Demanda por imóveis seguirá, mas disponibilidade de recursos limita crescimento

em Valor Investe, 31/janeiro

Executivos de incorporadoras afirmam que demanda reprimida e déficit habitacional do país devem manter setor aquecido.

A demanda por financiamentos imobiliários deve continuar em razão da demanda reprimida e do déficit habitacional do país, mesmo em um cenário de alta na taxa de juros básica, a Selic, atualmente em 12,25%, dizem gestores. No entanto, a capacidade de concessão de crédito pelo principal funding (parte financiadora de onde vêm os recursos) - o FGTS - do setor limita o número de financiamentos.

Para Ricardo Valadares Gontijo, presidente executivo da Direcional, apesar do cenário difícil no Brasil e no mundo, pelo fato de a demanda por imóveis “continuar grande”, questões macro não impactam de forma intensa o negócio. “O que impacta é o funding”, disse durante o Latin America Investment Conference (LAIC), evento promovido pelo banco suíço UBS.

Segundo o gestor, mesmo com o aumento dos recursos do FGTS para 2025, há uma limitação na capacidade de concessão de crédito por meio de financiamentos, que não cresceu tanto quanto a demanda. “Nos dá um conforto de que não terá falta de recursos para operar. Mas se fosse maior, poderia se flexibilizar as taxas de juros e o subsídio, mas não é o cenário atual. O orçamento é limitado”, pontua.

Isso deve afetar o crescimento do setor, que prevê um 2025 positivo, mas “não tão melhor como foi 2024 por causa dos recursos limitados”. “Quando analisamos o que temos de orçamento pro setor, a demanda existente, taxa de juros e volume de subsídio, tende a ser um ano positivo. Não acho que deve ter grande diferença em relação a 2024, a não ser que tenha algo extremamente relevante em relação à inflação”, avalia.

Além disso, o crescimento também esbarra no aumento da massa de renda do trabalhador em relação à inflação, o que pode impactar no crédito fornecido, explica Ubirajara Freitas, presidente executivo da Tegra Incorporadora. “O cara que podia comprar um imóvel de R$ 150 mil vai comprar um de R$ 120 mil, agora”, pontua.

“Na hora que os juros sobem nós temos dois tipos de comprador: o que precisa do financiamento e o que é aplicador de dinheiro, que espera os juros cair pra comprar o imóvel”. Para Freitas, o mercado imobiliário precisa estar preparado para lidar com o impacto da Selic para os dois tipos de clientes e vem conseguindo contornar a situação e manter o crescimento.

Segundo Freitas, há um planejamento por parte da Tegra de trabalhar com expectativa de juros em torno de 13% e 14% nos próximos anos. “É em cima disso que temos que planejar. O que vier de melhor, vai favorecer a comunidade. Olhando o futuro, ele é promissor. o que aconteceu com inflação de custo da construção como foi durante a pandemia, é difícil repetir. se os juros ceder num futuro próximo, o mercado é promissor. Tem demanda e tem margem."

Mais cedo, no entanto, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) pontuou que o volume de financiamento de imóveis deve recuar 10%, este ano, refletindo a pressão da alta da Selic.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia, hoje, às 18h30, a nova Selic. As expectativas são de um aumento de 1 ponto percentual, passando dos atuais 12,25% ao ano para 13,25%.


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