Estrangeiros invadem o mercado imobiliário do Rio

em O Globo, 4/agosto

Atraídos pelas belezas naturais e pela cotação do dólar, eles desembarcam na cidade atrás de um segundo endereço ou de oportunidades de investimento.

Não há estatísticas oficiais, mas os números de incorporadoras e construtoras indicam que, em média, entre 20% e 40% dos imóveis novos lançados hoje na Zona Sul do Rio são adquiridos por estrangeiros. Seja para investir ou para ter um segundo endereço de férias, europeus, americanos e asiáticos buscam de estúdios a residenciais de alto padrão, gerando uma demanda impulsionada também pela alta do dólar, o que torna os preços muito atraentes para quem negocia em moeda americana.

Os holofotes voltaram-se ainda mais para a cidade depois de citações em prestigiadas publicações estrangeiras. Primeiro, o Lonely Planet, um dos guias de turismo mais importantes do mundo, elegeu Ipanema como a segunda melhor praia do planeta, “com um pôr do sol extraordinário e aplaudido por banhistas”. Depois, a revista Time Out inseriu a Rua Arnaldo Quintela, em Botafogo, na lista das dez mais badaladas do mundo.

A coordenadora de Marketing da Mozak, Thaís Leal Lago, destaca que o Rio sempre ocupou um lugar no imaginário de pessoas de todo o mundo e é um verdadeiro objeto de desejo. Segundo ela, os empreendimentos da construtora, principalmente os localizados em Ipanema e Leblon, têm uma parcela considerável de proprietários estrangeiros — em alguns deles, quase 40%.

—É o caso do Atobá, no Leblon, que tem estúdios e apartamentos de quarto e sala. No Acqua, em Ipanema, nosso lançamento mais novo, 20% das unidades foram adquiridas por pessoas que são de fora — conta.

Especialista no mercado de alto padrão, o diretor da SC Ouro, Paulo Cesar Ximenes, observa que os estrangeiros sempre procuram produtos que tenham a cara do Rio, em locais com vistas genuinamente cariocas, como Santa Teresa, Praia do Flamengo, Avenida Atlântica e a orla entre Ipanema e Leblon. São imóveis que serão usados por eles para fugir do inverno europeu, por exemplo.

Ximenes, que acabou de negociar com a Mozak a venda da casa mais cara do país, no Jardim Pernambuco, por algo em torno de R$ 200 milhões, conta que recentemente vendeu por R$ 4 milhões um apartamento na Glória, mesmo o bairro não sendo um dos mais valorizados da cidade.

— O Rio não precisa ser mal vendido. Todas as grandes cidades do mundo têm suas mazelas, mas nem todas têm o calor humano do carioca e cenários tão paradisíacos. O que a cidade mais tem são imóveis com visuais incríveis e uma orla gigante — ressalta.

Além dos estrangeiros que querem ter um endereço no Rio, há os que veem a cidade como um bom investimento. Nesses casos, fazem muito sucesso os estúdios e os apartamentos de quarto e sala no coração da Zona Sul. O First Humaitá, da Fator Realty, é um bom exemplo: teve unidades vendidas para americanos, franceses e africanos.

Para atraí-los, a incorporadora contratou corretores poliglotas e preparou books, folhetos e vídeos em inglês. Facilitaram ainda mais o processo as inovações tecnológicas, que permitem atendimento por chamada de vídeo, a maquete digital e a assinatura eletrônica dos contratos.

—O perfil do cliente mudou. Trabalho remoto, estilo de vida e oportunidades de mercado são grandes motivadores para a compra desses imóveis. O mercado carioca sempre encantou e atraiu clientes estrangeiros porque o Rio é uma marca com grande apelo no mundo. Outro ponto é o aquecimento do mercado de aluguel, principalmente as locações por temporada em plataformas — afirma o diretor executivo da Fator, Tiago Miranda.


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