Segmento corporativo vive alta em São Paulo

em Valor Econômico, 23/agosto

Incorporadoras entregam edifícios-butique e lançam projetos ‘triple A’ para atender à demanda gerada pelo aquecimento da economia no país.

O noticiário do Brasil nas últimas semanas tem sido mais do que animador para empresários e investidores: a atividade econômica cresceu 2,1% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado; Ibovespa bateu recorde histórico; e grandes players do mercado de capitais reveem suas projeções e sinalizam aumento de até 3% do PIB em 2024.

O reflexo disso no mercado imobiliário corporativo de São Paulo é o forte aquecimento na locação de lajes e escritórios, com queda de vacância para menos de 10% e saldo positivo na absorção líquida nos primeiros seis meses do ano: 81 mil metros quadrados, superando o inventário entregue no período, que foi de 24 mil metros.

É o que apontam as duas gigantes do setor de serviços imobiliários e administração de ativos: Colliers e CBRE. A primeira destaca que os segmentos de aviação, publicidade e tecnologia protagonizaram as principais locações na capital paulista.

“Outro ponto que merece atenção é o volume de área locada e devolvida, em linha com a média histórica anterior a 2020. Além disso, observamos aumento nos preços dos imóveis pedidos por diversos proprietários, sobretudo em regiões com baixa taxa de vacância. Não há dúvidas de que o mercado está aquecido”, afirma Paula Casarini, CEO da Colliers.

A análise da CBRE indica que a disponibilidade de escritórios nos prédios classificados como “triple A” na cidade é a menor em três anos. Em geral, esses ativos estão concentrados na região da Avenida Faria Lima, eixo financeiro paulistano. Segundo a companhia, como a baixíssima vacância nesse miolo pressionou os preços — que já superam o valor de R$ 300 por metro quadrado —, bairros do entorno têm recebido mais atenção, como Pinheiros e Jardins, além da Marginal Pinheiros.

Atentas a esse bom momento, as incorporadoras têm lançado e entregue novos projetos corporativos, a fim de dar conta da demanda. A Cyrela, por exemplo, anunciou no início do mês o Cyrela Oscar Freire Corporate, nos Jardins: uma torre de escritórios com quatro subsolos, lobby com pé-direito triplo, 23 andares, “rooftop” de 2,3 mil metros quadrados a 110 metros de altura e 45 mil metros de área bruta locável (ABL). O design será assinado pelo estúdio italiano Pininfarina, o mesmo que desenha os carros da Ferrari.

No mesmo segmento, a AMY Engenharia e Empreendimentos entregou em janeiro o Union Faria Lima, no quadrilátero corporativo mais desejado da cidade: a esquina das ruas Professor Atílio Innocenti e Leopoldo Couto de Magalhães, no Itaim. Com 30% de ocupação, tem valor de locação na faixa de R$ 310 por metro quadrado.

“É um edifício-butique de 20 pavimentos, com lajes entre 325 e 608 metros quadrados, voltado para empresas que não precisam de grandes metragens — como escritórios de advocacia e ‘family offices’ —, mas que desejam estar próximas a grandes bancos e gestoras daquela região”, explica Rodrigo Yunes, diretor da companhia.

A VBI Real Estate é dona de 50% da fração ideal do prédio, parte de um fundo de investimentos exclusivo para “prime properties”. “Apostamos no projeto por entender que há uma demanda potencial de locatários menores não atendida. Eles buscam ativos de qualidade naquela região da cidade e, pela localização do prédio, pela sofisticação dos acabamentos e pelo design, aceitam pagar um prêmio para estar lá”, analisa Natalia Canton Landi, VP da VBI.

O projeto é da PSA Arquitetura e se diferencia das grandes torres espelhadas comuns no segmento. A fachada elegante ostenta linhas irregulares e assimétricas, e o térreo tem fruição pública, praça, jardins abertos para cidade e outras gentilezas urbanas. “A Faria Lima está rompendo com a tradição de prédios comerciais mais sisudos. Nosso projeto contribui para essa tendência”, afirma o arquiteto Pablo Slemenson, da PSA.

Ousadia

Ainda mais inovador na abordagem arquitetônica, o Edifício Valente, em Pinheiros, mira empresas da economia criativa para ocupar os espaços comerciais do prédio, que terá fachada ativa no térreo e, provavelmente, um restaurante no 17º andar. A estrutura foi distribuída em pavimentos triplex e duplex, de mil a 1,4 mil metros quadrados cada, com mezaninos internos conectados por passarelas e grandes varandas ajardinadas.

“Nenhum andar é igual ao outro. As sacadas ocupam lugares diferentes e geram os espaços internos que determinam as posições dos mezaninos. A ideia foi dar uma pegada tipo ‘loft’ em um prédio comercial”, explica Fernando Forte, da FGMF Arquitetos, responsável pelo projeto.

Para Otávio Zarvos, sóciodiretor da incorporadora Idea!Zarvos, dona do prédio, essa visão criou ambientes de trabalho supermodernos, que ajudarão as empresas a reter talentos, bem como a potencializar a produtividade dos futuros colaboradores.

“Na volta ao expediente presencial pós-pandemia, as pessoas querem trabalhar em um escritório legal e, de preferência, em um local com vida própria, seja durante o dia ou à noite”, explica Zarvos, referindo-se à escolha de Pinheiros, bairro na Zona Oeste paulistana, que é repleto de bares, restaurantes e rede de serviços.

O empresário diz que sempre procura criar lugares para trabalhar tão agradáveis “que as pessoas até desejem morar neles”. Desta vez, o conceito foi levado ao pé da letra: o Valente terá nove apartamentos duplex de 55 a 76 metros quadrados no topo do prédio. A entrega está prevista para o fim de outubro.


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