Vendas no alto padrão batem recordes em SP
em Valor Econômico, 25/abril
No primeiro bimestre do ano, o volume de negócios, o tíquete médio dos imóveis e o VGV tiveram alta surpreendente, segundo a plataforma de inteligência Cidade Virtual.
Levantamento inédito e cedido com exclusividade para o Imóveis de Valor revela um crescimento significativo nas vendas do mercado imobiliário de alto padrão na capital paulista, com imóveis a partir de R$ 2 milhões, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.
No segmento de apartamentos, o volume de negócios aumentou 14,6% (486 unidades) na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o VGV total superou os R$ 2 bilhões — 15,5% superior a 2024. A venda de casas disparou 48,5% no bimestre (199 transações), com aumento de 69,7% no VGV (R$ 935,8 milhões). O tíquete médio das residências também cresceu 14,3%, chegando a R$ 4,7 milhões.
No geral, o estoque de unidades de alto padrão na cidade cresceu 4%, mas o volume de unidades vendidas explodiu 176% (113 em janeiro e 312 em fevereiro), com aumento de 116,3% no VGV nos dois primeiros meses do ano. Os dados foram gerados pela plataforma de inteligência de mercado Cidade Virtual, da agência Bossa Nova Sotheby’s, que considera os resultados divulgados por fontes como a prefeitura paulistana e o Secovi-SP.
Os indicadores positivos surpreenderam o CEO da companhia, Marcello Romero, por revelar um ajuste na percepção dos clientes de alta renda quanto à validade de posicionar investimentos no “real estate” neste momento. Segundo ele, embora os juros altos tornem outros investimentos mais vantajosos, muitos compradores estariam começando a notar a necessidade de mudar de tática.
“Quem pensava em deixar o dinheiro aplicado e adquirir um imóvel só daqui a dois anos começa a se perguntar: mas a qual custo, já que a tendência no mercado imobiliário é de seguir em alta nos preços?”, explica.
Para Romero, a nova safra de produtos deverá chegar com o preço carregado de variáveis, como o custo do terreno — que já representa 50% do empreendimento — e a escassez de mão de obra, que tem elevado o valor dos contratos de trabalho. Esperar para fechar negócio, portanto, pode não ser mais interessante.
Casas surpreendem
O executivo destacou a performance das casas nos resultados do bimestre. “Historicamente, elas representavam 20% dos negócios do alto padrão na cidade. Em 2024, chegaram a 27%. Agora, no primeiro bimestre do ano, alcançaram 33,3% do total de vendas: um recorde”, analisa.
Na lista dos dez bairros mais desejados da capital — Jardim Paulista, Europa e América, Itaim, Campo Belo, Brooklin, Moema, Vila Nova Conceição, Vila Mariana e Higienópolis —, as casas representaram quase 70% dos negócios no período. A explicação para o fenômeno deve-se à chegada dos novos residenciais horizontais e do mercado secundário: casas de terceiros adquiridas para reformas.
Esse nicho tem movimentado empreiteiras e escritórios de arquitetura especializados nesse tipo de projetos. Na MpH Engenharia, a dinâmica de obras foi invertida e, agora, os imóveis horizontais predominam na agenda de trabalho.
“Como nos endereços mais nobres não há mais terrenos disponíveis, a saída dos clientes tem sido comprar residências antigas e investir valor semelhante ou até maior para fazer a atualização de plantas e infraestrutura”, informa Alexandre Horschutz, sócio da MpH.
A arquiteta Chantal Ficarelli, do escritório Arkitito, tem a mesma percepção e cita como exemplo um projeto no Alto de Pinheiros onde o valor do imóvel foi inferior ao da obra. “O cliente pagou R$ 3,5 milhões e investiu mais R$ 4,5 milhões em uma obra que mudará completamente o imóvel”, conta.
Para Chantal, a escolha por casas, que antes era afetiva, um desejo por mais espaço, hoje tem um novo motivador. “As pessoas fazem conta e concluem que vale mais a pena comprar e reformar, em função do alto valor de uma casa nova pronta no mercado atual.”
Apartamentos têm boa performance no período
Nos bairros mais cobiçados, foram 287 unidades vendidas e alta de 12% no VGV, que chegou a R$ 1,32 bilhão nos dois primeiros meses de 2025
Um dos motores dos resultados do período na capital paulista foi o consumidor de fora: o movimento dessas pessoas representou um grande volume de negócios, nunca visto antes, segundo Marcello Romero. “E elas não compram estúdios, mas apartamentos de 120 a 200 metros quadrados para ter um apoio na cidade”, informa.
Imóveis de tamanho intermediário e na faixa entre R$ 4 milhões e R$ 6 milhões representaram o maior percentual de crescimento na comparação ano a ano. “Aqui também vale a lógica da compra para reforma, já que o custo do acabamento de um apartamento novo é alto”, explica Romero.
Nas incorporadoras, o resultado neste início de ano também tem sido comemorado. A Nortis fechou o primeiro trimestre com R$ 234 milhões em vendas líquidas, cerca de 10% acima do resultado do mesmo período no ano passado.
“Vendemos 22% do que tínhamos no estoque nesses três meses, um volume muito representativo para nós. Levando-se em conta as questões macroeconômicas do Brasil, foi uma surpresa positiva”, afirma Bruno Ghiggino, CFO da Nortis.
A companhia deve lançar R$ 2 bilhões em VGV neste ano. A maior aposta está no Tess Brooklin (VGV de R$ 376 milhões), que será levado ao mercado em maio. “São 125 unidades de 130 a 170 metros quadrados e projeto da aflalo/ gasperini arquitetos, em um bairro que tem tudo para ser a bola da vez do mercado de São Paulo”, aposta Carlos Terepins, CEO da empresa.
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