Famílias de baixa renda no RJ comprometem até 65% do orçamento com aluguel, aponta estudo
em G1 / Rio de Janeiro, 14/setembro
Levantamento encomendado pela plataforma de locação de imóveis QuintoAndar mostra que o peso do aluguel sobre a renda é maior no Rio de Janeiro do que na média nacional, especialmente entre os mais pobres.
Famílias de baixa renda no Rio de Janeiro destinam mais da metade de seus ganhos ao pagamento de aluguel. Segundo estudo do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da UFMG, os gastos com locação de moradia chega a 65% da renda mensal familiar para quem ganha até R$ 1,9 mil.
O levantamento encomendado pela plataforma de locação de imóveis QuintoAndar, revelou que o impacto do aluguel nas contas dos mais pobres do Rio de Janeiro é o mais alto entre todas as unidades federativas analisadas pelos pesquisadores.
O levantamento utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, e estimou os impactos do mercado de locação sobre a renda das famílias.
"Na faixa de renda até R$ 1,9 mil, 65% da renda total é destinada ao aluguel, o valor mais alto de todas as UFs analisadas, o que pode refletir a pressão do mercado imobiliário e o alto custo de vida nas áreas metropolitanas. Esse percentual diminui à medida que a renda cresce, mas permanece relativamente alto", analisou o pesquisador da UFMG.
Gasto maior que a média nacional
O estudo também mostrou que o comprometimento da renda com aluguel no Rio de Janeiro é superior à média nacional em todas as faixas de renda.
Na base da pirâmide, famílias que ganham até R$ 1,9 mil destinam 65% da renda ao aluguel, enquanto a média nacional é de 48%. Na faixa seguinte, entre R$ 1,9 mil e R$ 2,8 mil, o percentual no Rio é de 29%, contra 22,9% no Brasil.
Renda familiar até R$ 1.908 | Renda familiar de R$ 1.908 a R$ 2.862 | Renda familiar de R$ 2.862 a R$ 5.724 | Renda familiar de R$ 5.724 a R$ 9.540 | Renda familiar de R$ 9.540 a R$ 14.310 | Renda familiar de R$ 14.310 a R$ 23.850 | Renda familiar de mais de R$ 23.850 | Todas as famílias | ||
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RJ | 65,1% | 29% | 18,6% | 15,5% | 13,3% | 10,5% | 7,2% | 33% | |
MG | 36,2% | 20,5% | 14,9% | 10,3% | 9% | 6,3% | 4,7% | 20,7% | |
SP | 44,3% | 28,9% | 18,3% | 14,8% | 11,8% | 11,4% | 11,5% | 24,1% | |
RS | 45,4% | 21,7% | 14,9% | 10,5% | 8,5% | 6,5% | 5,2% | 20,6% | |
Brasil | 48,1% | 22,9% | 16,1% | 12,5% | 10,4% | 8,9% | 7,6% | 25,8% |
Fonte: POF, 2018, elaboração QuintoAndar e Cedeplar/UFMG
Mesmo entre famílias com renda entre R$ 5,7 mil e R$ 9,5 mil, o peso do aluguel no Rio é de 15%, acima da média nacional de 12%.
Já entre os mais ricos, com renda superior a R$ 23,8 mil, o comprometimento cai para 7,2%, mas ainda é significativo, considerando o volume absoluto de recursos envolvidos.
Esses dados revelam que, embora o peso relativo do aluguel diminua com o aumento da renda, ele permanece elevado em todas as faixas, indicando uma pressão constante sobre o orçamento familiar.
Morador da Rocinha, na Zona Sul do Rio, o entregador Lucas de Souza, de 25 anos, mora com a avó aposentada. Juntos, os dois recebem cerca de R$ 3,1 mil por mês e gastam R$ 900 com aluguel de um pequeno apartamento de dois cômodos.
O valor representa 29% da renda familiar, o que deixa pouco espaço para despesas básicas como alimentação, transporte e contas de luz e água.
Na Zona Norte, o comerciante Carlos Henrique Almeida, 35 anos, divide um apartamento com a esposa em Vila Isabel. O casal tem renda conjunta de R$ 7,2 mil, mas paga R$ 2 mil de aluguel, o equivalente a 28% dos rendimentos da casa.
"Mesmo com um salário razoável, a sensação é de estar sempre no limite. Pagar aluguel no Rio significa adiar o sonho da casa própria", afirmou Carlos.
Comparação entre estados
Além do percentual da renda comprometida, o valor absoluto do aluguel também é mais alto no Rio de Janeiro em diversas faixas de renda, como comprovou o estudo.
Famílias que ganham até R$ 1,9 mil pagam, em média, R$ 549,64 de aluguel — valor superior ao praticado em São Paulo (R$ 502,40), Rio Grande do Sul (R$ 548,31) e Minas Gerais (R$ 378,37).
Na faixa de renda entre R$ 2,8 mil e R$ 5,7 mil, o aluguel médio no Rio é de R$ 752,73, enquanto em São Paulo é de R$ 722,70 e em Minas Gerais, R$ 588,64.
Já entre os mais ricos, o valor médio no Rio chega a R$ 2,1 mil, ficando atrás apenas de São Paulo, que registra R$ 3,7 mil nessa faixa.
Esses números indicam que o mercado imobiliário carioca impõe custos elevados às famílias, independentemente da faixa de renda, com impacto mais severo sobre os mais vulneráveis.
Receita revela concentração de renda
O estudo também analisou a receita obtida pelas famílias com aluguel de imóveis. No Rio de Janeiro, a receita média mensal é de R$ 1,9 mil, mesmo valor da média nacional. No entanto, há uma disparidade significativa entre as faixas de renda.
Famílias com renda até R$ 1,9 mil obtêm R$ 760 mensais com aluguel, enquanto aquelas com renda acima de R$ 23,8 mil recebem, em média, R$ 4 mil — mais de cinco vezes esse valor.
Essa diferença revela uma forte concentração de renda imobiliária entre os grupos de maior poder aquisitivo.
De acordo com os pesquisadores, o padrão de crescimento da receita com aluguel é acentuado nas faixas superiores, o que reforça a desigualdade no acesso à renda gerada pelo mercado de locação.
Enquanto os mais pobres enfrentam altos custos para morar, os mais ricos lucram com a valorização dos imóveis e a demanda por habitação.
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