Copom: setor imobiliário critica fim do ciclo de redução da Selic

em O Globo, 20/junho

Para agentes do mercado, a manutenção dos juros em 10,50 desestimula e dificulta a compra de imóveis.

A decisão do Copom de encerrar o ciclo de cortes de juros acendeu o sinal amarelo no setor imobiliário. Em um bom momento - a vendas de novos imóveis registraram uma alta de 43,1% no acumulado de 12 meses - , atores do setor acreditam que a continuação do ciclo de redução estimularia mais a compra da casa própria.

Em nota, a Confederação Câmara Brasileira da Indústria da Construção afirma que a manutenção da Selic em níveis elevados prolonga a escassez de recursos para investimentos produtivos.

 Além disso, os juros neste patamar já se refletem em diversos setores, como a caderneta de poupança, que registrou uma captação líquida negativa de R$16,971 bilhões apenas nos primeiros cinco meses de 2024. Desde 2021, as perdas acumuladas na poupança já ultrapassam R$205 bilhões, afetando diretamente o financiamento imobiliário no país - afirma Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Uma das demandas do setor imobiliário é aumentar a oferta de crédito através da liberação de recursos do compulsório sobre depósitos de poupança.

Sobre a decisão de quarta-feira, Thiago Andrade, diretor da JB Andrade Imóveis, considera que foi negativa para o mercado imobiliário, já que taxa de juros alta significa que o custo do crédito fica mais caro, impactando o financiamento do imóvel.

 Com relação a manter a Selic em 10,5% ao ano, acredito que não será um impacto tão grande na questão da venda porque o setor tem uma demanda reprimida grande e as vendas vêm acontecendo. O que pode acontecer é dar uma esfriada no mercado, principalmente para quem está tomando o crédito porque os juros permanecem altos.

Para Eric Labes, CEO da Start Investimentos, concorda e considera que, para o mercado, seria uma boa notícia, o Copom manter uma tendência de queda das taxas.

 Juros altos dificultam a compra do imóvel, especialmente para a classe média. Com o cenário atual, o crédito fica mais difícil para o cliente final e o investidor opta por deixar o dinheiro aplicado no banco em vez de investir em imóvel. Então, a decisão é muito ruim e tira muito a liquidez dos imóveis.

Hugo Ricardo, CEO da Agá Empreendimentos, completa:

 Selic mais baixa atrai os investidores, gera emprego, aumenta o número de lançamentos e ajuda a aquecer a economia - destaca.

Na opinião de Thiago Soares, diretor executivo da The INC Incorporadora, a manutenção da Selic é um sinal negativo para a cadeia imobiliária, pois uma redução aceleraria a compra de imóveis no Brasil. Mas, mesmo assim, entende a decisão do Copom por conta da preocupação com o cenário fiscal.

 A decisão unânime do Copom mostra a força da cúpula econômica e traz certo conforto ao mercado, que só tem recebido notícias preocupantes no âmbito econômico - comenta.

No mercado de habitação populares, Renée Silveira, diretora de incorporação da Plano&Plano, lembra que a Selic impacta de forma diferenciada o mercado imobiliário, de acordo com a faixa de renda do consumidor final . Para os clientes de baixa renda que financiam imóveis pelo Programa Minha Casa Minha Vida, em que as taxas de juros são fixadas de maneira independente da Selic.

 Mas o regime de meta da inflação tem papel fundamental para manter o poder de compra da população de baixa renda.

Por outro lado, afirma ele, os clientes de médio e alto padrão estão mais suscetíveis às oscilações das taxas de juros na contratação do financiamento bancário, impactando diretamente a decisão de compra do consumidor, dado que os juros cobrados no financiamento bancário para estes clientes têm uma alta correlação com a taxa Selic.


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