O que esperar do mercado imobiliário de luxo em 2025?
em Estadão, 26/janeiro
Setor em 2025 deverá se marcado por estabilidade aparente e mudanças demográficas profundas, aponta relatório da Sotheby’s.
Apesar da devastação causada pelos recentes incêndios em Los Angeles, que destruíram cerca de 12 mil estruturas, muitas delas casas unifamiliares de alto custo, o mercado imobiliário de luxo global está prestes a entrar em um ritmo estável, segundo o relatório “2025 Luxury Outlook” da Sotheby’s International Realty.
“Os incêndios em LA são devastadores, especialmente no nível pessoal e humano”, diz Bradley Nelson, diretor de marketing da empresa, que liderou o relatório. “Quanto ao impacto no mercado imobiliário, é um pouco cedo para dizer. A maioria das famílias deslocadas está focada em encontrar soluções de curto prazo.”
No restante do mundo, espera-se um mercado mais equilibrado após anos de instabilidade pós-pandemia causada por taxas de juros, questões geopolíticas e trabalho remoto.
“Não acreditamos que os preços imobiliários diminuam em 2025, mas o ritmo de valorização deve desacelerar”, afirma Nelson. “Após pesquisarmos nossos principais agentes globais e realizarmos inúmeras entrevistas, percebemos que o mercado parece mais estável, com condições mais equilibradas”, embora ainda haja fortes forças subjacentes.
”Ímã de riqueza”
O relatório da Sotheby’s cita um estudo da Henley & Partners que prevê a migração de 135 mil indivíduos de alto patrimônio líquido para novos países em 2025, um aumento em relação aos 128 mil de 2024. O maior beneficiado parece ser os Emirados Árabes Unidos, que receberam 6.700 novos residentes ricos em 2024, com mais a caminho.
“É um ímã de riqueza”, diz Nelson, mencionando incentivos fiscais, vistos dourados e o estilo de vida em destinos como Dubai, onde residências de marcas são especialmente valorizadas. “Essas casas podem facilmente cobrar prêmios superiores a 25% em relação às equivalentes sem marca”, comenta Chris Whitehead, da Dubai Sotheby’s International Realty.
Por outro lado, enquanto os EUA tiveram o segundo maior influxo de compradores ricos no ano passado, registraram o menor nível de compras por estrangeiros desde 2009. Entre abril de 2023 e março de 2024, esses compradores adquiriram apenas 54.300 casas, totalizando US$ 42 bilhões – muito abaixo dos US$ 153 bilhões e 284.500 unidades de 2017.
Ainda assim, Nelson observa: “Houve algumas compras muito caras por esse público, então ainda é um componente crítico para o mercado de imóveis realmente prime”.
No próximo ano, pode haver um aumento da atividade estrangeira. “Níveis de estoque mais estáveis tornam a compra mais atraente,” explica Nelson. “Se imóveis são vendidos em questão de horas ou dias, é quase impossível para estrangeiros virem ao país para visitar novos inventários.”
Novos compradores, nova mentalidade
Os perfis dos compradores também estão mudando. Com a entrada dos millennials no mercado de luxo, essa geração mais jovem tem prioridades diferentes. “Eles têm uma mentalidade de estilo de vida em primeiro lugar”, diz Nelson.
Praticamente, isso significa que os jovens buscam propriedades esteticamente agradáveis e históricas, muitas vezes influenciados por referências culturais. Na Itália, o relatório destaca o “efeito White Lotus”, com base na série da HBO. Após a exibição da segunda temporada, ambientada em belas vilas históricas italianas, “tivemos o dobro de compradores americanos e britânicos interessados na região”, relata Diletta Giorgolo Spinolo, da Sotheby’s Itália. “Jovens entendem que possuir um pedaço da história é um símbolo de status. Séries de TV definitivamente moldam suas percepções do que é luxo.”
Potencial de investimento
Embora os compradores de luxo estejam mudando, o financiamento ainda vem de fontes familiares. O relatório menciona um estudo da Legal & General, empresa financeira do Reino Unido, que aponta que 42% das propriedades compradas por pessoas com menos de 55 anos receberam apoio financeiro dos pais.
Paloma Pérez Bravo, CEO da VIVA Sotheby’s International Realty na Espanha, observa algo semelhante: “Pessoas da América Latina, como México, Venezuela e Miami, estão felizes em apoiar financeiramente os filhos adultos para estudar ou abrir negócios em Madri.”
Além disso, a composição demográfica dos compradores está mudando. Nelson cita um relatório da National Association of Realtors que mostra que, em 1981, 11% dos compradores eram mulheres, enquanto casais representavam 73%. Em 2024, mulheres somavam 20% dos compradores e casais, 62%.
“Mulheres solteiras têm confiança e desejam comprar imóveis fora de seus relacionamentos românticos”, diz Nelson. “Elas veem isso como uma oportunidade de criação de riqueza.” Além das jovens emancipadas, “mulheres mais velhas e solteiras estão reduzindo o tamanho das casas e se mudando para propriedades mais adequadas às suas necessidades,” afirma o relatório.
“Este relatório”, conclui Nelson, “é guiado principalmente por mudanças demográficas, mais do que qualquer outra coisa. Isso ficou muito claro para nós”.
Ver online: Estadão