Madeira ganha status em residenciais de luxo
em Valor Econômico, 10/janeiro
Entrega do primeiro condomínio de alto padrão com estrutura de madeira engenheirada e lançamento de app para projetos democratizam o uso do método sustentável de construção.
Quando for entregue em fevereiro, o condomínio de casas Arvoredo, na Zona Oeste, representará um feito histórico no mercado imobiliário da capital paulista: será o primeiro residencial multifamiliar de alto padrão construído com estrutura 100% de madeira.
O Arvoredo é da Noah Tech, empresa “greentech” especializada em produtos imobiliários sustentáveis. As seis “townhouses” com 390 a 466 metros quadrados e três a quatro suítes custam em torno de R$ 9,5 milhões. Metade delas está disponível. “É um produto diferente do que o público está acostumado. O nível de conforto térmico e acústico das casas é muito alto, por causa da madeira aplicada em paredes e pisos”, diz Nicolaos Theodorakis, CEO e fundador da Noah.
Depois dessa entrega, a empresa vai se concentrar em parcerias já firmadas para desenvolver prédios corporativos para locação, atendendo ao interesse crescente de incorporadores e construtores pela madeira. “Desde que fundamos a empresa, em 2019, o volume de trabalho só cresce. No momento, são nove projetos. Ainda há barreiras, mas estamos confiantes”, diz Theodorakis.
Um dos obstáculos é desmistificar o processo construtivo com madeira. Para isso, a Ita Engenharia lançou em dezembro um aplicativo que ajuda a fazer cálculos estruturais complexos em questão de segundos, demonstrando dados de consumo de material, controle de riscos e projeto em 3D. A plataforma, chamada Fibra, é gratuita e fica abrigada no site da empresa. “É uma solução que vai democratizar o entendimento do uso da madeira na construção”, informa Hélio Olga, fundador da empresa.
Viabilidade
Afinal, fica mais caro usar madeira na estrutura? “Depende da escala do projeto e de como a arquitetura foi concebida”, explica João Pini, sócio de Hélio Olga. Responsável pela criação do software Fibra, Pini diz que pode até ficar mais barato. “Se há o desejo de atender a questões ESG e uma busca por solução de baixo carbono, devem-se considerar o consumo e a eficiência da arquitetura desde o princípio do projeto. Se for feito assim, sem adaptações, com certeza o uso da madeira será viável economicamente”, afirma.
Olga acredita que, em cinco ou dez anos, os prédios em madeira serão uma tendência disseminada no país. “Há um boom desse tipo de edifício no mundo, e é questão de tempo chegar aqui. Basta o primeiro empreendedor erguer um prédio de dez andares com estrutura de madeira para os custos se tornarem mais competitivos”, aposta.
Independentemente do preço, os benefícios ambientais na adoção do material são seguramente maiores. Isso vale tanto para versão engenheirada quanto para a madeira proveniente de manejo florestal sustentável — retiradas de áreas de mata com monitoramento do Ibama e dentro de normas legais. “Enquanto um metro cúbico de madeira nativa captura 1,5 tonelada de CO2 da atmosfera, a mesma medida de concreto emite 15 toneladas de dióxido de carbono. Não tem comparação”, afirma Rodrigo Chitarelli, CEO da Cras Madeira, que extrai matéria-prima devidamente certificada no Pará.
Ele diz que a demanda da construção civil por madeira de manejo aumentou 10% em 2024. Ainda assim, acredita que a desinformação atrapalha o negócio. “Tem uma gama de produtos que imitam madeira no mercado de construção, mas que são feitos de borracha, plástico ou alumínio. E as pessoas acham que é mais sustentável, mas não é.”
Para mudar esse entendimento, a Cras abriu duas lojas-conceito, no Rio e em São Paulo, para transmitir informações mais precisas sobre a sustentabilidade das madeiras de manejo florestal. “Há uma aceitação muito grande dessa estratégia. Nossos vendedores foram treinados para levar informações aos clientes e demonstrar como a madeira de manejo é muito mais sustentável do que se imagina.”
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