Inflação da construção tem a maior alta para um mês de janeiro desde 2021
em O Globo, 28/janeiro
Custo de mão de obra acelera é o maior peso no indicador.
O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC-M) acelerou em janeiro: a alta foi de 0,71% ante a 0,51% registrada em dezembro. Essa é a maior alta para um mês de janeiro desde 2021, mostram os dados do FGV Ibre divulgados nesta terça-feira. A aceleração fica ainda mais clara ao se observar a variação apurada em janeiro do ano passado, quando foi de 0,23%. Em 12 meses, o índice acumula alta de 6,85%, o que apresenta um avanço bastante expressivo em relação aos 12 meses encerrados em janeiro de 2024, quando a taxa acumulada era de 3,23%.
Num cenário de pleno emprego, a mão de obra continua a ser o maior fator para a alta do INCC: a alta em janeiro foi de 1,13% contra 0,53% registrado em dezembro. A taxa em 12 meses foi para 9%, significativamente acima da inflação. Os dados apontam uma tendência de desaceleração nos preços desses insumos. O grupo Materiais e Equipamentos e Serviços desacelerou para 0,43% em janeiro, ante uma alta de 0,51% no mês anterior. Já os serviços, que haviam recuado 0,25% em dezembro, avançaram 0,41%, em uma franca aceleração.
– Janeiro é um período em que tradicionalmente pesam sobre o indicador os reajustes da categoria, mas dessa vez estamos numa conjuntura de mercado muito aquecido, o que levou a essa aceleração com aumentos muito acima da inflação. Na sondagem da construção, a falta de mão de obra é o item mais assinalado pelos empresários. Isso acontece em diferentes atividades, mas no setor de construção esse fenômeno é mais forte por ser intensivo em mão de obra. Além disso, o grupo de materiais e equipamentos, embora esteja desacelerando na métrica mensal, ainda acelera no acumulado em 12 meses - pondera Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre.
O Índice de Confiança da Construção (ICST), também divulgado nesta terça-feira pelo FGV Ibre, caiu 1,9 ponto em janeiro, para 94,9 pontos. Num cenário de taxas de juros em alta - a expectativa é que o Copom leve nesta quarta-feira a Selic em um ponto percentual para 13,25% - o Indicador de Demanda Prevista alcançou o pior resultado desde janeiro de 2023. A coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre chama atenção para o fato de que o setor deve continuar aquecido nos próximos meses, diante das obras já contratadas em 2024.
– O que reverteu as expectativas do setor foi o choque de juros. O programa "Minha casa, minha vida" pode mitigar esse feito para as edificações residenciais, mas quem trabalha para a classe média vai sentir. O setor de construção tem ciclos longos, as vendas de 2024 foram boas e se traduzem em obras, assim como o crescimento dos investimentos em infraestrutura visto no ano passado. Isso se refletirá num mercado ainda aquecido este ano, ainda pressionado pela mão de obra. Mas sustentar esse ritmo será complicado - destaca Ana.
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