Minha Casa, Minha Vida puxou vendas de imóveis em 6% no primeiro trimestre

em Monitor Mercantil, 29/maio

R$ 754 bilhões: Caixa alerta escassez para crédito imobiliário.

Estudo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apontou que o mercado imobiliário registrou aumento de 6% na venda de unidades residenciais novas em todo o país no primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado, sendo a maior alta na Região Centro-Oeste, com 20,2%. O aumento teve contribuição dos resultados do programa Minha Casa, Minha Vida, cujas vendas subiram 21,3% na mesma comparação entre trimestres.

A pesquisa, intitulada “Indicadores Imobiliários Nacionais do Primeiro Trimestre de 2024”, foi realizada em 220 cidades, incluindo todas as 27 capitais e as principais Regiões Metropolitanas do país. Foram vendidas nessas cidades 81.376 unidades em janeiro, fevereiro e março deste ano, frente a 76.794 vendas no mesmo período do ano anterior. Somente no segmento do Minha Casa, Minha Vida, foram 31.407 vendas no primeiro trimestre de 2024, contra 25.882 no primeiro trimestre de 2023. A participação do programa passou de 33,7% para 38,59%.

Além disso, no acumulado dos últimos 12 meses (abril de 2023 a março de 2024) foram vendidas 331.311 novas unidades ou 3,9% a mais que as 318.973 negociadas ao longo dos 12 meses anteriores (abril de 2022 a março de 2023). Os dados demonstram recuperação da tendência de crescimento de vendas iniciada há cinco anos – desde os 12 meses encerrados no primeiro trimestre de 2019, quando foram registradas 190.371 vendas.

O valor geral de vendas (VGV) no primeiro trimestre de 2024 chegou ao total de R$ 46 bilhões, número 12,5% maior que o registrado no mesmo período de 2023, que foi de R$ 41 bi.

Para a CBIC, o mercado segue forte e o público continua em busca de imóveis novos, ou seja, há demanda contínua para os apartamentos lançados – foco do levantamento. Os resultados de vendas ainda apontam um bom sinal para o restante do ano, pois os demais trimestres costumam concentrar mais vendas, ano a ano.

O Minha Casa, Minha Vida também teve aumento expressivo de 24,7% no número de unidades lançadas – 26.439 novos imóveis colocados no mercado – no primeiro trimestre de 2024, na comparação com o mesmo período do ano passado, o primeiro trimestre de 2023, que somou 21.207 imóveis lançados. Para a CBIC, o mercado vem respondendo desde os avanços promovidos no programa no segundo semestre de 2023. De acordo com a CBIC, a tendência para o segundo semestre é de crescimento. Segundo o presidente da entidade, Renato Correia, há um movimento que está se avolumando no país de complementação de subsídios para o programa dos governos locais, com o intuito de fortalecer o a habitação. “O movimento de união de várias esferas para com combate ao déficit habitacional é muito importante para o abastecimento da sociedade brasileira em habitação”, disse.

Estados como São Paulo, Pernambuco e Paraná já contam com iniciativas locais para complementar o valor de entrada do Minha Casa, Minha Vida, exemplificou o sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu Araújo. O Minha Casa, Minha Vida está crescimento no Brasil inteiro, mas com uma busca maior mêses estados que estão recebendo complementados do governo local”, apontou.

O presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII/CBIC), Ely Wertheim, destacou que mesmo havendo um programa habitacional do porte do Minha Casa, Minha Vida é necessário um subsídio adicional. Temos que ficar atentos para qualquer movimento que seja feito como a reforma tributária ou aumento de juros, que onere a habitação no país”, disse.

Já o lançamento de novos imóveis (56.355) em geral caiu 9,6% no primeiro trimestre de 2024 em relação ao primeiro trimestre de 2023 (62.312). A CBIC entende que uma das causas é a demora excessiva para novos licenciamentos. Apenas a Região Norte teve alta, de 128,1%, na comparação em o primeiro trimestre de 2023 e 0 de 2024.

O aumento de vendas (6%) e a queda nos lançamentos (-9,6%) ocasionaram a diminuição do estoque em 12,2% na comparação entre primeiro trimestre de 2023 e o primeiro trimestre de 2024.

As vendas apresentaram queda de 4,2% no primeiro trimestre de 2024, na comparação com o quarto trimestre de 2023. A queda das unidades residenciais vendidas foi percebida em todas as regiões do país neste comparativo. A região que apontou a maior redução nas vendas foi o Norte (-9,8%), seguido das regiões Sul e Centro-Oeste, que apresentaram a mesma variação de -8,8%.

O primeiro trimestre de 2024 foi marcado pela queda de 39% das unidades residenciais lançadas em comparação com o quarto trimestre de 2023.

Foram 56.355 unidades lançadas em janeiro, fevereiro e março deste ano, contra 92.607 em outubro, novembro e dezembro. O registro é o menor dos últimos nove trimestres. A queda, sentida por todas as regiões do Brasil, foi maior no Norte (-58,7%), seguido do Sudeste (-45,4%) e Centro-Oeste (-44,3%). A região que apresentou menor queda nos lançamentos foi o Sul (-20,5%).

O setor apresentou queda de 8,6% no primeiro trimestre de 2024, em relação ao quarto trimestre de 2023, registrando 272.708 imóveis. A partir do escoamento registrado em todas as regiões do país, considerando a média de vendas dos últimos 12 meses, se não houver novos lançamentos a oferta final se esgotaria em 10 meses.

A oferta final disponível por região, registrou queda por todo o Brasil, com destaque para a Região Norte, com queda de 11,7%, indicando a menor oferta do país, com 10.145 imóveis.

A valorização patrimonial foi de 1,8% no último trimestre. Como comparação, a variação do INCC foi de 0,68% no mesmo período.

A Caixa Econômica Federal destacou a necessidade urgente de novas fontes de financiamento para o crédito imobiliário, após mais um trimestre de forte crescimento, com a carteira de crédito imobiliário atingindo R$ 754 bilhões. O presidente da Caixa, Carlos Vieira, alertou sobre os limites de financiamento devido ao encolhimento da poupança e ao aumento das captações de mercado, que são mais caras. Vieira sugeriu três medidas para resolver o problema: desenvolver o mercado secundário de crédito imobiliário, estimular a participação de fundos de pensão no segmento e destinar recursos dos depósitos compulsórios dos bancos para a linha de crédito imobiliário. Enquanto a primeira medida está sendo abordada pelo Ministério da Fazenda, as outras duas ainda não avançaram. A Caixa mantém sua liderança no financiamento habitacional, mas está sobreaplicada, com a carteira imobiliária financiada por recursos da poupança representando 88% dos depósitos, acima dos 65% estipulados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A CBIC revisou de 1,3% para 2,3% a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto do setor para 2024, índice acima das previsões para o PIB Brasil deste ano. Entre as razões estão a alta contínua das contratações, a expectativa positiva das empresas para compras e lançamentos, e a projeção positiva para o crescimento da economia brasileira no ano, além dos efeitos das adequações previstas para o Minha Casa Minha Vida.

Clausens Duarte, vice-presidente de Habitação de Interesse Social da CBIC, destacou a importância do FGTS como uma fonte essencial de recursos para habitação social e infraestrutura. No entanto, preocupações foram levantadas sobre a possível escassez de recursos até o final do ano, evidenciando a necessidade de suplementação.

Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, expressou sua preocupação com a desmobilização do FGTS para a habitação, considerando-a uma afronta ao setor. Ele ressaltou a importância de estar atento às mudanças nos processos de contratação que já estão em curso. “Hoje, nós contamos com novos modelos de trabalho que estão diminuindo o vínculo trabalhista. É crucial estar atento a essas transformações”, afirmou Eyng.


Ver online: Monitor Mercantil