STF manda destombar última casa de pedra da Lagoa
em Diário do Rio, 15/agosto
Com um terreno de mais de mil metros quadrados, o imóvel estaria avaliado em R$ 130 milhões. Os proprietários já entraram com pedido de licença para demolir o casarão, e há boatos de possível venda para uma construtora paulistana.
Uma das últimas mansões de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas terá mesmo o destino decidido pela especulação imobiliária. Em junho, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro cancelou o tombamento municipal que protegia um imóvel clássico do início do século XX, na Avenida Epitácio Pessoa, esquina com a Rua Joana Angélica, liberando oficialmente para a demolição. A decisão partiu da 3ª Vara da Fazenda Pública da Capital, após ordem do Supremo Tribunal Federal, num processo que se arrastava desde 2007.
A residência pertence à família Haddad, a mesma que comprou os bens da antiga Fábrica Bangu. Com terreno de mais de mil metros quadrados, o imóvel estaria avaliado em R$ 130 milhões e segundo consta com propostas de construtoras interessadas no trecho mais valorizado de Ipanema, vizinho ao antigo restaurante Castelo da Lagoa, que já foi demolido. O terreno ao lado é dos mesmos donos. O lado de Ipanema é o mais valorizado da lagoa Rodrigo de Freitas, segundo Anderson Martins, diretor da Sérgio Castro Imóveis na região.
Na época do tombamento definitivo (em 2002), o decreto justificava que a casa “representa um marco referencial na paisagem da cidade e possui um grande valor afetivo para o carioca, considerando a necessidade de se adotarem medidas complementares de proteção da área de entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas”. Mas a justiça, após um laudo do perito Carlos Fernando de Andrade, entendeu que a casa já foi muito modificada e não representa um marco histórico na cidade.
O Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão municipal responsável pelo tombamento, informou ao DIÁRIO DO RIO que só tomou conhecimento do cancelamento após consulta e que ainda precisa oficializar a decisão depois da análise da procuradoria. Segundo o mapa do DataRio, o bairro tem cerca de 40 imóveis tombados; os demais, em sua maioria, já foram derrubados ou estão sob risco, impulsionados pelo boom de estúdios e pelas novas leis que aumentaram o gabarito das construções, os famosos “puxadinhos”.
Em julho, os proprietários do imóvel entraram com pedido de licença para demolir o prédio. Em agosto, a Prefeitura exigiu ajustes e documentos, como parecer do IRPH, laudo técnico SubVisa, ART/RRT do PREO e comprovantes de titularidade e situação fiscal. A autorização só será liberada após o cumprimento dessas exigências.
“Se nada for feito, a Lagoa em poucos anos terá o mesmo destino das orlas do Leblon e Copacabana, que não possuem mais casas. Lamentável esse tal de progresso arquitetônico.”, afirmou Rafael Bokor, ativista pela preservação do patrimônio.
Segundo informações do mercado, uma construtora paulista estaria para fechar o negócio que vai selar de vez o destino da velha casa de pedra da Lagoa. O diretor da Sérgio Castro fala que a estimativa do preço do metro quadrado na região, num prédio novo, pode ultrapassar os 60 mil reais, devido à linda vista da Lagoa e a proximidade da parte mais valorizada de Ipanema.
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