Nest cria área de alternativos e capta fundo imobiliário
em Valor Econômico, 14/junho
Objetivo é levantar até R$ 500 milhões na estreia da gestora no segmento.
A Nest Asset Management pretende captar até R$ 500 milhões na sua estreia no segmento de fundos imobiliários. Se for bem-sucedida, a gestora vai elevar o seu patrimônio a um outro patamar, para a casa do R$ 1,2 bilhão. A oferta é simbólica da construção de uma área de investimentos alternativos.
Para ajudar nessa empreitada, a gestora, que tem na sociedade o empresário Roberto Justus, trouxe como sócio Fabio Passos, executivo que passou mais de uma década na Indosuez Wealth Management, do Crédit Agricole, operação vendida para o Banco Safra. Antes, ele esteve na Bawn Investments, na Swiss Capital e no Petros.
“O Brasil, no futuro, não vai ter taxas de juros tão baixas quanto o mercado antecipava, mas será abaixo de dois dígitos. Temos visto algumas oportunidades, seja em ativos imobiliários, crédito mais ‘high yield’ [de maior risco e potencial de retorno], o segmento tem crescido bastante, mas a ideia é sair um pouco das armadilhas de crédito, uma diferenciação no mundo dos alternativos que já buscava em outras casas”, diz Passos. “Com os multimercados sofrendo como um todo, o investidor vem procurando opções e estamos montando a área num momento propício, interessante, que vamos aproveitar da melhor maneira possível.”
O processo de investimentos envolve tanto a originação, já que “a cozinha é extremamente importante”, quanto o design de fundos para que sejam “bem construídos, com controles definidos”, prossegue Passos. Colocar isso em prática num momento de compressão dos spreads de crédito, especialmente de papéis como debêntures incentivadas, é um desafio. “A discussão da troca de risco de crédito por benefício fiscal é muito perigosa, aquele papel que paga o mesmo que a NTN-B [o título do Tesouro IPCA+], quando se começa a pensar dessa forma, possivelmente o mercado está próximo de uma armadilha estrutural.”
O pontapé para a divisão de alternativo da Nest vem, contudo, com um fundo imobiliário de “tijolo”, com imóveis de fato na carteira, para geração de renda. A Nest vai olhar ainda para projetos de desenvolvimento.
No conjunto, a vertical de alternativos nasce com R$ 600 milhões, incluindo carteiras de crédito com precatórios e de consignado, segundo o gestor Luis Castro da Fonseca. O fundo imobiliário foi desenhado ao longo dos dez últimos meses, junto com a ponta institucional para aquisição dos empreendimentos que farão parte da carteira. “A grande maioria fica em São Paulo, são ativos do mercado de luxo”, afirma.
A estratégia de alternativos conversa com o plano da Nest de sair do “feijão com arroz” dos fundos líquidos que pautaram a gestão desde a fundação, em 2007, diz Felipe Prata, sócio-fundador e executivo-chefe (CEO) da casa. É uma forma também de atrair o público atendido por single e multifamily offices (MFO), escritórios que cuidam de fortunas familiares, e que costumam ter apreço pelos investimentos ilíquidos. “A ideia é complementar com as estratégias mais triviais”, afirma Prata.
A troca de risco de crédito por benefício fiscal é muito perigosa, aquele papel que paga o mesmo que a NTN-B” — Fabio Passos
O encolhimento dos fundos de ações convencionais e dos multimercados mostra que havia “muita gente competindo pelo mesmo pote”, acrescenta o executivo. “Queremos fazer um ‘play’ de acesso, com coisas diferentes, bem geridas, e ao longo do tempo sair para o ‘blue ocean’ [oceano azul], com alternativas que se provem vencedoras.”
No fim do ano passado, a Nest acertou a vinda de André Rosenblit para a sociedade. Muito próximo de Justus, a sua última posição foi como chefe da área de ações do Santander Brasil por sete anos. Antes, passou pelo Safra, Deutsche Bank, Credit Suisse e Banco Garantia. Ele lidera uma estratégia de bolsa global com capital inicial dos sócios no exterior. Haverá também uma versão da carteira para distribuição local. O patrimônio soma cerca de R$ 100 milhões.
O agora gestor busca se diferenciar em teses de investimentos inovadoras que tenham menor relação com o ambiente macroeconômico, caso de tecnologia e inovação associada à transformação dos negócios. Inteligência artificial, biotecnologia e energia estão entre os temas que tem avaliado.
“Nossa ideia é investir em companhias ligadas a algumas tendências estruturais ou que sejam disruptivas no que fazem. A gente olha mais para isso do que para a política monetária, fiscal e cambial”, diz Rosenblit. “Achar aquilo que pode ser tornar um ‘blockbuster’ faz uma diferença grande [montar antes a posição] em termos de preço. O Ozempic trouxe a Novo Nordisk para o ‘hype’ da indústria farmacêutica muito mais do que a inteligência artificial em outros negócios.”
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