Cyrela vê ano desafiador, mas prevê mais lançamentos imobiliários

em Valor Econômico, 15/março

Economia brasileira não está “bombando”, nem vai mal, diz co-presidente. “É o de sempre, nem muito bom para gringo entrar, nem ruim para quem está aqui quebrar”.

Para Raphael Horn, co-presidente da Cyrela, 2023 trouxe resultados melhores do que o esperado, mas o cenário em 2024 continua “bastante desafiador”. Em teleconferência com analistas, nesta sexta-feira (15), ele afirmou que a companhia tem desafio adicional neste ano, pois prevê mais lançamentos do que em 2023. Ano passado, a empresa atingiu R$ 6,6 bilhões em valor geral de venda (VGV) lançado, considerando apenas sua participação nos projetos, alta de 13% sobre 2022.

A economia brasileira, disse Horn, não está “bombando”, nem vai mal. “É o de sempre, nem muito bom para gringo entrar, nem ruim para quem está aqui quebrar”.

Uma preocupação é o custo de mão de obra. De acordo com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), o aumento nesse custo é de 6,3% nos últimos 12 meses — o INCC geral, que mede também materiais, acumula alta de 3,23%.

Miguel Mickelberg, diretor-financeiro da Cyrela, afirmou que São Paulo deve ter um aumento na quantidade de obras, o que pode gerar “aperto” nas contratações. Segundo ele, o custo de obra da Cyrela ficou acima do INCC, justamente puxado pelo peso da mão de obra. “Estamos monitorando, mas não piorou nos últimos meses”, disse.

A incorporadora não tem planos para alterar seu mix de lançamentos, que ficou em 50% no alto padrão, 30% no segmento médio e 20% no econômico em 2023.

Questionado sobre o clima de competição com as incorporadoras que são joint-ventures da Cyrela, Cury e Plano&Plano, e que concorrem com a marca Vivaz, do segmento econômico, Horn afirmou que “são amigos pessoais e vão continuar sendo”.

Segundo ele, a Cyrela se vê como um “irmão pequeno com dois irmãos adultos grandes” no segmento do Minha Casa, Minha Vida, e que não trabalha para ser maior ou melhor do que essas empresas.

O co-presidente disse ainda que não prevê redução de preço nos imóveis da Cyrela. Sobre o geral do mercado, disse que “deve ter coisa que terá que abaixar o preço para vender”, mas que não é o caso da safra atual da companhia.

A empresa terminou o ano com a taxa ROE (retorno sobre patrimônio, na sigla em inglês) em 13,1%, valor que consideram inadequado. Para 2024, Horn afirmou que a tendência é de aumento do indicador, ou de pagamento maior de dividendos. “Uma das duas coisas precisa acontecer”.

A companhia apresentou queima de caixa de R$ 101 milhões no ano, mas Mickelberg disse que eram esperados até R$ 300 milhões. O que reduziu o valor foram as vendas, que cresceram 17% em 2023, e o maior pré-pagamento dos imóveis.

Segundo ele, a safra a ser entregue em 2024 está 82% vendida e 47% paga — em geral, os clientes devem pagar, ao menos, 30% da unidade até a entrega das chaves, e depois financiar o restante via crédito imobiliário bancário.

Para este ano, a companhia espera ter caixa “neutro ou ligeiramente positivo”.


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