Mobiliário de luxo cresce com avanço nos lançamentos de alto padrão
em Estadão, 31/maio
Segmento surfa bom momento impulsionado pela estabilidade dos mais ricos, mesmo com inflação alta.
Na garagem, um carro de luxo. Na cozinha, um armário assinado. A resiliência do mercado imobiliário de alto padrão aos solavancos da economia brasileira tem criado um ambiente fértil para móveis de luxo. Empresas do segmento celebram a boa fase faturando milhões com lançamentos, produtos exclusivos e projetos desenhados por artistas reconhecidos.
Em 2024, o Grupo Weiku, marca de esquadrias de alto padrão, faturou R$ 280 milhões. Fundada há 40 anos, a companhia relata um crescimento superior a 15% só no último ano. Impulsionada pelo lançamento de empreendimentos imobiliários de luxo no litoral da Bahia e de Santa Catarina, a empresa justifica os preços elevados com base em atributos técnicos.
“Ela tem um isolamento térmico melhor, oferece conforto acústico e tem um custo de manutenção basicamente nulo”, justifica Philipp Kilian, diretor comercial e herdeiro do grupo. Uma esquadria de PVC da Weiku pode custar até o triplo de uma janela tradicional de alumínio. “Porém, você economiza de 30% a 50% de energia elétrica”, contrapõe.
Atualmente, a empresa produz mais de 12 mil janelas por mês a partir de cinco fábricas. “Em países europeus, como a Alemanha, janelas deste tipo são quase commodities, necessárias por conta do clima. No Brasil, as janelas de PVC alcançam entre 5% e 8% das obras de altíssimo padrão”, contabiliza. “Ainda assim, vivemos um dos nossos melhores momentos na história”, celebra Kilian.
Luxo em ascensão
Alheio à alta de juros, o mercado imobiliário brasileiro de médio e alto padrão registrou crescimento de 5,5% em número de lançamentos nos últimos 12 meses, segundo dados da Abrainc/FIPE. Apesar de uma queda de 3,2% no número de unidades vendidas, o valor das vendas subiu 16,6% e a porcentagem de vendas sobre oferta aumentou 23%.
Apenas em São Paulo, o mercado imobiliário de alto padrão movimentou mais de R$ 4,6 bilhões em VGV no primeiro trimestre de 2025, de acordo com um levantamento realizado pela proptech Pilar com dados do ITBI. O número simboliza uma alta de 21% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o estudo que avaliou as transações de imóveis acima de R$ 2 milhões.
Em regiões como Jardim paulista, Vila Nova Conceição e Itaim Bibi, o preço médio dos imóveis de luxo ultrapassa os R$ 5 milhões. “O mercado de alto padrão está mais competitivo e exigente. E esse crescimento deve continuar, impulsionado por uma nova geração de compradores que valoriza identidade, tecnologia e personalização”, analisa Felipe Abramovay, CEO da Pilar.
“Os imóveis de alto padrão priorizam amplitude, iluminação natural, acabamentos sofisticados e plantas flexíveis. A localização tem sido cada vez mais decisiva e esses empreendimentos também contam com áreas de convívio”, comenta. “Há um movimento claro de busca por imóveis que unam localização, design e conforto”, diz Abramovay.
Atenta ao aquecido mercado da capital paulista, a Artefacto, marca brasileira de luxo fundada em 1976, já anunciou a duplicação da loja física da marca localizada nos Jardins. Prevista para 2026, a expansão acompanha o crescimento da empresa, que aumentou o faturamento em 28% e viu o quadro de funcionários subir 16% no último ano.
Os resultados são impulsionados por parcerias da empresa com projetos imobiliários ao redor do globo. O Helbor Jardins por Artefacto, por exemplo, está em desenvolvimento nos Jardins, zona nobre de São Paulo. Os apartamentos, de 322 m² e 372 m², estão sendo negociados por R$ 62 mil por metro quadrado e marca o sétimo lançamento da marca no País.
“A ideia surgiu ao observar uma forte movimentação de marcas de luxo internacionais, especialmente em Miami, que passaram a assinar empreendimentos imobiliários. Trata-se de uma extensão natural do que sempre fizemos e estar presente desde o início da concepção dos projetos potencializa esse impacto”, argumenta Paulo Bacchi, CEO da Artefacto.
Entrar no setor imobiliário, em parceria com incorporadoras de referência, reforça essa vocação de evolução constante. Queremos ir além do mobiliário: nossa proposta é ajudar a construir o estilo de vida dos moradores desde as estruturas do edifício até os mínimos detalhes de interiores. Essa jornada amplia nosso campo de atuação e fortalece o posicionamento da marca.
Expansão nacional
Também é nesta estrada de crescimento que caminha a Breton. A companhia registrou um aumento de 15% no faturamento em 2024, simbolizado pela contratação de 100 novos funcionários e mais de 70 mil itens de mobiliário vendidos. Não à toa, André Rivkind, CEO da marca, enxerga o Brasil como um mar de oportunidades.
“O Nordeste, por exemplo, tem se destacado muito, impulsionado pelo crescimento expressivo do mercado imobiliário de luxo. Esse movimento valida nossa estratégia de expansão na região, com novas unidades previstas para 2025. O Sudeste, por sua vez, segue como um polo consolidado, com uma base de consumo madura e exigente”, enumera.
Uma das estratégias da empresa para alcançar este público foi adotar práticas sustentáveis no discurso da marca e no desenvolvimento dos produtos. “Mais do que status, o consumo de luxo está associado a escolhas conscientes, que privilegiam design autoral, processos sustentáveis e produtos que atravessam gerações”, analisa Rivkind.
Atenta às oportunidades, a Breton já antecipa um plano de expansão da marca que inclui o lançamento de novas unidades em Fortaleza, Uberaba, Sinop e Recife, além de uma expansão internacional. E ela não é a única. A expectativa de crescimento também está no horizonte da Ornare, marca criada há 38 anos e que possui 14 showrooms em operação no País.
Para Esther Schattan, fundadora da Ornare, o que diferencia o público de luxo do público tradicional é a capacidade de reconhecer valor. “Esse cliente busca um atendimento personalizado, um projeto que reflita o modo como ele quer viver. Muitas vezes, isso independe de orçamento”, comenta. “Nosso cuidado com a marca constrói reconhecimento e gera desejo”.
O plano de crescimento da Ornare consiste no investimento em modernização de tecnologia e processos, além do treinamento de equipes.
Desta forma, a companhia quer chegar ao fim de 2025 com novas lojas inauguradas em Recife, Campo Grande e Balneário Camboriú. “Buscamos novas linguagens de design, atualizamos coleções e antecipamos tendências. Estar um passo à frente tem custo”, explica.
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