Saldo da poupança chega ao maior patamar desde 2020, mas não traz alívio a financiamento imobiliário
em Valor Investe, 8/janeiro
Em 2024, a saída líquida de recursos da poupança, saques menos depósitos, foi de R$ 15,467 bilhões, menor que o patamar de R$ 87,819 bilhões de 2023.
O saldo da caderneta de poupança fechou 2024 em R$ 1,032 trilhão, maior nível nominal desde dezembro de 2020. Os dados foram divulgados hoje pelo Banco Central. Entretanto, isso não significa um alívio para o setor imobiliário, diante da escassez de recursos para o financiamento de imóveis.
A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) pontuou que o saldo de R$ 1,032 trilhão inclui o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e a poupança rural, que não é utilizada para crédito imobiliário.
"Considerando só a poupança SBPE, o saldo cresceu praticamente 3,53% sobre 2023. Entretanto, esse crescimento modesto, embora ajude, não alivia substancialmente para os agentes financeiros que estão, em sua maioria, super aplicados, e precisam de mais recursos para atender a demanda [imobiliária]".
O saldo da poupança foi aumentando ao longo do ano, depois de terminar 2023 em R$ 983,034 bilhões. Em 2024, foram quatro meses de entradas líquidas na poupança, contra apenas dois em 2023, o que contribuiu para que o saldo superasse o patamar de R$ 1 trilhão em junho, algo que não acontecia desde julho de 2022.
A última vez que um ano terminou com o saldo da poupança acima de R$ 1 trilhão foi 2021, quando o resultado foi de R$ 1,031 trilhão. Já no ano anterior, o saldo havia sido de R$ 1,036 trilhão. Os valores são nominais.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, aponta que a elevação do saldo da poupança pode ser atribuída ao aumento dos depósitos, que em três dos quatro trimestres de 2024 teve taxa de crescimento superior ao da taxa de crescimento das retiradas. Os depósitos somaram R$ 4,197 trilhões em 2024 contra R$ 3,827 trilhões em 2023. Já os saques subiram de R$ 3,915 trilhões em 2023 para R$ 4,213 trilhões no ano passado. “Desta forma, mesmo com a queda de 12% na taxa de variação do rendimento da poupança entre 2024 e 2023, a poupança como um todo terminou o ano com um saldo final 5% superior na comparação anual.”
Em 2024, a saída líquida de recursos da poupança, saques menos depósitos, foi de R$ 15,467 bilhões, menor que o patamar de R$ 87,819 bilhões de 2023. O volume de saída líquida também foi menor que 2022 e 2021. A última vez que a poupança registrou mais depósitos que saques foi em 2020, quando o saldo líquido foi positivo em R$ 166,310 bilhões.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, explica que a saída menor de recursos da poupança tem relação com o mercado de trabalho aquecido que impulsiona a renda das famílias, principalmente de menor renda, e “leva a uma menor necessidade de saques das aplicações financeiras para financiar o consumo e a quitação de dívidas”. Borsoi destaca, no entanto, que não acredita que o investimento em poupança é motivado pelo rendimento potencial porque existem alternativas com perfil de risco parecido e com retorno mais atrativo.
Apesar de estar em patamar inferior ao registrado em 2023, quando o rendimento foi de R$ 73,083 bilhões, o rendimento da poupança de R$ 64,284 bilhões em 2024 contribuiu para o aumento do saldo do ano. Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, os depósitos de poupança são remunerados a 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). A Selic está acima desse patamar desde dezembro de 2021.
Para avaliar como será o comportamento da caderneta em 2025, Pizzani destaca a relação entre mercado de trabalho e poupança. Ele pontua que projetar a direção do mercado de trabalho neste ano é um dos principais desafios para os economistas.
Pizzani aponta fatores como a política monetária restritiva por um lado e, por outro, as injeções fiscais que já foram contratadas como o reajuste do salário mínimo e o pagamento de precatórios, que podem ajudar a manter a demanda agregada aquecida. “Logo, a demanda por mão de obra de trabalhadores dos estratos sociais que mais contribuem para o crescimento da poupança será nevrálgica para seu desempenho no decorrer do ano”, disse.
Já Borsoi, da Nova Futura Investimentos, avalia que a conjuntura de um menor crescimento econômico, inflação elevada, juros bancários mais altos e endividamento elevado das famílias sugere que o saques da poupança devem aumentar neste ano. “É provável que o estoque aumente devido à elevação da remuneração da poupança, mas a captação deve seguir negativa.”
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