Reviver Zona Norte é criado e começa por quatro bairros; cerca de 45 mil moradores devem ser atraídos para a região, diz secretário

em O Globo, 3/outubro

Anunciada após O GLOBO mostrar esvaziamento do Subúrbio da Leopoldina, iniciativa foi oficializada no Diário Oficial desta sexta-feira.

Está criado oficialmente o programa Reviver Zona Norte, conforme publicado no Diário Oficial do município do Rio nesta sexta-feira. A iniciativa, anunciada em meados de setembro após O GLOBO mostrar o esvaziamento dos bairros do Subúrbio da Leopoldina, que perdeu um quinto da população entre 2010 e 2022, prevê melhorias urbanas e viárias, além da desapropriação de imóveis ociosos. A expectativa é que entre 10 e 15 mil mil unidades residenciais sejam criadas, o que pode levar cerca de 45 mil moradores para a região, segundo o secretário municipal de municipal de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento (SMDU), Gustavo Guerrante.

— Nessa primeira fase serão contemplados os bairros de Manguinhos, Bonsucesso, Ramos e Olaria , mais próximos ao Centro. E, futuramente, toda a Zona Norte — afirmou.

Segundo ele, as intervenções serão de grande porte — não há interesse em terrenos que só comportariam um edifício. O objetivo é construir condomínios para o caráter de reocupação da Zona Norte, conforme o que aconteceu na Zona Portuária da cidade, por exemplo. As construções serão voltadas para que os moradores tenham uma sensação de aconchego:

— Não queremos muros altos. E, sim, jardins, áreas de convívio.

Guerrante destacou é que a ideia é enquadrar a iniciativa no Minha Casa Minha Vida.

Diretrizes

O decreto, assinado pelo prefeito Eduardo Paes, detalha as diretrizes do programa, de requalificação de calçadas, vias e praças, e reestruturação do sistema viário; implantação de mobiliário urbano, além de iluminação pública e sinalização; assim como criação de áreas verdes e de lazer.

A infraestrutura de drenagem e saneamento também será melhorada. Entre as ações previstas estão o plantio de árvores às margens do corredor do BRT, já que a região é cortada pela Transcarioca e pela Transbrasil.

Imóveis ociosos, subutilizados e não utilizados poderão ser desapropriados por hasta pública (que funciona como um leilão, que substitui imóveis abandonados por novos empreendimentos), conforme autorização mencionada no decreto. Quem arrematar esses locais fica obrigado a arcar com todos os custos e valores de indenização, além de realizar intervenções estruturais e arquitetônicas. Espaços no entorno da Avenida Brasil se beneficiarão da chamada Zona Franca Urbanística, que prevê parâmetros diferenciados e incentiva o maior aproveitamento dos terrenos na região.

Estão previstas ainda consultas públicas, realizadas pela SMDU, que busca melhorar a qualidade de vida dos moradores e frequentadores dos bairros. Parcerias público-privadas (PPPs) devem ser firmadas para a realização das intervenções.

O programa será feito nos mesmos moldes do Reviver Centro, sancionado em 2021, que trouxe incentivos fiscais e edílicos (de edificações), além de permissões para novos usos de imóveis, como o retrofit de prédios comerciais ociosos.

Zona fantasma

Em 14 de setembro, O GLOBO mostrou uma redução drástica de moradores no Subúrbio da Leopoldina, área de treze bairros, como Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila da Penha e Brás de Pina. A explicação vem justamente do esquecimento do poder público e o estímulo dado a viver na nova Zona Sudoeste.

Trechos de ruas importantes têm vários imóveis fechados e faixas de vende-se desgastadas pela demora em fazer negócio, conforme mostrou a reportagem. O antigo Cine Rosário, depois transformado em Cine Ramos, desativado desde 1992, transformou-se num edifício fechado, com paredes pichadas e parte do telhado lateral desabando.

Outros exemplos de abandono são o antigo Rio Palace, na Rua Cardoso de Morais — considerado o maior cinema da América Latina na época de sua inauguração, em 1962, com seus três mil lugares — e o antigo Cine Santa Helena, que virou Cine Olaria, com fachadas tombadas, hoje sem cobertura e com uma montanha de entulho, na Rua Uranos.

Após a publicação, Paes anunciou naquele mesmo dia a criação do Reviver Zona Norte. As ações, segundo informou o prefeito na ocasião, serão a reurbanização da Avenida Paris; a criação de polos tecnológicos nos complexos do Alemão e da Maré, assim como em Bonsucesso; e a reurbanização ao longo da linha férrea.


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