Unindo residência e lojas, fachada ativa beneficia moradores e pedestres

em Veja Rio, 21/junho

Incentivada pela legislação atual, proposta que integra espaços residenciais e pontos comerciais se espalha pela cidade.

Bem de frente ao caótico vaivém do Largo do Machado, repousa a discreta Rua Arno Konder e avista-se uma vasta oferta de serviços que, até três anos atrás, nem sequer existiam. O cenário é outro desde agosto de 2021, quando abriram por lá uma filial do supermercado Zona Sul, um ponto da padaria artesanal Primavera dos Pães e a cevicheria Calamares, além de sapataria, ótica, café e até uma clínica médica.

A revitalização da área, logo atrás do tradicional cinema São Luiz, foi possível graças ao projeto do condomínio Ícono Parque, erguido entre as ruas Machado de Assis e Dois de Dezembro, que apostou na chamada fachada ativa — fórmula que integra imóveis residenciais e comerciais no mesmo empreendimento, oferecendo conveniência não apenas para os moradores, mas para gente de toda a região.

“Dessa forma, valorizamos o prédio e incentivamos a interação das pessoas com a calçada”, afirma, em nota, o Opportunity Imobiliário, responsável pelo condomínio de 416 apartamentos. O projeto, em parceria com a SIG Engenharia, conta com 48 lojas, 85% delas ocupadas.

Esse modelo se expande sob o estímulo do novo Plano Diretor, sancionado pelo prefeito Eduardo Paes em janeiro, que concede incentivos a quem incluiu a fachada ativa em seu empreendimento, desde que a área comporte residências e comércio (veja a entrevista abaixo). “É algo pensado desde a concepção do projeto. Muitas vezes, lojas geram maior interesse por parte de compradores, quando comparadas a apartamentos no térreo”, explica Gabrielle Calcado, gerente comercial da Mozak, que acaba de entregar o Essência, no Leblon, com dezenove lojas justamente no primeiro piso.

Não basta, porém, dispor de serviços — é vital entender as reais aspirações locais. “Não adianta implementar lojas numa avenida em que os carros circulam a 100 quilômetros por hora. Também é preciso ter cuidado para que um bar na calçada não se torne um tormento”, pondera Alain Deveza, head de negócios da Living, braço da RJZ Cyrela focado em imóveis de médio padrão. No Cachambi, próximo ao NorteShopping, o empreendimento Only by Living, com inauguração prevista para 2026, contará com três espaços comerciais no térreo.

O urbanismo moderno caminha nessa direção, a exemplo de Paris, que vem implantando o conceito “cidade de 15 minutos”, idealizado por Carlos Moreno, especialista da Universidade de Sorbonne. A prefeitura da Cidade Luz canalizou uma verba de 300 milhões de euros para disseminar o projeto, cuja essência é oferecer às pessoas, a esse curto tempo de caminhada, acesso a lazer, trabalho e serviços, evitando pegar carro e transporte púbico.

A derrubada dos muros entre o residencial e o comercial no Rio é o primeiro passo para a implantação da iniciativa parisiense, trazendo movimento às calçadas e, por consequência, mais segurança a toda a área. “Uma região em plena transformação, como o Centro, pode se beneficiar muito da fachada ativa.

Certamente vai existir demanda por serviços e conveniência não só no horário comercial”, aposta Leandro Begara, diretor de inteligência de mercado da Urban Systems, consultoria de desenvolvimento imobiliário. É o mercado carioca se renovando sob o embalo dos novos ventos.


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