Crédito imobiliário sinaliza retomada com recorde de financiamentos
em Estadão, 4/agosto
As taxas continuam altas e há quem ainda olhe para o mercado de crédito imobiliário (CI) com alguma dúvida, com razão após dois anos de retração no desembolso desse tipo de recurso por parte dos bancos. No entanto, o mercado tem dado sinais positivos nos últimos meses e, no dia a dia, quem opera no setor financeiro já notou pontos que quando olhados com atenção indicam para uma visão mais otimista.
Vamos primeiro a um dado factual importante: números da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que junho de 2024 foi o melhor mês em valores financiados em relação aos 15 meses anteriores.
Os números estavam na casa dos R$ 17 bilhões e representaram um crescimento de 28,3% em relação ao mesmo período do ano passado e de 3% em comparação ao mês de maio, o melhor do ano até então.
O início de 2024 ainda estava indicando números de um mercado retraído, mas a partir de abril iniciou-se uma virada que, agora, já coloca 2024 em um patamar acima e em viés de alta.
Lembremos que 2021 foi o melhor ano da história para o crédito imobiliário, e os períodos que vieram na sequência não conseguiram manter o fôlego do setor graças a uma série de cenários inconstantes na econômica brasileira e internacional, além da redução ou corte dos benefícios que vigoraram na pandemia da Covid-19.
Além disso, o aumento na taxa de juros para conter a inflação fez com que os bancos tornassem o acesso ao crédito mais restritivo.
Mas além dos números brutos do setor, o que nos permite olhar otimista? Existem alguns pontos: já é possível notar um crescimento na taxa de aprovação de novos financiamentos, cerca de 60% a mais em relação ao ano passado, e mantendo o mesmo perfil de clientes.
Ainda no dia a dia com os bancos, há uma leve redução nas taxas de juros, em torno de meio ponto percentual, e algumas instituições estão flexibilizando as políticas de crédito. Bancos que não estavam liberando propostas para não correntistas, por exemplo, passaram a negociar e fazer análises de crédito para quem não tem conta corrente.
Temos números do setor com prognóstico favorável, melhor aprovação de crédito, taxas mais atrativas – ainda que altas – e políticas mais permissivas para contratação. Tudo isso em um cenário político em que se espera uma conjuntura um pouco mais incentivada ao aquecimento da atividade econômica por meio do crédito.
E como isso chega aos investidores e ao público em geral?
Na precificação ainda é algo sensível e que deve caminhar de forma lenta, sem mudanças bruscas. Mas podemos enxergar de uma outra forma. Com taxas ainda em patamares elevados, há um número reduzido de pessoas com tendência de acesso ao crédito se compararmos a outros períodos.
Desta forma, o próprio mercado imobiliário acaba tendo mais oportunidades de negociação com uma demanda menor. Na prática, o custo um pouco mais elevado do crédito imobiliário, que voltou a ter taxas de aprovação altas, pode ser abatido em negociações mais favoráveis na outra ponta, na hora de comprar o imóvel.
Já temos observado movimentos relevantes de clientes olhando para o crédito imobiliário com bons olhos novamente. Casos em que o mercado é estudado com muita atenção e que agora estão escolhendo este momento para tirar negócios do papel, mudar carteiras de investimento e aproveitar oportunidades. É um cenário de mudança de realidade e que indica novas e boas possibilidades à frente.
Ver online: Estadão
Felipe Giroleti é co-founder e VP de Negócios da Franq