Construção deve precisar de 1,4 milhão de profissionais qualificados até 2027. Veja onde estudar

A indústria brasileira demanda a qualificação de cerca de 14 milhões de profissionais entre 2025 e 2027, segundo o Mapa do Trabalho Industrial, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O número abrange a necessidade de formação de 2,2 milhões de novos profissionais e de requalificação de 11,8 milhões que já estão no mercado, mas precisam atualizar competências técnicas e socioemocionais. Num ranking, a construção civil é a segunda área com a maior demanda por formação, 10% do total, ou seja, 1,4 milhão de trabalhadores.

— A construção teve um crescimento, em 2024, de 4,3% no PIB (soma das riquezas do país). E a expectativa para 2025 é da ordem de 2,5%. Reduzimos, mas continuamos crescendo. E a questão da mão de obra é crítica, pois hoje vivemos uma escassez de mão de obra no setor — expõe Marcelo Kaiuca, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Os desafios de contratação e qualificação de mão de obra para o setor de construção, portanto, serão tema de destaque do Rio Construção Summit 2025. O evento reunirá mais de 200 especialistas no Píer Mauá, no Centro da cidade, entre os dias 24 a 26 deste mês. O EXTRA, por sua vez, lista onde os trabalhadores e os interessados em iniciar na área podem buscar formação, muitas vezes gratuita.

— No Estado do Rio, a projeção de demanda por novos profissionais da construção é de 103.200 no mesmo período, com oportunidade de atuação com máquinas, terraplanagem, como ajudante de obras civis, como trabalhadores estruturais de alvenaria e fundações — diz Marcelo Kaiuca.

Qualificação valoriza trabalho

A construção civil ainda tem, muitas vezes, gente aprendendo funções nos próprios canteiros de obras. A diretora de Formação Inicial e Continuada da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), Ana Paula Pillar, porém, destaca a relevância de buscar qualificação formal para melhorar o currículo.

— O profissional aprende técnica, segurança, novas ferramentas e processos atualizados, o que faz diferença na qualidade do trabalho. Mesmo para funções nas quais a procura ainda é menor, como pedreiro de alvenaria, aplicador de revestimento cerâmico e carpinteiro de obras, a qualificação aumenta as oportunidades no mercado e valoriza a mão de obra — afirma.

Rafael Vieira, de 37 anos, começou a fazer bicos como servente em obras aos 18, sem nenhum curso anterior. Mas, ao longo dos anos, procurou aulas que ampliassem suas habilidades.

— Fui descobrindo nas obras que existiam outras funções, pedindo oportunidades de prática e fazendo cursos ao mesmo tempo. Hoje, sou meio oficial de elétrica em uma empresa e faço o curso de Eletricista de Obras no Senai, para conseguir a classificação de eletricista na carteira de trabalho. O mercado está esquentando de novo para as áreas de construção civil e elétrica, e quero continuar crescendo no setor. Meu foco é entrar na faculdade de Engenharia de Energias Renováveis na Uerj no ano que vem — diz ele.

‘É garantia para empresas e trabalhadores’

Leia depoimento de Aluísio Mendes Filho, presidente do Seconci-Rio:

A mão de obra tem que ser qualificada, tanto por exigências legais quanto por questões de segurança e capacitação. Isso é garantia para as empresas e os trabalhadores. A mão de obra é valorizada justamente pelas exigências e pelas qualificações necessárias.

‘A gente trabalha ser proativo’

Leia depoimento de Kátia Cerqueira, estudante de Edificações na Faetec, de 18 anos:

Meu pai e minha mãe sempre gostaram de mexer na casa. Ele era mecânico e ela é dona de casa. Mas, mesmo sem formação para isso, ela tinha uma ideia e ele transformava o guarda-roupa em bancada, por exemplo. E minha irmã é crocheteira, grafiteira, é da arte. Quando meu pai faleceu, pra mim, foi um sacode, no sentido de que eu tinha que decidir o que fazer. Estava no nono ano do ensino fundamental e tive o estalo de que sempre gostei de desenhar partes da casa. Então fui fazer Edificações. Estou no terceiro ano e comecei a procurar estágio agora.

Na escola técnica, tive no primeiro e no segundo ano uma disciplina chamada ‘Psicologia das Relações Humanas’. Nessa matéria, a gente trabalha a sociabilidade, saber ser proativo, agir em grupo. É uma coisa que eu percebo que é importante, e nas outras escolas não têm.

‘Fiz minha casinha em Austin’

Leia depoimento de Rafael Vieira, meia oficial de Elétrica, de 37 anos:

Comecei a fazer serviços em construções para contribuir nas contas da família. Hoje, eu moro no quintal dos meus pais, em Austin, Nova Iguaçu, mas fiz minha casinha. E, aliás, fiz toda a parte elétrica dela. A maioria das coisas que eu consegui na vida foi por trabalhar na construção.

’Atividade e número de empregados continuam avançando’

Leia depoimento de Rafael, Silva e Sousa, gerente de Estudos e Prospectiva Industrial do Observatório Nacional da Indústria

O setor da construção civil segue em destaque no cenário econômico brasileiro em 2025. Em 2024, apresentou um expressivo crescimento de 4,3% no PIB, puxado pelo maior dinamismo da economia, aumento do emprego e pelo fortalecimento de programas como o Minha Casa, Minha Vida. Com esses resultados, a construção civil consolidou-se como o terceiro setor em maior crescimento do PIB nacional. Neste ano de 2025, o setor continua registrando expansão, embora em ritmo mais moderado. Sondagens recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que tanto o nível de atividade quanto o número de empregados continuam apresentando avanços. O cenário favorável está relacionado à continuidade dos investimentos e à demanda habitacional elevada.

Por outro lado, desafios importantes persistem, como as altas taxas de juros e as dificuldades no acesso ao crédito, que continuam impactando os investimentos no setor.

Onde estudar

Firjan Senai

Programou para este ano a oferta de dez mil vagas gratuitas em 40 cursos voltados ao setor da construção civil. Todos têm como requisito a idade mínima de 18 anos. Os de aprendizagem e qualificação profissional pedem ao menos o 6º ano do ensino fundamental no currículo, enquanto os de nível técnico exigem ao menos o 2º ano do ensino médio. No Estado do Rio, há 692 vagas em cursos gratuitos de qualificação, com início entre setembro e dezembro. Alguns exemplos são: Instalador de Sistemas Drywall, Pintor de Edificações, Pedreiro de Alvenaria de Vedação. Considerando áreas correlacionadas, como Eletricidade e Energias Renováveis, são mais 330 vagas também gratuitas, para cursos de qualificação com inscrições abertas e início previsto até novembro.

Faetec

Oferece, a cada semestre, mais de três mil vagas em cursos gratuitos de qualificação em diversas áreas, como: Eletricista, Pintor, Serralheiro, Soldador, Pedreiro, Aplicador de Revestimentos, Instalador de Sistemas de Energia Solar Fotovoltaica. Já os cursos técnicos terão novas vagas a partir de outubro, com destaque para a área de Edificações. Todas as vagas oferecidas são divulgadas no Instagram @refefaetec e no site www.faetec.rj.gov.br.

SMTE

A Secretaria municipal do Trabalho, em parceria com o Senai-RJ, vai oferecer, em breve, 1.048 vagas em cursos gratuitos na área da construção civil, como Pedreiro de Alvenaria Estrutural, Carpinteiro de Obras, Caldeireiro, Instalador de Sistemas Drywall e Pintor de Edificações. As datas das inscrições ainda não foram divulgadas, e os interessados devem ficar de olho no site https://trabalho.prefeitura.rio e no Instagram @trabalho.rio. Os pré-requisitos para participar dos cursos variam, mas é preciso ter no mínimo 16 anos e o 5º ano do ensino fundamental. Com carga horária entre 180 e 540 horas, serão realizados de forma presencial em unidades do Senai na cidade.

Obramax

Está com vagas abertas para os cursos gratuitos da Academia de Profissionais, que têm como objetivo capacitar trabalhadores da construção civil para que executem serviços com mais qualidade, segurança e eficiência. As aulas presenciais acontecem aos sábados nas lojas localizadas nos bairros de Benfica, Jacarepaguá e Guadalupe, na capital carioca, além de Duque de Caxias e Mesquita, na Baixada Fluminense.

Há turmas reservadas a mulheres. As inscrições acontecem no site https://academiadeprofissionais.obramax.com.br/. Além disso, há capacitações virtuais, que ocorrem às quartas-feiras, das 18h às 19h.

Seconci-Rio

O Serviço Social da Indústria da Construção realiza a captação de interessados em cursos gratuitos de qualificação e encaminha os candidatos para o Senai. Mas também promove treinamentos normativos, que custam de R$ 30 a R$ 700, para orientar os trabalhadores sobre as regras de segurança e saúde no trabalho, como a NR-5 CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e a NR-23 (Proteção contra Incêndios). As aulas acontecem na sede, na Praça da Bandeira. Trabalhadores de construtoras clientes do Seconci-Rio têm preço mais acessível. As inscrições são feitas pelo (21) 2101-2555.

G+P Lab

A partir de janeiro de 2026, o laboratório de inovação da G+P Soluções terá cursos pagos e gratuitos para engenheiros e arquitetos com os seguintes temas: orçamento para construção civil, gerenciamento de obra, finanças pessoais, planejamento de obra, gestão de projetos e apresentação e gerenciamento de carreira. Serão aulas EAD, além de presenciais, que acontecerão na sede da G+P, na Barra da Tijuca. As inscrições poderão ser feitas pelo site gmaisp.com.br.

Uniphacz

A plataforma digital da Phacz Empreendimentos é voltada à qualificação gratuita de profissionais do setor imobiliário em todo o Brasil, com registro ativo no Creci. Os cursos, com duração de duas a seis semanas, focam em vendas, negociação, oratória, marketing pessoal (personal branding), bem-estar físico e mental, além de conteúdos de desenvolvimento técnico aplicados ao setor imobiliário. As inscrições são feitas pelo próprio aplicativo Uniphacz.

Tenda

Abre, periodicamente, processo seletivo para a contratação de imigrantes que desejam ter uma formação para trabalhar na Construção Civil. Os interessados podem se inscrever no site www.tenda.com, LinkedIn, e-mail trabalheconosco@tenda.com ou Whatsapp 21 96994362. É desejável ter ensino fundamental e habilidade para manusear materiais e ferramentas. Após o processo seletivo, os aprendizes iniciam formação técnica necessária para atuar no canteiro de obras, com ênfase em atividades de Estrutura, como montagem de forma, armação, embutidos e arremates.