Restaurados, prédios centenários do Rio reescrevem a história

Joseph Gire é o nome por trás dos projetos arquitetônicos de dois prédios centenários da cidade: o Hotel Glória e o Edifício A Noite. O arquiteto francês, falecido em 1933 (que também projetou o Copacabana Palace), anda em alta no mercado imobiliário carioca: os retrofits do hotel na Glória e do prédio na Praça Mauá, dois cases de sucesso, deixam claro que o público valoriza a revitalização de antigos imóveis para preservar a história da cidade. O programa Reviver Centro, de 2022, é um dos principais motores desse processo.

Inaugurado em 15 de agosto de 1922, o Hotel Glória teve uma trajetória de grande prestígio, hospedando personalidades ilustres, como o cientista Albert Einstein e a atriz Marilyn Monroe. Em estilo neoclássico, é considerado o primeiro prédio em concreto armado da América do Sul. Em 2008, após 86 anos de atividade e 50 anos como propriedade da família de Eduardo Tapajós, o imóvel foi vendido por R$ 80 milhões ao Grupo EBX, do empresário Eike Batista, que pretendia transformá-lo no primeiro hotel seis estrelas do Brasil. O projeto foi abandonado em 2013.

Em 2020, o Opportunity FII comprou o prédio e, dois anos depois, deu início à sua recuperação estrutural, em parceria com a Sig Engenharia, para transformá-lo em um residencial de alto padrão. Cogestor do Fundo, Marcelo Naidich ressalta que a restauração de construções históricas, além de contribuir para valorizar o entorno, ajuda a população do bairro e os futuros moradores a se reconectarem com a cidade.

— As pessoas adquiriram um imóvel no prédio exatamente por causa dessa conexão com o passado e da forte sensação de pertencimento. Eles desejam morar no Glória pela importância do prédio. Restaurar uma construção centenária é preservar um pedaço importante da história.

Escola de Chicago

A opinião de Naidich é partilhada por José de Albuquerque, CEO da Azo Incorporadora, responsável pelo retrofit do Edifício A Noite, o primeiro arranha-céu da América Latina, com 24 andares. O projeto em estilo art déco, que leva também a assinatura do arquiteto brasileiro Elisário Bahiana, tem fortes elementos construtivos da Escola de Chicago e foi sede do jornal vespertino A Noite e da Rádio Nacional.

Para Albuquerque, o retrofit devolve um espaço importante da história que estava se perdendo sem a devida manutenção e traz condições modernas de segurança, como sistema de combate a incêndios, e novas estruturas e instalações de água e esgoto, da parte elétrica e de ar-condicionado.

— Ao trazer vida nova para um prédio centenário, buscamos garantir que ele continue a desempenhar seu papel de simbolismo e memória para a sociedade, dentro do contexto contemporâneo em que se insere — observa.

A Piimo Empreendimentos Imobiliários também se curvou à onda de recuperação de prédios históricos em dois projetos no Flamengo. No Residencial Paissandu, um casarão centenário foi restaurado para abrigar a área de lazer do complexo, que inclui um prédio novo de 80 apartamentos; e, no Paysandu 23,recuperou o antigo hotel de mesmo nome, cuja documentação remonta aos anos 1920. A restauração incluiu a transformação das luminárias em uma escultura para o hall, o aproveitamento de janelas e dormentes e a manutenção da fachada — um trabalho em parceria com a área de Patrimônio da cidade.

— O Rio de Janeiro tem muitos prédios históricos deteriorados, que não contribuem para a beleza urbana. Quando são retrofitados, eles devolvem um movimento para a região e geram novos impostos. Os clientes valorizam muito a possibilidade única de morar em um edifício histórico — afirma o diretor-presidente da Piimo, Marcos Saceanu.