Barra Olímpica: o IPTU vai aumentar? Como fica o CEP? Veja o que muda na vida de quem mora e quem investe no novo bairro do Rio

em O Globo, 19/maio

Moradores esperam que segurança e mobilidade melhorem na área que recebeu a Rio 2016.

Ainda não dá para notar a diferença, mas, desde o fim de 2022 o Rio de Janeiro tem um novo bairro, o Barra Olímpica. A situação, porém, deve mudar nos próximos meses. Com a regulamentação, no início do mês passado, da lei nº 7.646, que o criou, as mudanças neste trecho desmembrado da Barra da Tijuca, onde impera o Parque Olímpico, vive a expectativa de mudanças. Os moradores acreditam que não residentes terão mais facilidade em encontrar endereços na área. A expectativa é que a segurança também melhore, com a alteração do batalhão que serve o local. E o mercado imobiliário vibra com a possibilidade de valorização de terrenos e imóveis, assim como estabelecimentos comerciais esperam que o movimento, inclusive de turistas, aumente.

— Essa era uma reivindicação desde as Olimpíadas. Nós víamos que, em algumas vias, um lado era considerado Barra da Tijuca, e o outro, Jacarepaguá, uma confusão tremenda — diz o presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, um dos entusiastas da criação do novo bairro. — A lei também é boa para o mercado imobiliário, porque é mais interessante vender (um imóvel) como Barra Olímpica em vez de Curicica, por exemplo. No momento, os moradores ainda não notam muita diferença. Acho que isso ficará mais visível depois que as linhas de ônibus passarem a indicar o bairro.

A lei foi proposta em 2010 pelo presidente da Câmara dos Vereadores, Carlo Caiado (DEM), pelos vereadores Tânia Bastos (Republicanos) e Dr. Carlos Eduardo (PDT) e pelo ex-vereador Tio Carlos (Solidariedade), aprovada em novembro de 2022 e regulamentada no último dia 2 de maio. Criou-se assim o 166º bairro do Rio, que integra a XXIV Região Administrativa (Barra da Tijuca). Formado pela subdivisão de trechos de Barra, Camorim e Jacarepaguá, incluindo o entorno do Riocentro e do Parque Olímpico, o Barra Olímpica abrange ainda os condomínios Vila do Pan e Ilha Pura, o Centro Metropolitano e a comunidade Asa Branca. E abrange vias como Salvador Allende, Abraão Jabour, Abadiana e Estrada Arroio Pavuna, além de trechos da Avenida Ayrton Senna e do canal que liga a Lagoa da Tijuca à de Jacarepaguá.

O texto do decreto de número 54.405, que regulamentou o Barra Olímpica, destaca que o novo bairro reitera o “reconhecimento da Barra Olímpica como legado olímpico, cuja infraestrutura esportiva, residencial e comercial construída para os Jogos representa uma oportunidade para a continuidade do desenvolvimento urbano e social da região”.

— O que me levou a incentivar a criação do Barra Olímpica foi o orgulho máximo de a cidade sediar os Jogos Olímpicos. Aquela localidade se desenvolveu em decorrência do evento e passou a ser uma referência. As pessoas que moram ali já usavam com naturalidade essa nomenclatura, mas agora foi oficializado. Minha segunda motivação foi desenvolver uma identidade para a população e melhorar a prestação de serviços. Por exemplo, algumas regiões eram atendidas pelo 18º BPM (Freguesia), porém eram bem mais próximas do 31º BPM (Recreio). Agora, com essa lei, isso vai mudar — afirma Caiado.

Duas semanas após a oficialização do novo bairro, Caiado destaca que o objetivo principal, no momento, é a melhoria dos serviços públicos:

— Como toda mudança, existe um tempo de adaptação. Estamos dialogando com a prefeitura e síndicos da região para melhorar principalmente a mobilidade.

Marco Antônio de Sousa, presidente da Associação de Condomínios da Vila Pan-Americana, defende a importância da criação do novo bairro, acreditando que agora as demandas de seus moradores conseguirão maior atenção.

— Pela localização geográfica, estamos entre a Barra e Jacarepaguá. Com a criação do Barra Olímpica, temos uma identidade e maior peso na representatividade junto aos órgãos públicos. Nossas demandas são diferentes das da Grande Jacarepaguá; os problemas deles são bem maiores — diz Antônio de Sousa.

Afinal, o que muda?

Em termos administrativos, já se sabe que não há previsão de aumento do valor do IPTU para os imóveis da região, uma preocupação causada pela esperada valorização da área. O imposto, de acordo com a prefeitura, é cobrado com base nos códigos de logradouro das ruas, que seguem inalterados. O mesmo vale para o CEP, é o que explica Chicão Bulhões, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico do Rio:

— Na prática, a nova nomenclatura facilita a localização do bairro, como ocorre com Maracanã, Penha, Praça da Bandeira e Manguinhos, nomes cuja associação com a área é imediata. E destaca esse local da cidade como o espaço identitário do legado olímpico. Não há mudança de CEP, visto que este é estabelecido por logradouro ou por grandes edificações, e não por bairros — diz. — Para nós, o maior impacto é na relação de pertencimento da população com o novo bairro e na manutenção dessa área como legado olímpico. O município, inclusive, acabou de inaugurar o Parque Rita Lee em parte do Parque Olímpico, com área de lazer e para prática de esportes, e enviou projeto de lei à Câmara para manter o espaço como polo de esporte, lazer e cultura da cidade.

Mercado imobiliário prevê valorização

Quando se cria um bairro, dados como área, população e renda de seus habitantes são importantes para que se defina políticas públicas para o espaço, por exemplo. O Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), órgão de pesquisa da prefeitura, explica que as informações sobre a Barra Olímpica ainda não foram separadas, mas revela que a área total do local é de 10,97 km². E o mercado imobiliário já prevê lucrar mais neste espaço. Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condomínios Residenciais e Comerciais (Secovi), acredita que o bairro será valorizado a partir da mudança de nome.

— A região vem sendo contemplada com diversos investimentos de infraestrutura e já vinha impactada por meios de transporte como o BRT. O custo-benefício desse novo bairro é bem interessante. Os empreendimentos contam com uma infraestrutura gigantesca, com piscina, prédios próximos ao Parque Olímpico e várias opções de lazer. E a Barra sempre é uma chancela para quem busca, principalmente no pós-pandemia, lugares com mais espaço — ressalta Schneider.

Responsável pela construção de diversos bairros planejados na Barra, incluindo o Ilha Pura e outros residenciais na área do Centro Metropolitano, a construtora Carvalho Hosken acredita que discussões em torno dos projetos e sua aprovação pelos órgãos públicos serão facilitadas.

— A unificação na XXIV R.A. faz com que todos os terrenos da região estejam sujeitos à mesma legislação, sendo aprovados pelos mesmos órgãos, o que facilita muito o andamento dos projetos. Atualmente, nós temos a segunda fase do Grand Quartier, lançamento na última quadra do Rio2 em parceria com a Patrimar, além de outros estudos em desenvolvimento na região do Outeiro — explica Amanda Cabral, head de Incorporação e Marketing da Carvalho Hosken.

Turismo e comércio animados

Os profissionais de turismo estão animados. Para Alfredo Lopes, presidente do Sindicato Patronal dos Meios de Hospedagem da Cidade do Rio de Janeiro (HotéisRio), o novo bairro fomentará a economia da região.

— A criação oficial do Barra Olímpica traz uma identidade para a região, que até então era uma confluência de bairros. Temos um local que remete às Olimpíadas, megaevento que levou para lá uma série de melhoramentos urbanísticos e de integração com outros bairros, como transportes e serviços públicos. Não há dúvidas de que essa decisão agrega valor a todos os imóveis da região, trazendo benefícios a moradores e empresas. Um planejamento urbano mais adequado atrairá mais investimentos, inclusive turísticos, como hotéis e restaurantes — declara Alfredo Lopes.

Já para Fernando Blower, presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio), a melhoria na infraestrutura do bairro atrai mais pessoas interessadas em morar na região. Com isso, os estabelecimentos crescem na mesma proporção.

— Acreditamos que todo lugar onde a prestação de serviço público é mais eficaz e menos burocrática há maior facilidade não só para abertura como para manutenção de estabelecimentos, especialmente os bares, restaurantes e similares. O setor de alimentação fora do lar cresce junto com a população. Quanto melhores as condições de infraestrutura para moradia, melhor para o setor, que se desenvolve em função da frequência de clientes — afirma Fernando Blower .

No Lagune Hotel, na Avenida Salvador Allende, que faz parte do complexo do Riocentro, o gerente-geral Daniel Pompeu espera que o número de hóspedes dobre no verão:

— Por ser algo recente, a novidade ainda não impactou a demanda de forma expressiva. Mas acreditamos que uma diferença maior será sentida a partir do verão 2025, com mais turistas de lazer e mais eventos no decorrer do ano que vem.

Marcos do novo bairro

Parque Olímpico

Os equipamentos construídos para a Olimpíada do Rio, disputada em 2016, claro, são a joia da coroa e a razão de ser do novo bairro. No domingo passado, foi inaugurada uma melhoria do Boulevard Olímpico: o Parque Rita Lee, com equipamentos de lazer e para a prática de esportes, além de vasta vegetação.

Hospital Sarah Kubitschek

Referência em reabilitação no país, o Centro Internacional Sarah de Neurorreabilitação e Neurociências, inaugurado em 2009 na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, atende adultos e crianças portadores de lesões congênitas ou adquiridas do sistema nervoso central e do periférico.

Centro Metropolitano

O sonho de fazer da área o novo centro administrado do Rio, como previa Lucio Costa quando concebeu a urbanização da Barra da Tijuca, não se concretizou. Mas hoje o bairro planejado de 1,4 milhão m² tem grandes condomínios residenciais e comerciais e avenidas criadas pelo poder público e pela iniciativa privada.

Riocentro

Um dos principais centros de eventos do Rio de Janeiro, o Riocentro tem quatro pavilhões, um centro de convenções, três estúdios, um anfiteatro e um hotel com 306 apartamentos, o Lagune. Sedia desde feiras de negócios a espetáculos musicais grandiosos, passando pela Bienal Internacional do Livro.


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