Jardim Botânico vive ‘boom’ imobiliário e TV Globo aproveita para liquidar imóveis na região

em Diário do Rio, 10/outubro

A procura disparou desde a pandemia, mas os números oficiais do mercado não captam esse movimento. Com poucos terrenos disponíveis, as transações acontecem em circuito restrito, sem divulgações ou anúncios no mercado.

A ideia de morar em uma casa na Zona Sul do Rio sempre foi um privilégio raro. Desde as décadas de 20 e 30, boa parte das residências cedeu espaço à verticalização. Copacabana deu o pontapé inicial, e o movimento se espalhou para Botafogo, Flamengo, Ipanema e Leblon, transformando a paisagem e valorizando ainda mais a região. Hoje, encontrar casas é quase um achado: no Leblon, o Jardim Pernambuco concentra os imóveis mais caros do mercado carioca; na Urca, a maioria das residências é tombada; e em bairros como Botafogo, Catete e Laranjeiras, predominam as simpáticas casinhas de vila, alguns dos poucos remanescentes de imóveis baixos da região.

No meio desse cenário, o Jardim Botânico vem se destacando. Cercado de verde, no sopé da Floresta da Tijuca, o bairro tem atraído cada vez mais interessados em morar em casas, em vez de apartamentos. Segundo especialistas, a procura disparou desde a pandemia, mas os números oficiais do mercado não refletem esse movimento. Com poucos terrenos disponíveis, as vendas acontecem em circuito restrito, entre projetos exclusivos e reformas de imóveis antigos, sem divulgações ou anúncios. A maioria das transações se concentra na área conhecida como Alto JB, que são as ruas localizadas na parte alta da Lopes Quintas. O perímetro funciona como uma espécie de associação, com segurança e administração própria. O acesso não é proibido, mas como acontece em outras áreas do Rio, é controlado por guaritas e cancelas, dando um certo respaldo.

Vasco Rodrigues, CEO da Fator Reality, explica que quase não há incorporações tradicionais no bairro. “Há muita procura por casas para demolir ou reformar. Quando aparece um terreno maior, capaz de abrigar um condomínio, é uma oportunidade única”, disse ao portal Metro Quadrado. A Factor Reality, em parceria com a holding BSJ, que inclui a franquia imobiliária Lopes do Rio, adquiriu o antigo terreno da TV Globo na Pacheco Leão, na região do Horto. O espaço era usado como garagem para os carros da emissora. O terreno, que ficou em desuso, dará lugar a um condomínio fechado com seis casas, estimado em R$ 60 milhões.

Para Eucílio Brito, sócio da BSJ e da franquia Lopes do Rio, o novo produto atende a um público que quer morar em casa sem abrir mão da praticidade e da segurança da Zona Sul. “Sentimos a necessidade de atender quem não quer assumir sozinho uma obra particular”, afirmou.

Essa não é a primeira vez que a emissora dos Marinhos negocia um de seus inúmeros imóveis na Zona Sul com o mercado imobiliário. Há cerca de dois anos, a empresa também liquidou sua antiga sede administrativa, ao lado do Parque Lage, também no JB, para a Performance, que planeja lançar um residencial no edifício. O projeto ainda não saiu do papel.

A valorização do Jardim Botânico não se limita ao mercado residencial. A área do Horto, por exemplo, vem se transformando em polo gastronômico. Nos últimos dois anos, bares e restaurantes abriram as portas, movimentando a região e atraindo novos moradores e visitantes. A popularização do bairro tem incomodado antigos moradores, que veem o espaço ganhar um ar cada vez mais parecido com a famosa Dias Ferreira, no Leblon.


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