Cyrela investe em prédios mais altos, mas CEO nega corrida por recorde

em Valor Econômico, 28/março

O novo projeto da Cyrela, em parceria com a J. Safra Properties, terá design do estúdio italiano Pininfarina e ficará no cruzamento da av. Rebouças com rua Joaquim Antunes.

A Cyrela entrou de vez na disputa pelos prédios mais altos de São Paulo, embora o coCEO Efraim Horn negue que a incorporadora deseje “concorrer a recordes”.

A empresa, que lançou no ano passado o Vista Cyrela by Armani/Casa, edifício que ruma para se tornar o maior residencial da cidade, com 206 metros de altura, deve superá-lo em julho com outro empreendimento ainda maior, de 210 metros.

O novo projeto da Cyrela, em parceria com a J. Safra Properties, terá design do estúdio italiano Pininfarina e ficará no cruzamento da av. Rebouças com rua Joaquim Antunes, afirma Efraim Horn, coCEO da Cyrela. Ele falou com jornalistas nesta semana.

O projeto é um reflexo da mudança pela qual passa o bairro de Pinheiros, desde o último Plano Diretor paulistano, que permitiu prédios mais altos nas proximidades de vias com corredores de ônibus e metrô — a Rebouças soma as duas características. A One Innovation também tem planos para um arranha-céu na região, de 209 metros de altura.

O prédio a caminho de se tornar o mais alto da cidade é o Alto das Nações, na zona sul, um corporativo da WTorre com 219 metros de altura.

Horn afirma que os diferenciais para um projeto, em uma cidade com São Paulo, podem ser a vista ou ocupar um terreno grande. O segundo, no entanto, não existe mais na capital. O projeto na Rebouças será voltado para o Jardim América, composto por casas, o que amplifica a visão.

A vista é o maior chamariz de outro projeto da incorporadora, um prédio corporativo em construção na junção da rua Oscar Freire com a av. Doutor Arnaldo, com 126 metros e 25 andares. Mesmo sem figurar entre os mais altos da capital, ele está em uma região alta e deve ter vista limpa, em 360 graus.

A Cyrela está montando um “rooftop” no último andar, que ficará disponível para locação de eventos e será administrado por uma empresa da área, adianta Horn. A empresa também quer abri-lo a visitações de crianças atendidas pelo Instituto Cyrela.

“Se o vento vem do sul, você pode sentir o friozinho de Curitiba, se vem do leste, sente os cafés de Minas Gerais”, brinca o executivo.

A Cyrela também constrói no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, e Horn afirma que há vontade de fazer prédios mais altos nessas regiões, à medida que a legislação permitir. “Se existissem terrenos bons em Copacabana, a gente faria”, afirma, descartando a Barra da Tijuca, por ainda ter muitos terrenos grandes disponíveis.

A empresa tem mantido conversas com incorporadoras de Balneário Camboriú, diz Horn, maior referência em prédios altos no país, mas não quer ter a busca por altura como um mote. “Não é o principal foco, porque a Cyrela ainda é uma empresa de verdade, buscamos terrenos que tenham pessoas interessadas”, afirma.

Médio padrão sofre mais

Os projetos de alto padrão da Cyrela, como os citados acima, são vendidos a partir de R$ 30 mil por metro quadrado, podendo chegar a R$ 50 mil nos andares mais altos. Eles atendem a uma faixa de renda que sofre menos com o aumento da taxa de juros, que também elevou o custo do financiamento imobiliário.

“Produtos entre R$ 12 mil e R$ 18 mil [por metro quadrado] é onde mais sentimos essa dificuldade de financiamento ou de decisão [de compra]”, afirma Horn.

A associação com grifes tem sido um recurso comum no alto padrão — a Mitre lançou com a Daslu, a REM com a Artefacto, e a Lavvi com Versace, por exemplo — e a Cyrela é uma das que mais adotam essa estratégia. O corporativo da empresa também foi projetado pelo Pininfarina.

A empresa, no entanto, não vai aderir a outra tendência: a oferta de serviços de hotelaria. “Não sentimos que é uma necessidade do cliente de alto padrão”, afirma Horn, porque esse consumidor já teria uma equipe para atendê-lo.

Escritório próprio

O prédio corporativo na av. Dr. Arnaldo é o primeiro feito pela empresa para a sua marca própria. No passado, ela já fez projetos para a Syn (antiga Cyrela Commercial Properties), que foi desmembrada da companhia. Previsto para ser entregue no próximo ano, vai ser a sede da Cyrela — ao menos pelas décadas seguintes.

“O Dr. Elie [Horn, pai de Efraim e fundador da Cyrela] pediu para colocar na estatuto da Cyrela que não podemos vender nossas lajes por 50 anos”, conta o executivo. A ideia, segundo ele, é que o prédio sirva de “inspiração” para os funcionários e para novos projetos da empresa.

O prédio terá 45 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL), com lajes de 1,8 mil metros quadrados. A Cyrela deve ocupar seis andares e o restante será locado ou vendido. Horn estima um preço de R$ 130 a R$ 165 por metro quadrado para locação, a depender do andar — e da vista.


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