“Se o mundo entendesse o quanto a pedra natural é sustentável, esse mercado seria bem maior.”
em Valor Econômico / Imóveis de Valor, 7/fevereiro
Entrevista | Flavia Milaneze, CEO da Milanez & Milaneze.
A feira de pedras naturais mais importante do mundo — a Marmomac, realizada em Verona, na Itália, desde os anos 1960 — deixa pela primeira vez a Europa e desembarca em São Paulo, entre os dias 18 e 20 de fevereiro. A escolha do Brasil para a estreia internacional tem razão de ser: o país é o quarto maior produtor e quinto maior exportador de rochas naturais do mundo. Ainda assim, na opinião de Flavia Milaneze, CEO da Milanez & Milaneze, empresa do grupo Veronafiere, dono do evento, ainda há muito o que crescer por aqui.
Por que trazer a feira para o Brasil?
Temos atuação e presença consolidadas no Espírito Santo e no Rio Grande do Sul e queríamos ampliar nossa participação para grandes centros, especialmente São Paulo, por ser um polo econômico do país e da América Latina. E é preciso também considerar a força do mercado brasileiro para essa indústria. O potencial de crescimento é muito grande.
Quanto movimenta o mercado de pedras naturais no mundo?
Segundo a Associação Brasileira de Pedras Naturais (Centrorochas), que representa o setor no Brasil, as exportações globais somaram US$ 17,42 bilhões em 2023.
E qual a participação do Brasil nesse mercado?
O país tem um “market share” de 7% das exportações de pedras naturais no mercado internacional. É uma fração relativamente baixa se comparada à dos revestimentos artificiais. Se o mundo entendesse o quanto a pedra natural é mais sustentável, esse mercado seria bem maior. Em geral, o setor faturou R$ 14 bilhões no Brasil e gerou 400 mil empregos diretos, dos quais, 20 mil no Espírito Santo, que concentra 82% das exportações brasileiras e é o principal hub industrial do setor.
Quanto gerou em negócios a última edição da feira na Itália?
Os dados financeiros da Itália não são divulgados, mas tivemos no evento de 2024 um total de 1.485 expositores de 55 países, distribuídos em 12 pavilhões e sete áreas externas. Nossa projeção de negócios para a Marmomac Brazil é de R$ 1 bilhão, posicionando o País como um hub de excelência em inovação e design. Afinal, o país é o quarto maior produtor e quinto maior exportador de rochas naturais do mundo, com clientes em mais de 115 países.
Quais os principais mercados consumidores de pedras naturais no mundo?
De modo geral, Estados Unidos e China: enquanto os primeiros consomem mais o que chamamos de chapa, que é o material beneficiado, a China compra mais o bloco, que vai ser trabalhado e comercializado como produto final em outros mercados, a partir da exportação.
E quem compra mais as pedras brasileiras?
Estados Unidos, China e Itália são os três principais mercados. O maior fornecedor de pedra natural para os Estados Unidos é o Brasil.
E quais tipos de minerais são mais cobiçados no mercado?
Os quartzitos brasileiros são a bola da vez e reúnem vários atrativos para justificar esse reconhecimento: são bonitas, exóticas e com alta durabilidade. Hoje, o quartzito é o principal material exportado pelo Brasil: representou 47,4% das exportações brasileiras em 2024, ano em que o Brasil atingiu U$ 599,6 milhões em exportações de quartzito, valor recorde. O crescimento em relação a ano anterior foi de 31,8%, segundo dados do Centrorochas.
Somos um mercado mais exportador?
Na verdade, não: a estimativa é que 25% da produção seja exportada e 75% ficam no Brasil. Mas o mercado daqui consome mais o básico do que o exótico, que vem crescendo desde a pandemia quando, a partir dos desafios de logística, por exemplo, o beneficiamento interno foi ampliado. Ainda assim, o mercado tem potencial de produzir mais para o mercado interno e para exportação.
A sustentabilidade é um ponto de tensão para o setor. Como as empresas têm lidado com esse desafio?
A questão da sustentabilidade impacta todos os setores econômicos. É, também, uma das preocupações da indústria de mármore e granito, que vem adotando práticas que minimizam impactos ambientais e garantem um baixo consumo energético.
Que práticas?
O reúso de água, por exemplo, é 100% reaproveitado. No Espírito Santo, principal polo de extração e beneficiamento de rochas no Brasil, as indústrias são obrigadas a reutilizar a água no processamento, reduzindo significativamente o desperdício hídrico. Além disso, a atividade de extração só ocorre depois de rigorosas contrapartidas ambientais, incluindo a proteção de fontes hídricas e áreas de reserva legal.
Afinal, a pedra natural é mais sustentável que os revestimentos industrializados?
Sim! Diferente do porcelanato, por exemplo, ela requer menos energia para ser processada, pois sua transformação envolve apenas o corte e o acabamento, sem necessidade de fornos de alta temperatura ou processos químicos complexos. Estudos internacionais, incluindo pesquisas na Alemanha, demonstram que a emissão de CO₂ na cadeia de pedras naturais é muito menor do que na produção de materiais sintéticos. Isso ocorre porque a extração e o beneficiamento de mármores e granitos envolvem menos etapas industriais e não exigem insumos químicos ou cadeias logísticas complexas.
A durabilidade também torna a pedra natural uma opção sustentável?
Sim, seu ciclo de vida é extremamente longo, com evidências de construções em pedra que resistem há milhares de anos.
Também vale lembrar que as pedreiras ficam em áreas isoladas e que o trabalho impacta e traz benefícios diretos para a comunidade e para o entorno, que se desenvolve econômica e socialmente — claro, considerando que a extração está sendo feita de forma responsável e de acordo com as regras do setor.
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