Fechado há seis anos, Rio Water Planet é desmontado e dará lugar a condomínio com 700 casas, heliponto e mais

em O Globo, 20/outubro

Além dele, outros parques aquáticos da cidade naufragam, entre eles o Wet’n Wild, e novos projetos surgem

Considerada a Flórida brasileira, a região da Barra da Tijuca não tem hoje uma das principais marcas daquele estado americano: os parques de diversão. Não faltaram tentativas. Pelo menos três fizeram por algum tempo a alegria da garotada, mas hoje estão abandonados. Em Vargem Grande, o Rio Water Planet, construído em 1998 em uma área de 400 mil metros quadrados para ser o maior parque aquático da América Latina, funcionou por uma década. Nos primeiros meses de operação, recebia até 12 mil pessoas por dia, que se refrescavam em 45 brinquedos, como piscina de ondas e corredeiras.

Mas o sucesso inicial da área de lazer, que engarrafava até a Estrada dos Bandeirantes, não suportou uma sucessão de acidentes. Agora, após anos de abandono, terá um novo destino. O projeto é construir ali um condomínio com 700 casas de dois pavimentos voltadas para a classe média: no lugar das corredeiras, entram heliponto, duas quadras de tênis e equipamentos de lazer. O terreno fica em uma área que é zona de amortecimento do Maciço da Pedra Branca, com vegetação de Mata Atlântica.

Queda de montanha-russa

Também não vingaram o Terra Encantada, na Avenida Ayrton Senna, que fechou em 2010, e o Wet’n Wild, na Estrada dos Bandeirantes, em Vargem Grande. Ainda não há planos para a área de 110 mil metros quadrados do parque aquático. Já o terreno do Terra Encantada, onde os brinquedos já foram desmontados e o mato predomina, deve dar lugar a um residencial, segundo especulação do mercado imobiliário. A propriedade pertence à construtora Cyrela. Inaugurado em 1998, o Terra Encantada funcionou até 2010, quando fechou suas portas após uma mulher morrer ao cair da montanha-russa.

No Rio Water Planet, em 2001, mais de dez mil crianças e adultos se divertiam nas piscinas e tobogãs quando dez pessoas despencaram do teleférico, de uma altura de seis metros. O cabo que sustentava o brinquedo se soltou da roldana. Em 2011, um operário fazia a manutenção de um dos equipamentos quando recebeu uma descarga elétrica e morreu. Mas o que levou ao fechamento, em 2018, foi uma determinação da Justiça — os donos do terreno entraram com uma ação porque não recebiam o aluguel dos locatários.

Apesar dos exemplos negativos, a cidade tem vocação e potencial para ter parques temáticos, acredita a presidente da Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil (Adibra), Vanessa Costa.

— O carioca tem uma particularidade: vai a família toda ao parque, diferentes gerações juntas, são pais, filhos, avós. Foi uma infelicidade que os que abriram não tiveram êxito. Há uma lacuna. Outra vantagem do Rio é ser um dos destinos turísticos mais visitados do Brasil — diz Vanessa.

Como exemplo de que a atividade é atraente, Vanessa cita o Imagine, apresentado em setembro pelo presidente da Rock World e criador do Rock in Rio, Roberto Medina, que promete ser o maior complexo de entretenimento da América Latina. O projeto prevê ocupar parte do Parque Olímpico com a montanha-russa do Iron Maiden, cheia de efeitos especiais de luzes, fogo e água; roda-gigante; anfiteatro para 40 mil pessoas; hub criativo com pista para patinação no gelo; espaço eterno para o Rock in Rio; resort; e torre de escritórios. A abertura é prevista para janeiro de 2028.

A resistência do Shanghai

Mas um empreendimento mostra que a diversão pode vencer qualquer crise: o Parque Shanghai, na Penha, na Zona Norte, está no mesmo endereço desde 1966. Foi fundado como atração itinerante em 1919, o que lhe confere o status de parque temático mais antigo do Brasil. O Rio só foi escolhido como sua casa em 1934. Por alguns anos, esteve nas proximidades do Aeroporto Santos Dumont, no Centro, mas, ao ser ampliado na década de 1940, mudou-se para a Quinta da Boa Vista, onde se manteve por cerca de 20 anos.

— Fazemos parte de uma tradição do carioca, que vai passando de geração para geração. Ao mesmo tempo em que modernizamos a operação, mantendo a tradição do parque. Mesmo com o avanço da tecnologia, conseguimos manter as “brincadeiras-raiz”. Bate-bate e carrossel não saem de moda — afirma Leonardo Waller, um dos sócios do parque.

Em meio a essa discussão, no terreno do antigo Rio Water Planet, os brinquedos estão sendo demolidos, e nada será reaproveitado no futuro condomínio. A Buriti Empreendimentos, que comprou a área, é especializada em adquirir grandes terrenos, dividi-los em lotes e implantar toda a infraestrutura para os moradores. No Estado do Rio, também desenvolve um projeto de loteamento em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

— A previsão é concluir a infraestrutura dos lotes até o fim de 2026. A decisão de quando construir será dos futuros proprietários, que seguirão alguns padrões que vamos sugerir. A área é muito bonita, perto da mata e próxima à Praia do Recreio, o que justificou a aquisição — explica o diretor da Buriti Empreendimentos, Lúcio Cornachini.

Maior procura

Embora fique numa região com muito verde, o projeto será implantado em uma área que sofre um processo de favelização.

— O condomínio ficará fora das regiões mais planas, onde há risco de inundações. O que possivelmente o projeto deverá exigir serão melhorias viárias nos acessos à Estrada do Sacarrão, para atender os novos moradores — aposta o ambientalista Ricardo Bittencourt, morador de Vargem Grande e pesquisador do programa de pós-graduação em Urbanismo da UFRJ, Pró-Urbe.

O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), Marcos Saceanu, observa o crescimento da procura por terrenos e lotes no bairro e uma possível valorização da região como novidade:

— Empreendimentos bem desenvolvidos, respeitando restrições das leis e harmonizando com a paisagem da região agregarão valor ao bairro.


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