Mercado imobiliário do Rio vive seu melhor momento em cinco anos
em O Globo, 29/novembro
Volume de vendas vem ultrapassando o de lançamentos, que devem somar 110 empreendimentos até o fim deste ano — uma média de dois projetos por semana.
O mercado imobiliário reforça seus laços com o Rio, projetando um horizonte de grandes transformações na paisagem urbana. O momento de forte expansão é impulsionado por uma rara combinação de fatores: ambiente regulatório favorável, confiança dos consumidores e oferta diversificada. O cenário edificante é referendado pelos números. O volume de lançamentos cresceu 54,3% de janeiro a setembro deste ano, aponta estudo da Brain Inteligência Estratégica.
As vendas vêm ultrapassando os lançamentos. No acumulado dos primeiros nove meses deste ano, o número de novas unidades foi 43,2% acima do registrado no mesmo período de 2023, e as vendas, 29% — somando R$ 8,73 bilhões em negócios. De janeiro a setembro, foram lançadas 14.386 unidades, com R$ 7,83 bilhões em valor geral de vendas (VGV).
— Este deve ser o melhor ano do mercado imobiliário desde 2019. Até dezembro, serão mais de 110 empreendimentos lançados, o que significa uma média de dois projetos por semana. O estoque no Rio tem a metade de imóveis da média nacional. É bom ver o mercado forte e otimista de novo. É para isso que a Ademi-RJ trabalha — afirma o presidente da entidade, Marcos Saceanu.
Porto Maravilha, Centro e bairros da Zona Norte representam hoje vetores de crescimento do Rio, atraindo compradores em busca de moradia de qualidade a preços que caibam no orçamento. Em agosto, a região do Porto, que tem 12 projetos em construção desde 2021, recebeu os primeiros moradores dos cerca de 27 mil esperados nos próximos anos, o que aumentará a população local em 90%.Para o prefeito Eduardo Paes, os números comprovam que o Rio, além de ser a principal vitrine brasileira, é uma das melhores cidades do país para viver.
— A área do Centro e do Porto recebeu 61% dos lançamentos do ano passado. É a maior revolução urbana da história do Rio. As transformações levam tempo, mas, com os incentivos corretos, elas acontecem — afirma Paes. O desempenho do setor está diretamente ligado aos avanços na legislação urbanística, incluindo o Código de Obras, a Lei do Retrofit, o Reviver Centro e o Plano Diretor do município, sancionado em janeiro. O diálogo foi crucial nas decisões sobre uso e ocupação do solo, regras de zoneamento e áreas de interesse social.
A atualização das leis urbanísticas tornou o Centro e a Zona Norte atraentes, levando em conta a infraestrutura de transportes e os serviços básicos, além da questão cultural contemplada na região central, rica em prédios e monumentos históricos, museus e teatros.
O Plano Diretor consolidou a legislação do Porto Maravilha, estendida a São Cristóvão, e aumentou o potencial construtivo de bairros como Andaraí, Grajaú, Méier, Leopoldina e Irajá. — A expansão do mercado reflete o bom momento de uma das indústrias mais tradicionais do estado do Rio, a da construção civil — destaca Luiz Césio Caetano, presidente da Firjan.
Na avaliação de Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio, o mercado retomou o protagonismo de outras épocas e viveu um ano emblemático. — Com os volumes de lançamentos e vendas, o Rio tem sido foco de atenção de investidores do país e do exterior.A grande procura por imóveis residenciais no Centro e na Zona Norte sinaliza um movimento migratório na cidade, segundo Leonardo Mesquita, vice-presidente de Negócios da Cury.
— Essas regiões estão sendo repovoadas. Moradores de outros bairros da cidade perceberam ali uma qualidade de vida que não existia antes. O Centro e o Porto ganham força como novos polos de desenvolvimento urbano — afirma.
Mudanças na legislação impactam o jeito de viver do carioca
Imóveis compactos e sem garagem e áreas de lazer mais extensas são resultado do novo texto do Plano Diretor
A nova legislação urbanística do Rio abriu um leque de oportunidades para o mercado imobiliário, com incentivos para regiões estratégicas da cidade e a retirada de exigências obsoletas. Apartamentos compactos, prédios com áreas de lazer e sem vagas de garagem e reconversão de prédios históricos são alguns resultados práticos da revisão do Plano Diretor, que estabeleceu novas diretrizes de desenvolvimento urbano do município para os próximos dez anos. Uma das mudanças de maior impacto foi o fim da obrigatoriedade de vagas de garagem nos lançamentos imobiliários das zonas Sul e Norte e do Centro. Na Zona Oeste, foi fixada uma vaga para cada quatro apartamentos.
— Foi um avanço enorme! O mundo está mudando, e as pessoas hoje preferem transporte público e carros por aplicativo ou bicicleta. Podemos construir áreas de lazer em vez de vagas de garagem, o que torna o imóvel mais barato para o comprador — explica Marcos Saceanu, presidente da Ademi-RJ.
Além do estímulo à criação de imóveis compactos de 25 metros quadrados, os chamados estúdios, o Plano Diretor instituiu a chamada Outorga Onerosa do Direito de Construir, que permite a construção de prédios mais altos em algumas regiões. Os terrenos passaram a ter coeficiente de aproveitamento: a construtora paga uma taxa extra para usar a área total permitida em cada local — exceção para os projetos contemplados pela Lei de Habitação de Interesse Social.
— O novo Plano Diretor é um marco no desenvolvimento urbano do Rio, com avanços significativos para a cidade. Foram dezenas de audiências públicas ouvindo todos os setores da sociedade. Um trabalho essencial para construir um documento que favorecesse o crescimento sustentável do Rio, tornando a cidade mais inclusiva e acessível para todos — afirma o vereador Rafael Aloísio Freitas (PSD), que presidiu a Comissão do Plano Diretor.
— A nova legislação foi particularmente importante para a Zona Norte, esquecida durante anos — afirma Felipe Videira, CEO do Grupo CTV, que destaca a infraestrutura consolidada de transportes e serviços da região.
— A política de incentivos atrai comércio e gera emprego e renda. Levamos mais equipamentos públicos para a região, e as melhorias vêm na esteira da expansão da oferta de moradias — garante Claudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio, concorda e diz que o mercado responde quando a cidade tem uma legislação moderna e eficaz, que estimula novos empreendimentos.
— Hoje temos um eixo de desenvolvimento na região central do Rio e na Zona Norte, o que mudou o desenho da cidade — conclui.
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