Torre H, de Niemeyer, será concluída até o fim do ano
em O Globo, 10/março
Promessa é da construtora que assumiu o empreendimento em 2022.
Retomadas graças a um acordo entre proprietários das unidades e a empresa Capital 1, as obras da antiga Torre H, que passa a se chamar Niemeyer 360° Residences, serão concluídas até o fim deste ano. No momento, o trabalho consiste em finalizar os apartamentos duplex, localizados nos andares mais altos, e a área de lazer, no térreo.
O empreendimento na Avenida das Américas ficou abandonado de 1984, quando as obras foram paralisadas devido à crise financeira da construtora Desenvolvimento Engenharia, até 2022. O prédio seria parte de um empreendimento com 76 torres cilíndricas, projetado por Oscar Niemeyer, do qual apenas três foram erguidas. A H ficou pela metade. Em 2004, o local chegou a ser invadido por pessoas em situação de rua.
Agora, o Niemeyer 360° Residences, batizado assim por causa de seu rooftop com vista de 360 graus, se prepara para ser o edifício residencial mais alto do Rio, segundo a construtora. O prédio teve a parte frontal modernizada por Paulo Sérgio Niemeyer, bisneto de Niemeyer. No ano passado, a Capital 1 promoveu uma edição da mostra de arquitetura e decoração Casa Design no local, uma forma de levar potenciais compradores até lá e mostrar como ficariam os apartamentos decorados.
O prédio, com 120 metros de altura, tem 448 estúdios de 40m² e 13 apartamentos duplex de 80m². Os apartamentos são localizados do primeiro ao 36º andar. Os últimos dois são ocupados por um mezanino (uma área de lazer com poltronas, TV e bar para eventos) e um rooftop com paisagismo e vista para a praia, para a Lagoa da Tijuca e para a Avenida das Américas. Os apartamentos com vista para o mar são os localizados entre o 28º e o 36º andar, das colunas 7 a 13. As unidades das colunas 8 a 12 têm vista para a Lagoa da Tijuca. As demais dão para a Avenida das Américas e os arredores. Quanto mais alto o andar, mais caro o apartamento. O preços variam de R$ 670 mil (estúdio nos andares baixos) a R$ 893 mil. Há ainda três coberturas duplex, que custam entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,8 milhão.
O petropolitano Arthur Corrêa, de 32 anos, comprou um estúdio no Niemeyer 360° em dezembro de 2023. Ele se diz animado para passar os fins de semana perto da praia:
— Há algum tempo eu já queria um apartamento na Avenida das Américas, pois tem padaria, shopping, mercado e praia ao redor. Fora que me sinto mais seguro na Barra do que na Zona Sul, por exemplo. Soube que o projeto era de Oscar Niemeyer e que a construtora estava mantendo o visual original. Tudo isso me atraiu, e acabei comprando o apartamento no mesmo dia em que vi um decorado.
Entre os primeiros compradores, muitos venderam suas unidades para a Capital 1. Mas houve os que persistiram em realizar o sonho de ter um imóvel na Torre H. É o caso do diplomata francês Gérard Scerb, de 74 anos, que comprou um apartamento ali quando tinha apenas 17, morava em São Paulo e planejava ter um espaço no Rio para visitar a cidade com frequência. Na época, estudante e professor de francês, Scerb pagou as prestações a duras penas. O pai chegou a alertá-lo sobre o risco de o projeto não ir para frente, devido à sua magnitude, mas ele resolveu arriscar:
—Mesmo com a paralisação das obras, continuei pagando o IPTU. Sempre tive esperança de as obras serem concluídas e, por uma questão cultural, não pensei em processar a antiga construtora, embora ninguém goste de ser passado para trás.
O diplomata chegou a comprar outro apartamento na Barra da Tijuca para temporada. Quando o do 360° Residences ficar pronto, terá a mesma finalidade.
—Gosto muito da Barra, porque lá enxergo o céu, consigo respirar melhor e tem mar. E agora, com metrô, o deslocamento ficou mais prático, já que sem automóvel é complicado transitar pelo bairro —diz.
É capaz de Scerb e Corrêa se esbarrarem nas áreas comuns do condomínio. A lavanderia coletiva fica no térreo (somente os duplex têm espaço para uma máquina de lavar pequena), assim como a área de lazer com piscina, sauna, duas churrasqueiras, um forno para pizza e um restaurante ou mercado gourmet.
Até agora, foram vendidas 60% das unidades. Antônio Carlos Osório, um dos sócios da Capital 1, afirma que a empresa decidiu recuperar o empreendimento por ser uma obra de Niemeyer e pela certeza de que as vendas iriam bem, apesar da má fama do prédio — ou até, em parte, justamente por causa dela:
— O produto fala por si. Quando é bom, é bem recebido e absorvido. A história das torres pode até ajudar, pois corre na boca do povo o retorno das obras; as pessoas notam quando passam em frente, comentam. Fora que a localização é central e evidente na Barra. Estamos inclusive vendo uma aceleração nas vendas à medida que as obras avançam. Ao verem que elas de fato estão acontecendo, as pessoas perdem o ceticismo vindo do histórico do prédio, deixando de achar que ele não será finalizado mais uma vez.
Este é o segundo imóvel inacabado comprado pela brasiliense Capital 1 no estado para ser terminado. Em 2008, a empresa comprou e retomou as obras do Icaraí Towers Residencial Club, em Niterói. O prédio foi entregue em 2012.
— Está sendo desafiador pegar um legado de Niemeyer e tentar concluí-lo de maneira fiel. Para isso, convidamos o Paulo Niemeyer para o projeto. Ele complementou e modernizou aspectos do prédio, como a fachada e a área de lazer —diz Osório.—Comaarquitetura orgânica e sinuosa de Niemeyer, o projeto é mais difícil e mais caro de executar. O bacana é que a arquitetura do prédio ainda é atual. As curvas estão muito em voga; basta ver empreendimentos mais recentes em Miami, Chipre, Nova York, Londres. Niemeyer sempre esteve à frente de seu tempo.