Os ‘hotspots’ de luxo nas regiões brasileiras

em Valor Econômico, 28/fevereiro

Estudo exclusivo revela as capitais com melhor performance no mercado imobiliário de alto padrão em 2024. O Nordeste teve o maior crescimento percentual em lançamentos: 42%

É oficial: o ano de 2024 foi histórico para o mercado imobiliário de alto padrão do país, com performance recorde em diversos indicadores. Na comparação com 2023, o segmento registrou alta de 18,3% em lançamentos, com um valor geral lançado (VGL) 27,5% superior. Foram 9.329 unidades comercializadas (33,5%), alcançando um valor geral de vendas (VGV) de R$ 38 bilhões — 46,1% acima do resultado anterior.

Os números são do estudo "Mercado imobiliário de luxo nacional - 2024", da consultoria Brain Inteligência Estratégica, divulgado aqui com exclusividade. Os dados referem-se a novas unidades de luxo (mais de
R$ 2 milhões) e superluxo (acima de R$ 4 milhões), lançadas e vendidas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.

O Nordeste registrou o maior crescimento percentual em lançamentos, com um salto de 42% em relação a 2023, puxando também o aumento do VGL: 57,4%, atrás apenas do Centro Oeste (60,3%). O ranking das cidades com o tíquete médio mais elevado na categoria luxo surpreende: Fortaleza (CE), Salvador (BA), Recife (PE) e Teresina (PI) ocupam as quatro primeiras posições, com valores na casa dos R$ 3 milhões.

"Fortaleza vive o reflexo das mudanças recentes no Plano Diretor, que passaram a permitir projetos mais verticalizados em troca de outorga, o que tem estimulado o desenvolvimento de grandes empreendimentos na cidade" , explica Fábio Tadeu Araújo, CEO da Brain.

"O Nordeste como um todo tem registrado excelente desempenho", ressalta Diego Villar, CEO da Moura Dubeux — incorporadora com forte atuação na região. A empresa está desenvolvendo projetos nas capitais cearense e baiana, respectivamente, Mansão Seara e Mansão Othon.

"Em Salvador, a velocidade das vendas sobre a oferta é muito grande, e nosso desafio é conseguir repor o estoque de produtos na cidade para atender a essa demanda", explica.

O mercado na região Centro Oeste continua sendo irrigado pelo dinheiro do agronegócio, com alta procura por imóveis mais sofisticados. A pressão sobre a oferta tem feito os preços de imóveis em cidades como Goiânia (GO) dispararem.

O CEO da Brain explica que, por muito tempo, o valor dos imóveis na cidade ficou abaixo da média de outras capitais e que a recuperação de preços tem sido observada nos últimos anos com o lançamento de produtos de padrão mais elevado, com destaque para 2024.

O estudo mostra que o Centro-Oeste registrou 48,7% de aumento no volume de unidades vendidas e de 72,4% no VGV, que somou R$ 4,4 bilhões — a despeito da queda de 21% nos lançamentos em relação a 2023.

Ainda assim, o VGL da região cresceu 60,3%
"year on year", chegando a R$ 5,2 bilhões no ano passado, o que comprova a valorização recente dos imóveis.

Retomada no Sul

O mercado imobiliário do Sul do país deu sinais de recuperação na segunda metade de 2024, após a tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio.

As capitais da região registraram 13,6% a mais no volume de unidades vendidas no final do ano, com VGV de R$ 6,1 bilhões — alta robusta de 35%. Os lançamentos cresceram 6,6%, com VGL e VGV idênticos: 24,6%.

Destaque para a capital catarinense, que liderou o tíquete médio de preços na categoria superluxo: R$ 8,4 milhões.

"Florianópolis tem muitas restrições impostas pelo Plano Diretor e notória escassez de terrenos nos bairros mais desejados ao norte da ilha. Esse contexto impulsionou os preços no ano passado", analisa Tadeu Araújo.

Os estados do Sudeste seguem como as principais locomotivas do mercado imobiliário nacional. Juntas, as capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo venderam mais apartamentos de alto padrão do que a soma das capitais dos outros 22 estados e do DF: 5,4 mil e 3,8 mil, respectivamente.

O resultado é 38% acima do de 2023, com R$ 23 bilhões em VGV — quase 50% a mais. O Rio teve papel relevante nessa escalada. "O mercado carioca voltou a ser importante no cenário imobiliário de luxo do país", diz o CEO da Brain.

Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio, afirma que o mercado de luxo na capital fluminense vem mostrando força e resiliência desde a pandemia, sustentando um crescimento ao longo dos anos que se acelerou em 2024. "O volume de unidades do segmento lançadas no Rio triplicou em relação a 2023, chegando próximo a 6% do total, e o VGV de luxo e superluxo dobrou no ano passado", diz ele, que também é vice-presidente da Cbic no Sudeste.

Razões e futuro

O combustível do foguete de alto padrão no país foi a sequência de três anos seguidos de economia forte e crescimento robusto do PIB, sempre acima dos 3% desde 2022. Para Tadeu Araújo, a distribuição de dividendos a acionistas da Bolsa e a partilha dos ganhos entre os altos executivos e empresariado aceleraram o apetite desse público, que passou a investir em imóveis, sobretudo no final do ano.

De fato, o estudo da Brain indica que a venda de unidades de luxo e superluxo no quarto trimestre de 2024 disparou 32,6%, levando o VGV a alcançar R$ 13,2 bilhões — 89,4% de crescimento sobre o último trimestre de 2023.

Para 2025, o economista da consultoria estima uma margem entre 5% de queda e 5% de crescimento, que deverá ficar mais estreita em abril ou maio, dependendo do ritmo de ajuste da taxa de juros da economia. "Mas quem tinha lançamento de produto programado para o trimestre deve manter o planejamento, prevê.


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