Antes desprezadas, estas empresas podem pagar até 16% em dividendos

em E-investidor, 19/abril

Companhias de setor cíclico e que não costumam entrar na estratégia, agora ajudam a diversificar os dividendos.

As empresas de construção civil marcaram presença nas carteiras recomendadas para dividendosem abril. Nomes como Cyrela (CYRE3), Lavvi (LAVV3), Mitre (MTRE3), Cury (CURY3) e Melnick (MELK3) figuravam entre as indicações das casas de análise e corretoras consultadas pelo E-Investidor – veja todas elas aqui.

Embora estas companhias costumem ser mais voláteis e muito sensíveis às taxas de juros, analistas acreditam que se encontram em um bom momento do ciclo, com a retomada das ações na Bolsa de Valores. O motivo é que o mercado já precifica que a Selic, a taxa básica de juros, recue até o patamar de 9,13% ao ano no final de 2024.

No quesito operacional também há melhorias. Com juros em queda, as vendas de imóveis se recuperam com mais facilidade, favorecendo a geração de receita e lucro das companhias e, em consequência, os dividendos.

Os custos de construção também são menores, o que auxilia na rentabilidade das empresas. Há também iniciativas do atual governo para impulsionar construtoras e incorporadoras, dado que o segmento é um forte gerador de emprego, o que acaba se traduzindo em popularidade política, avalia Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest. “Eu acho que o governo vai acabar estimulando cada vez mais o setor”, diz.

Prova disso, é a criação do FGTS Futuro – que permite que trabalhadores utilizem depósitos futuros na conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar um imóvel. A iniciativa contempla famílias com renda mensal bruta de até R$ 2.640. “Essa medida vai beneficiar construtoras de baixa renda e as que operam com o Minha Casa Minha Vida. Já nas de médio ou alto padrão não deve mudar muita coisa”, observa Renato Reis, analista da Blue3 Research.

Como escolher uma construtora para ganhar dividendos?

Rodrigo Medeiros, analista e fundador do Desmistificando Research, destaca que o melhor momento para investir em construtoras surge quando os juros ainda estão elevados e há a expectativa do primeiro corte da Selic. É neste momento que o preço das ações costuma ficar em uma faixa extremamente barata.

Contudo, ele afirma que no momento atual – após seis cortes da taxa, para 10,75% ao ano – ainda há espaço para montar uma posição no setor, mas é importante ter em mente que se trata de empresas cíclicas. Quando os juros estão muito elevados, fica difícil vender imóveis, gerar lucro e pagar dividendos. Já quando os juros recuam a receita das construtoras cresce, potencializando os lucros e os proventos.

Medeiros explica que nem sempre a receita e o caixa das companhias aumentam imediatamente com o corte de juros, porque boa parte dos imóveis são financiados e poucos pagos à vista. Assim, o bom investidor precisa entender em que estágio do ciclo as companhias se encontram. “As construtoras podem se apresentar como boa opção para dividendos neste momento, mas não constituem a típica empresa pagadora de proventos. Se você pensar em uma estratégia de longo prazo, nunca poderia ser uma empresa deste setor”, pontua Medeiros, que discorda que investimentos de curto e médio prazos no segmento, com foco em renda passiva, façam sentido.

Segundo o analista, outro fator importante envolve entender quanto uma construtora pode ter de lucro. Ele explica que nos balanços, as construtoras costumam fornecer uma informação chamada “resultados a apropriar” ou “margem a apropriar. Estas representam uma expectativa de receita das empresas com base nas unidades já vendidas. Além disso, o analista recomenda observar a evolução das vendas trimestre a trimestre, porque sem elas o lucro e o “resultado a apropriar” podem acabar diminuindo.

Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, aconselha ao investidor entender como está a geração de caixa das construtoras e se o estoque de imóveis está saudável ou muito elevado. “As margens da empresa estão sendo preservadas ou estão em queda, sacrificando resultados para vender mais rápido? O nível de endividamento pode acabar prejudicando a geração de caixa ou está em um patamar aceitável?”, questiona o analista.

Preço e estoque

Para Renato Reis, da Blue3 Research, outro fator importante diz respeito ao preço. Segundo ele, não adianta comprar ações de construtoras caras para receber dividendos sendo que o papel pode se desvalorizar e fazer o investidor perder no retorno total. Reis cita também o volume sobre ofertas (VSO), que representa o porcentual de unidades comercializadas em relação ao total. “Imagine que o VSO de uma empresa é de 33%. Isso significa que ela vende todo ano 33% do total de imóveis ofertados”, exemplifica. Seguindo este exemplo, em três anos a companhia terá vendido quase 100%.

Mas Reis esclarece que algumas construtoras têm um VSO de 10% ou 8%, o que acaba trazendo à tona o risco do estoque de imóveis parado. “Estoque é um problema muito grave para construtoras, pode gerar custos e até quebrar uma companhia por questões de fluxo de caixa. É dinheiro parado”, afirma.

É importante também observar o histórico de dividendos das construtoras, porque nem todas as companhias remuneraram seus acionistas todo ano nos últimos três anos. Levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, apresenta as empresas que tiveram constância nos seus pagamentos.


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