‘Wellness’ corporativo é tendência em São Paulo

em Valor Econômico, 21/março

Novos empreendimentos comerciais na cidade buscam criar espaços mais acolhedores, saudáveis e integrados à natureza para promover o bem-estar no ambiente de trabalho.

A preocupação com o bem-estar dos funcionários parece ter virado item número um na pauta dos incorporadores que constroem prédios de escritórios na cidade de São Paulo. Mais do que embarcar tecnologia e sustentabilidade, condições básicas no mercado corporativo atual, os edifícios agora devem contribuir para a saúde física e mental das pessoas que trabalharão nos espaços.

O timing, aliás, não poderia ter sido melhor: a partir de maio entrará em vigor a atualização da normativa NR-01 do Ministério do Trabalho, que passará a cobrar das empresas a obrigação de identificar e gerenciar riscos psicossociais junto ao time de colaboradores. Estresse ocupacional e sobrecarga de trabalho, por exemplo, são fatores que deverão ser monitorados e tratados pelas companhias.

A exigência busca responder ao cenário alarmante verificado em 2024, quando foram registrados mais de 470 mil casos de afastamento do trabalho por ansiedade e depressão no país — o maior número em dez anos, 68% acima do observado em 2023.

A nova medida sugere, inclusive, a criação de espaços que promovam o bem-estar — e é aí que a arquitetura dos novos projetos corporativos pode contribuir positivamente para o processo.

“Quando se fala em ‘wellness’ no trabalho, muita gente pensa que basta colocar uma academia ou spa no prédio. Mas o conceito vai muito além disso”, analisa Otávio Zarvos, CEO e cofundador da Idea!Zarvos, acrescentando que o bem-estar deve ser promovido por meio de um ambiente físico mais agradável, acolhedor e que estimule a convivência entre as pessoas. “Trabalhar nem sempre é fácil. A função da arquitetura é atenuar isso, criando espaços que, muitas vezes, são mais legais do que os da própria casa da pessoa”, afirma Zarvos.

Em julho, a incorporadora entrega um produto bem distinto no segmento corporativo da capital paulista: o Gabriel 1825. Concebido pelo arquiteto Isay Weinfeld, o prédio de escritórios tem apenas dois andares, lajes de 400 mil metros quadrados e varandas de madeira abertas para uma praça, que ocupará a frente do terreno.

“O empreendimento fica bem no meio do Jardim Europa, que é um dos bairros mais verdes da cidade. É um projeto que você olha e se pergunta se é um prédio para morar ou trabalhar de tão legal que ficou”, ressalta.

Papel da biofilia

Não por acaso, a biofilia tornou-se um valor fundamental no segmento corporativo. Um dos mais recentes projetos entregues na cidade, o Salma Tower, tem bosques suspensos em todos os andares, que descem de forma helicoidal até o térreo. Em cada jardim, foram plantadas cem árvores e arbustos adultos, com o piso todo em cascalho, para que se possa caminhar descalço e sentir as diferentes texturas do solo.

“A junção entre o espaço construído e a natureza é o que vai propiciar mais bem-estar às pessoas que frequentarem o prédio”, explica Grazzieli Gomes Rocha, sócia-diretora da aflalo/gasperini arquitetos, que assina o design do projeto.

No Edifício Biosquare, da G.D8 Incorporadora, em Pinheiros, coube ao escritório Cardim Arquitetura Paisagística colocar vegetação nativa nas fachadas, no rooftop a 130 metros de altura, onde ficará um restaurante, no pavimento garden e em grande parte do térreo.

Com certificações LEED Gold, Green Building e Fitwel, a torre desenvolvida pelos arquitetos da Perkins & Will terá controle e análise da qualidade do ar nos andares, além de bicicletário e vestiários para estimular os funcionários a usar transporte alternativo limpo.

“Estamos em uma das regiões mais adensadas da cidade, o que já se traduz em qualidade de vida por poder morar perto do trabalho. Além disso, incluímos uma série de itens de comodidade para criar uma atmosfera ‘office home’ no prédio, onde a casa vai até o escritório, e não o contrário”, afirma Daniel Ribeiro, CEO da G.D8 Incorporadora.

Outro projeto que aposta na oferta de praticidade é o recém-entregue JK Square Corporate, da SDI e Tellus, no Itaim. O edifício foi concebido pelo escritório americano KPF e integra um complexo multiúso com residencial e a primeira unidade da bandeira hoteleira Westin na capital.

Com lajes de até 2.169 metros quadrados, raras na região, tem janelas do teto ao chão para garantir vistas de 360° e muita luz natural, restaurantes, café e serviços no térreo. No topo, um heliponto oferece mais uma opção de mobilidade aos executivos. “Essas soluções integradas de serviços, hotelaria, residencial e escritórios vão se traduzir em bem-estar real para usuários e frequentadores do complexo”, acredita Dario de Abreu Pereira Neto, sócio-diretor da SDI.

Para Felipe Giuliano, diretor de Locação, Pesquisa e Health da CBRE Brasil, a demanda das corporações por mais bem-estar no ambiente de trabalho tem crescido nos últimos anos. “Antes mesmo da pandemia, já existia essa transformação dos escritórios, com ambientes mais convidativos e áreas de descanso. Agora, há companhias exigindo gastronomia, biofilia e até certificação de ‘carbono zero’ dos empreendimentos”, relata.

Para Giuliano, a preocupação com o “wellness” corporativo deve aumentar à medida que o trabalho presencial retome o ritmo pré-crise sanitária. “Cerca de 70% dos 600 prédios corporativos que monitoramos em São Paulo já registram expediente em pelo menos quatro dias da semana. Essas pessoas precisam ser recebidas com conforto e espaço, com uma relação mais adequada entre metragem e posto de trabalho”, analisa.


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