Casas ‘eficientes’ são o futuro dos condomínios de luxo

em Valor Econômico, 6/junho

Projetos autossustentáveis ganham destaque em residenciais de alto padrão, otimizando investimentos e recursos naturais e reduzindo custos operacionais e de manutenção.

Elas geram sua própria energia elétrica, reutilizam água da chuva, transformam lixo orgânico em adubo, usam sistemas automatizados controlados à distância e, graças à otimização de recursos naturais como a luz e o vento, mantêm as luzes apagadas quase o dia todo e dispensam o ar-condicionado grande parte do ano — mesmo nos dias mais quentes.

As casas de luxo “eficientes” estão ganhando espaço nos condomínios residenciais mais sofisticados do Brasil. Em comum, esses projetos priorizam a flexibilidade de uso dos ambientes, a escolha inteligente de materiais, a adoção de tecnologias que reduzem custos operacionais e a baixa manutenção do imóvel.

Em Porto Feliz (SP), a incorporadora D76 entregou recentemente a Residência Alvorada, que explora os pilares que orientam a própria empresa: design, desempenho, sustentabilidade, interatividade e eficiência de processo.

A casa tem 600 metros quadrados, quatro suítes e uma ampla sala integrada ao deque da piscina. De inspiração oriental, o desenho minimalista valoriza a neutralidade. “A proposta é de uma arquitetura sem excessos, elegante e descomplicada, que facilitará a vida dos futuros moradores”, afirma a sócia-fundadora, a arquiteta Thais Keiko.

A facilidade está refletida em uma planta flexível — que permite ajustar ambientes sem necessidade de reformas complexas —, sistemas de automação de controle à distância, painéis fotovoltaicos que geram 1,5 mil KWh, reúso de água pluvial em jardins e vasos sanitários, e soluções de arquitetura que garantem iluminação natural e ventilação constante, impactando o consumo de energia.

“As soluções baseiam-se em estudo bioclimático do terreno, que considerou fatores como o vento. Assim, mesmo em uma região quente como o interior paulista, a temperatura média interna da casa fica em 24ºC, dispensando o ar-condicionado”, explica Thais.

O uso de vigas de madeira engenheirada e paredes externas de “steel frame”, além dos caixilhos das grandes portas de vidro que percorrem a fachada, permitiu que a obra cumprisse à risca o cronograma, sendo finalizada em oito meses.

“Vizinhos do projeto ficavam espantados com a velocidade da construção e com o baixo nível de resíduos: foram apenas cinco caçambas de entulho durante toda a obra”, comenta Marcelo Pulcinelli, sócio de Thais e ex-diretor de Engenharia da Idea! Zarvos.

Escolha de materiais

Outro fator que promove maior eficiência nesses projetos é a escolha de materiais e revestimentos. No projeto da D76, dois tipos de piso predominam: um interno e outro externo, facilitando a limpeza ou eventual reposição.

“Selecionar materiais mais adequados, que garantam durabilidade, resistência e baixo impacto ambiental, traz economia de recursos, redução de custos com manutenção, maior conforto térmico e acústico e ainda contribui para a sustentabilidade dos projetos”, diz o arquiteto Guilherme Torres.

A Jatobá House, criada por Torres na Fazenda Boa Vista, também em Porto Feliz (SP), traz essas soluções sustentáveis de maneira bem aparente. Seus cinco grandes blocos brancos independentes — que representam as suítes — têm vigas e lajes feitas de CLT: placas de madeira entrelaçadas em alta temperatura e pressão, que substituem o concreto.

Outro destaque é um muro que toma boa parte da estrutura da residência, feito em taipa com areia e terra retiradas do próprio terreno. No piso, cacos de basalto revestem todo o perímetro do projeto.

Ao redor, lagos ornamentais atuam como retardantes da água da chuva, para reúso nas residências. “Tudo isso ajuda a reduzir o impacto ambiental do projeto. Vale lembrar que o investimento acaba sendo amortizado no médio prazo com a economia de recursos que oferece.”

Segunda residência

Em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, a arquiteta Fernanda Marques deu vida à Casa Jabuticaba, em que buscou racionalizar ao máximo o uso de materiais, lançando mão de uma estrutura em vigas metálicas que permitiram lajes mais longas e delgadas.

Com quase 1,4 mil metros quadrados, a residência familiar prima também pela escolha de itens duráveis, de fácil manutenção e que contribuem para o isolamento térmico e acústico dos ambientes.

“A utilização de revestimentos eficientes ajuda a reduzir a necessidade de climatização artificial e manutenção frequente, resultando em economia de energia e de custos ao longo do tempo. Esse diferencial é importante porque alia estética e funcionalidade, proporcionando um ambiente confortável e sustentável para os moradores”, afirma Fernanda.

No caso de casas de veraneio, de uso menos frequente, a arquiteta considera importante focar na autossuficiência e no baixo impacto ambiental. Nesse sentido, recomenda a adoção de painéis solares para geração de energia, sistemas de coleta e reutilização de água da chuva, e a opção de materiais locais e sustentáveis na construção.

“Além disso, implementar tecnologias inteligentes para o controle remoto de sistemas de energia e segurança também pode aumentar a eficiência e facilitar a gestão do imóvel quando ele não está em uso”, conclui.


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