Poupança volta a crescer e Caixa ganha fôlego no crédito imobiliário

em O Globo, 13/julho

Saldo do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo alcançou R$ 762,5 bilhões, maior patamar desde o fim de 2022.

Em meio às mudanças nas regras das letras de crédito, como a LCI, o brasileiro tem voltado a manter mais dinheiro na caderneta de poupança, reduzindo os temores da Caixa sobre a falta de recursos baratos para financiar a casa própria. Líder em crédito habitacional, com quase 70% do mercado, o banco vinha alertando sobre um possível esgotamento de fontes de financiamento no ano que vem devido à sangria na poupança desde 2021.

Nos últimos meses a aplicação vem mostrando recuperação. O saldo do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), parte da poupança usada para o crédito imobiliário, alcançou R$ 762,5 bilhões em junho, o maior patamar desde o fim de 2022.

Apenas no mês passado, o ingresso líquido de R$ 8,8 bilhões foi o maior para o período desde 2020, ano em que a poupança foi recorde devido a efeitos da pandemia. No acumulado de 2024, a saída líquida de recursos é de R$ 8 bilhões, o menor resultado dos últimos quatro anos. O rombo na primeira metade de 2023 foi de R$ 54,5 bilhões.

Por outro lado, a emissão de Letra de Crédito Imobiliário (LCI) vem caindo desde fevereiro, quando o governo aumentou o prazo mínimo de vencimento de 90 dias para um ano. Em média, a redução mensal de novos títulos é da ordem de 60%.

— Essa medida afeta a nossa captação em LCI, mas tem um colateral interessante. As pessoas que não se aventuram no mercado vão para a poupança. O poupador brasileiro é de liquidez imediata — diz o vice-presidente de Finanças da Caixa, Marcos Brasiliano, que vê o pagamento de precatórios também como um fator relevante para a recuperação da poupança.

Cenário promissor

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, vinha mostrando preocupação com o crédito imobiliário em 2025. Se a poupança continuasse a ter desempenho muito negativo este ano, como de 2021 a 2023, e tampouco houvesse apoio via LCI, poderiam faltar recursos para atender a demanda de financiamento habitacional no ano que vem.

Brasiliano afirma que o cenário é mais promissor do que o banco traçou no início do ano e deve dar suporte para a manutenção do volume de contratações do crédito habitacional entre 2024 e 2025.

Em 2024, a expectativa do banco é de apenas igualar o volume de contratações via Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que usa recursos da caderneta e de LCI, em relação a 2023, em torno de R$ 75 bilhões. A carteira imobiliária foi de R$ 733 bilhões em 2023 e deve crescer entre 8% e 12% este ano, impulsionada pelo FGTS.

Projetos do PAC que ficaram no papel

Brasiliano deixa claro que os últimos dados dão alívio, mas o crescimento sustentável do crédito imobiliário no médio e longo prazo, com taxas adequadas, depende de outras soluções. Em sua avaliação, a saída seria fortalecer o mercado secundário.

O governo já vem trabalhando em um desenho para que a estatal Emgea (Empresa Gestora de Ativos) impulsione esse mercado. O vice-presidente da Caixa afirma que o banco também tem interesse. Para isso, o primeiro passo, além de uma taxa Selic mais baixa, seria rever a extensão do prazo da LCI. Com esses recursos, a Caixa poderia voltar a acessar o mercado imobiliário de médio e alto padrão, com taxas de mercado.

Mais para frente, seria possível montar uma operação de securitização, espécie de venda da carteira de crédito no mercado de capitais. O executivo afirma que os bancos privados não têm interesse em vender a carteira imobiliária hoje, porque é um crédito bom, com inadimplência baixa.

Os bancos têm conversado com o Ministério da Fazenda sobre as regras da LCI. Segundo Brasiliano, há compreensão, mas o governo ainda está avaliando os desdobramentos antes de tomar decisões. Para ele, minimamente é preciso igualar os prazos da LCI e da LCA, voltada para o agronegócio, que ficou com vencimento mínimo de nove meses.

Compulsório na mira

Outra frente seria a redução do compulsório da poupança pelo Banco Central para aumentar a fatia de recursos para a habitação. Hoje, a alíquota é de 20% e o direcionamento de 65%. A ideia é reduzir a alíquota para 15% e elevar a proporção dos recursos para a habitação a 70%. Mas o BC tem resistido à mudança.


Ver online: O Globo