser tanto da incorporadora quanto das grifes – algumas já têm departamentos ou subsidiárias específicas para a finalidade –, que precisam aprovar as campanhas e até os tapumes. O acerto financeiro dos royalties para a marca pode ser tanto por valor fixo – com risco maior para a desenvolvedora do projeto – quanto em percentual da venda, ou um mix dos dois. As partes não abrem as cifras envolvidas, mas o mercado trabalha com percentuais de até 5% do VGV.

No caso do Senna Tower – lançado oficialmente no último fim de semana em Balneário Camboriú –, a ideia partiu da família do piloto, com quem a FG Empreendimentos começou a negociar em 2019. Em vez do luxo, que não é exatamente a associação da marca, o projeto busca se destacar por valores como superação, inspirado na “jornada do herói” do piloto, segundo a artista plástica Lalalli Senna, sobrinha de Ayrton que assina o conceito.

Os números do futuro arranha-céu de 550 metros – que deverá ser o maior do país e um dos 10 maiores do mundo considerando os que já foram concluídos até hoje – são superlativos: um VGV de R$ 8,5 bi (com R$ 1,3 bilhão vendidos antes do lançamento) e unidades de 400 m² que começam em R$ 28 milhões a mansões suspensas de 563 m² a partir de R$ 60 milhões com elevador panorâmico para o carro até a porta de casa. As duas coberturas tríplex de 900 m² devem ser precificadas em leilão da Sotheby’s.

“Senna transformou a história do Brasil no mundo. Queremos que as pessoas venham a Balneário Camboriú conhecer o Senna Tower”, diz Jean Graciola, CEO da FG, destacando que boa parte do lazer – como os 10 restaurantes, 20 simuladores de Fórmula 1 e a pista de kart elétrico no entorno – será aberta a não moradores.

Para caracterizar o projeto, o elevador será Senninha – deve fazer o trajeto até a cobertura em menos de um minuto, com a velocidade de 10 metros por segundo (36 km/h). A incorporadora já está em conversas para dois novos “branded residences” em BC com duas marcas de luxo.


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