O mercado imobiliário do Rio redescobre São Cristóvão

em O Globo, 21/janeiro

Um bairro imperial começa a ganhar passaporte para o futuro. Ignorado por décadas pelas incorporadoras, São Cristóvão está na ordem do dia do mercado imobiliário graças ao projeto Reviver Centro, que propõe a revitalização da área que vai da Lapa à Zona Portuária. O bairro que abrigou a Família Real Portuguesa, a partir de 1808, tornou-se uma área natural de expansão do coração central do Rio, e as empresas já se mobilizam para construir na região. A Cury Construtora tem dois lançamentos ali, um deles em parceria com a Riva Incorporadora — os novos residenciais serão os primeiros dessa fase de redescoberta de São Cristóvão.

No masterplan do Centro do Rio de Janeiro, contratado pelo BNDES em convênio com a prefeitura da cidade, o Consórcio Conexão Rio — formado por Urban Systems, Finarq Consultoria, Vieira, Rezende e Guerreiro Advogados, Ramboll e Porto Marinho — esmiúça a região central com foco “em ativos imobiliários públicos atualmente subutilizados, para que catalisem e impulsionem o desenvolvimento dessa região”, como consta no documento concluído em dezembro de 2023.

Ao longo do século XX, a circulação de pessoas no bairro imperial foi mantida pela atividade fabril e pela praia que sucumbiu aos sucessivos aterros para a expansão do Porto. Agora, com a inauguração do Terminal Intermodal Gentileza no início deste ano, o movimento tende a crescer de novo.

O masterplan aponta três locais no bairro com potencial para o setor imobiliário: Leopoldina, Fonseca Telles e Almirante Mariath Docas. Nos 80 mil metros quadrados do terreno da antiga Estação Leopoldina, por exemplo, será possível erguer um novo bairro com dez quadras.

—Na época da Copa do Mundo já havíamos feito um estudo para o Maracanã e arredores, incluindo São Cristóvão. E foi interessante observar como Maracanã e Tijuca eram bairros superqualificados, enquanto São Cristóvão, em contrapartida, parecia esquecido pelo carioca. A região tem um enorme potencial de desenvolvimento urbano e imobiliário, e apostamos nisso — conta o sócio-diretor da Urban System, Paulo Takito.

Infraestrutura

Motivos para essa aposta não faltam. A região é atendida por diferentes modais de transporte, tem infraestrutura completa, escolas, museus e uma das áreas de lazer mais importantes da cidade, a Quinta da Boa Vista, com o BioParque e o Museu Nacional. Na avaliação do diretor da Sérgio Castro Imóveis, Claudio Castro, São Cristóvão tem uma coisa que o vizinho Porto Maravilha ainda não tem: cara de bairro.

— No contato com potenciais clientes, muitas vezes percebemos que eles relutam em morar no Porto Maravilha. Os comerciantes dizem que faltam moradores, e os moradores, que falta comércio. A área vai terminar se consolidando, mas, por enquanto, São Cristóvão é mais convidativo para quem quer morar ou ter um negócio no Centro do Rio e prefere esperar um pouco mais para ver o que acontecerá com o Porto — observa Castro.

De olho nessa ligação entre o Museu Nacional e o Museu do Amanhã, casando o passado e o futuro da Cidade Maravilhosa, a Cury está lançando o Origem Porto Imperial, em parceria com a Riva. São apartamentos de dois e três quartos com suítes, negociados entre R$ 400 mil e R$ 450 mil. Além disso, vai erguer na região o Porto Maravilha Residencial, com unidades de dois quartos por R$ 200 mil, que serão enquadradas no programa Minha Casa, Minha Vida.

— Era um desperdício não aproveitar uma área tão preparada para receber empreendimentos imobiliários. A construção de residenciais no bairro atrai o movimento de pessoas e de estabelecimentos comerciais e de serviços. Isso acaba qualificando a região — afirma o vice-presidente Comercial da Cury, Leonardo Mesquita.


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