Novo aumento da Selic preocupa mercado imobiliário

em O Dia, 30/janeiro

Setor afirma que medida agrava custos e inibe a compra do imóvel.

O mercado imobiliário reagiu com preocupação após o Banco Central (BC) elevar novamente a Selic (taxa básica de juros) em um ponto percentual, passando de 12,25% para 13,25% ao ano. A medida foi anunciada nesta quarta-feira. Em nota, a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) alerta que a decisão agrava os desafios econômicos, encarece o crédito, desestimula investimentos e pressiona o orçamento de empresas e famílias.

A entidade lembra que, além de restringir o crescimento do país, os juros elevados tornam a dívida pública ainda mais onerosa, pois cada ponto percentual de alta na Selic adiciona cerca de R$ 48 bilhões ao seu custo anual. Outro ponto observado pela associação é que o impacto sobre as empresas também é enorme, o que pode resultar em demissões e aumento do desemprego. A Abrainc cita ainda que, somente em 2024, foram registrados mais de 2,2 mil pedidos de recuperações judiciais, segundo o Indicador da Serasa Experian. O montante é o mais alto contabilizado desde o início da série histórica, iniciada em 2005, e representa um aumento de 61,8% em relação a 2023.

"Medidas para controlar a trajetória crescente da dívida pública são essenciais para termos uma taxa de juros em padrão saudável a médio e longo prazo. Isso vai destravar investimentos e incentivar o crescimento do país de forma sustentada. Conviver com juros elevados trava o desenvolvimento, reduz a geração de empregos e penaliza empresas e famílias", ressalta Luiz França, presidente da Abrainc.

Também em nota, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), reforça a preocupação com o atual patamar da taxa de juros no Brasil e os impactos negativos sobre o setor da construção e da infraestrutura, além de defender a necessidade de um ambiente macroeconômico equilibrado, que permita a previsibilidade e a confiança dos investidores.

“O setor produtivo precisa de condições adequadas para continuar contribuindo com o desenvolvimento do país, o que inclui uma política monetária alinhada ao estímulo à produção e à ampliação do acesso ao crédito por empresas e famílias, em condições mais favoráveis. Entendemos que cabe ao governo federal adotar medidas que garantam o equilíbrio fiscal e o controle inflacionário, sem comprometer o crescimento sustentável do país. Reiteramos nossa disposição para o diálogo e a busca por soluções que viabilizem um ambiente mais favorável ao investimento e à geração de empregos”, diz a CBIC.

A coluna ouviu outras entidades, que analisaram como o mercado imobiliário vai se comportar diante deste cenário. Confira:

Cláudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro)

“A taxa Selic aumentou 1%, chegando a 13,25% ao ano, com uma tendência de novos aumentos. Isso impacta diretamente os custos de crédito à produção, postergando investimentos que gerariam novos empregos. E impacta o custo do crédito para a compra do imóvel, aumentando o valor das parcelas e afastando milhares de famílias do sonho da casa própria”.

Marcos Saceanu, presidente da Ademi-RJ (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário)

“Apesar de já estar previsto há algumas semanas, o aumento de 1% na taxa Selic preocupa e impacta todos os setores produtivos, inclusive o nosso mercado imobiliário. Aumenta o custo de crédito e os juros de financiamento num momento em que o mercado está bem aquecido e com atividade forte. Temos muitos lançamentos previstos para 2025 em todas as regiões da cidade e a esperança dos empresários é de que esse ciclo de alta seja revertido ainda este ano”.

João Eduardo Corrêa - presidente do Creci-RJ (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis)

“Com a esperança de recuperação econômica, o recente aumento na taxa Selic para 13,25% pelo Banco Central levanta preocupações para o setor imobiliário. Embora a medida busque controlar a inflação, é importante reconhecer que taxas de juros mais altas podem desacelerar o crescimento e limitar investimentos nesse setor crucial. No entanto, a resiliência do mercado imobiliário pode abrir portas para inovações e estratégias que ajudem a navegar por esse cenário desafiador. Se a indústria se adaptar e encontrar soluções criativas, ainda é possível impulsionar o desenvolvimento e contribuir positivamente para a economia nos próximos meses”.

Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi Rio (Sindicato da Habitação)

“O aumento da taxa Selic para 13,25% ao ano tem um impacto direto no mercado imobiliário, principalmente no crédito para aquisição de imóveis. Com juros mais altos, o financiamento imobiliário se torna mais caro, o que pode reduzir a demanda por novos financiamentos e desacelerar o ritmo de vendas, especialmente no segmento de médio e alto padrão. Para o investidor, o cenário muda: com a renda fixa oferecendo retornos mais atrativos, parte dos recursos que poderiam ser destinados à compra de imóveis para aluguel pode migrar para aplicações financeiras mais conservadoras, reduzindo a liquidez do mercado. Ao mesmo tempo, as pessoas optam por buscar imóveis para alugar ao invés de adquirir, deixando seus recursos nessas aplicações e com o rendimento pagando o aluguel para ocupar. Nesse cenário temos um mercado de aluguel aquecido e com forte demanda, o que já tem ocorrido nos últimos meses. No entanto, o setor imobiliário tem mostrado resiliência em ciclos de alta de juros, especialmente em regiões com forte demanda habitacional e em segmentos de renda mais alta, onde há maior capacidade de compra sem necessidade de financiamento. Além disso, o déficit habitacional no Brasil mantém a demanda por moradia aquecida no longo prazo. De modo geral, o aumento da Selic traz desafios para o setor, mas o mercado imobiliário segue como um investimento de longo prazo e uma proteção contra a volatilidade econômica, o que pode manter seu apelo mesmo em um cenário de juros elevados”.

Fernando Canato, diretor administrativo financeiro da Abadi (Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis)

“Com a inflação acima da meta e um cenário político de incertezas no ambiente interno e externo, a tendência é que a Selic continue subindo ao longo de 2025, com expectativa de ultrapassar os 15% até o final do ano. O mercado de compra e venda de imóveis sofre impacto direto no custo do crédito imobiliário. Taxas de financiamento mais altas e os critérios de aprovação mais específicos restringem ainda mais o acesso ao crédito, desestimulando a compra de imóveis financiados. Por outro lado, quem tem disponibilidade financeira para investimento é atraído pelo mercado financeiro onde a Selic atualmente pode contribuir para oportunidades de investimentos inclusive em renda fixa, podendo adiar uma decisão de compra no curto prazo, aumentando inclusive um possível cenário de especulação na compra e venda. O mercado de locação de imóveis tende a seguir na contramão. Investimentos com taxas de retorno mais atrativas, crédito mais caro e restrito, podem adiar a decisão de compra aumentando a procura por aluguel, naturalmente empurrando os preços de aluguel para cima, reflexo da famosa lei da oferta e da procura. Outro aspecto sensível desse cenário é a administração condominial. Com a alta da Selic, os custos gerais dos condomínios tendem a subir, entre elas despesas com manutenção, contratos de prestação de serviços e eventuais empréstimos para melhorias ou obras”.


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