Projeto de edifício de luxo no terreno da casa destombada da Lagoa prevê unidades de R$ 36 milhões

em Diário do Rio, 8/setembro

No terreno da última mansão de pedra destombada pelo STF, o L’Unique Lagoa chega a ser mais de 170% mais caro que a média de Ipanema.

O projeto do novo empreendimento de luxo que pode ser erguido no terreno da última mansão de pedra da Lagoa Rodrigo de Freitas, recém-destombada pelo Supremo Tribunal Federal, já tem seus valores definidos. Batizado de L’Unique Lagoa, o edifício projeta apartamentos a partir de R$ 20,4 milhões, enquanto a cobertura duplex custará a partir de R$ 36 milhões, segundo anúncios de sites especializados em lançamentos na internet. A notícia de demolição da casa foi revelada em primeira mão pelo DIÁRIO DO RIO, no início de agosto.

Com valor aproximado de R$ 60 mil por metro quadrado, o empreendimento pode ser 170% mais caro que a média de Ipanema, hoje em torno de R$ 22 mil por m² (segundo mais valorizado do Rio). Seria o lançamento mais caro da Lagoa nos últimos anos, preço que se iguala às transações da Delfim Moreira (Leblon), considerado perímetro mais caro da América Latina.

Assinado pelo arquiteto Paulo Guimarães, o projeto conta com um edifício construído em dois terrenos — o da casa destombada e o lote vizinho onde funcionou o restaurante Chico’s Bar, demolido há alguns anos. Seriam apenas 12 apartamentos, dois por andar, cada um com 340 m², além da cobertura duplex de 600 m².

A recepção terá referências históricas, como um painel inspirado na antiga Fábrica Bangu, que marcou a trajetória da família Haddad, proprietária do terreno e até hoje dona do conjunto de prédios centenários onde funciona o Bangu Shopping. O projeto ainda conta com áreas comuns de alto padrão e térreo voltado para a rua, em linha com os novos conceitos de moradia. A fachada terá elementos que remetem a Lagoa, como a rede de pescador, o remo, o Cristo Redentor, e os 2 Irmãos.

Fontes do mercado informam que, apesar de amplamente divulgada, a venda do terreno ainda não aconteceu.

A disputa pela casa

A mansão da Avenida Epitácio Pessoa foi construída entre o fim da década de 30, quando a Lagoa começava a ser urbanizada. Tombada em 2002 por decreto do então prefeito César Maia, acabou no centro de uma disputa judicial que durou 18 anos. Na época, outras oito construções baixas no entorno do espelho d’água da Lagoa também foram protegidas. Nessa relação de 2002, constavam, por exemplo, a Casa Museu Eva Klabin e a Pequena Cruzada.

Os herdeiros recorreram, apresentando laudos que apontavam a falta de relevância arquitetônica do imóvel. Com a decisão do STF, o processo retornou à Justiça do Rio e os advogados da família protocolaram uma intimação contra a Prefeitura para que o imóvel seja retirado da lista de bens tombados do IRPH.

Quem é a família Haddad

A família Haddad ganhou projeção no início dos anos 1990, quando Ricardo Haddad comprou a Fábrica de Tecidos Bangu e todo o espólio da família Silveira (antigos donos da companhia), que incluía mais de 200 casas em bairros da Zona Oeste como Bangu, Padre Miguel, Realengo, Senador Camará e Magalhães Bastos. Anos depois, o proprietário tentou vender a antiga mansão do Dr. Silveirinha: primeiro a um supermercado e depois a uma igreja. Para viabilizar os projetos, seria preciso derrubar árvores centenárias, mas uma denúncia do movimento Casa do Dr. Silveirinha ao Ministério do Meio Ambiente acabou travando o processo.

Haddad administrou a fábrica até 2004, quando o negócio faliu, mas seguiu dono do imóvel, hoje alugado para a Allos (antiga Aliansce), administradora responsável pelo shopping. A família ainda mantém propriedades ligadas ao setor têxtil em Petrópolis.


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