Madeira é apontada como solução para reduzir impacto ambiental do setor imobiliário

em Estadão, 20/agosto

Especialistas apontam versatilidade e sustentabilidade como aspectos positivos do material.

A construção civil é um dos motores da economia mundial, mas correndo na estrada do desenvolvimento, o setor provoca um impacto ambiental incalculável. Só em 2022, o Brasil gerou mais de 45 mil toneladas de resíduos, de acordo com a pesquisa Panorama dos Resíduos Sólidos.

Em um ambiente que gera tanta fumaça e restos de demolição, iniciativas apresentam a madeira engenheirada como uma alternativa mais sustentável.

A madeira engenheirada é um método que consiste em utilizar a madeira processada industrialmente na construção civil. A técnica consiste em colar as fibras em alguns sentidos para aumentar a capacidade estrutural da madeira, além de excluir trincas e rachaduras. O objetivo é facilitar a conexão entre as peças no momento da construção. E, por ser uma madeira de reflorestamento, o processo é pautado pela compensação ambiental.

“Fomos criados no monopólio do cimento, mas é necessário olhar mais para novas tecnologias”, afirma Cintia Valente, gerente de marketing da construtora Noah Tech, empresa que aposta no uso de madeira para construir imóveis de luxo. Em participação no SOMA, evento realizado pelo Instituto Mulheres do Imobiliário na última semana, ela argumentou que é importante construir olhando para o futuro.

Para Cintia, inovação e sustentabilidade necessariamente caminham juntas. “Quando você constrói um prédio em madeira, ele pode até ser transportado para outro lugar, por exemplo, o que diminui os custos financeiros e ambientais”, exemplifica. “Aço e concreto correspondem a muita emissão de carbono e a mínima troca que fizermos disso já pode trazer benefícios importantes”.

Inclusão e construção

Um dos pontos debatidos no painel “Novas metodologias construtivas e redução de impacto no mercado imobiliário”, moderado por Gustavo Zanotto, co-fundador do podcast Proptalk, foi o diferencial da madeira em relação ao modelo tradicional de construção. “É um material ligado ao aconchego. Os imóveis antigos, com seus pisos de taco, são uma prova disso”, ilustra Tainara Nievola, coordenadora na construtora Tecverde.

“A inovação acontece quando você consegue integrar práticas novas e eficientes de forma que o imóvel fique bonito, interessante, viável e atrativo”, enumera Nievola. A perspectiva dela é corroborada por Cintia. “Além do design, a madeira traz o bem-estar e uma flexibilidade que encanta os arquitetos. Ela tem o poder de dar personalidade para ambientes da casa”, acrescenta.

Mudança de mentalidade

O principal desafio enfrentado pelas iniciativas que envolvem madeira engenheirada e outros métodos construtivos, na visão das próprias companhias, é a baixa aceitação do público. “A gente vem de um mercado de arquitetura pautado no concreto e mudar esse mindset é um grande desafio. Ainda que a tecnologia já seja relevante no exterior, por aqui ainda é algo pequeno”, observa Mariana Caravelli, coordenadora comercial da Urbem.
“Mas não podemos fechar os olhos. Olha o tanto de gente sem casa. A construção civil é um setor necessário. Como fazer ele ser menos nocivo?”, questiona Mariana. “Em doses homeopáticas, vamos implementando isso no mercado. As pessoas vão se familiarizando com a ideia e tratamos de resolver problemas nocivos para olhar para o futuro entendendo que o cenário atual precisa mudar”, pontua.


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