Quem for comprar casa própria a partir de agora vai encontrar preços maiores, diz presidente da CBIC

em Estadão, 28/outubro

Segundo Renato Correia, situação reflete a escalada nos custos das construções, especialmente na mão de obra.

Quem for comprar um imóvel novo vai se deparar com preços maiores ao longo dos próximos meses, disse nesta segunda-feira, 28, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia. A situação reflete a escalada nos custos das obras, segundo ele.

“A situação vai gerar o repasse de custo maior para o preço dos imóveis. Quem for comprar a casa própria vai encontrar preços maiores. Não tem jeito, as empresas têm de preservar as margens (de lucro)”, disse, em entrevista após apresentação de dados do setor.

A economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, apontou uma tendência de alta nos custos de construção. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) já subiu 5,48% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, enquanto a inflação oficial do País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 4,42% no mesmo período. “Ou seja, o custo de construção está acima da inflação do país”, enfatizou Vasconcelos.

O setor de construção está com uma demanda aquecida por mão de obra, mas têm faltado trabalhadores qualificados, o que gera uma elevação nos salários. Com isso, o componente “mão de obra” dentro do INCC subiu 7,7% nos últimos 12 meses, pressionando os custos setoriais.

Além disso, os custos dos materiais de construção voltaram a subir nos últimos meses, configurando uma tendência de alta, apontou Vasconcelos. Ao longo de 2023, os materiais vinham mostrando deflação, mas essa tendência se reverteu, e esses itens passaram a subir rapidamente desde março, chegando a 3,89% nos últimos 12 meses. “O custo com material vem registrando aceleração e volta a preocupar o setor construtor”, disse a economista.

Atualmente, as maiores preocupações para o empresário da construção são, nesta ordem: carga tributária elevada; custo e/ou falta de mão de obra qualificada; e taxa de juros elevadas. A economista comentou que o ciclo de alta da Selic, iniciado recentemente, também passa a pressionar o custo do financiamento para o setor. “Esses fatores formaram uma ‘tempestade perfeita’ para o setor da construção”, enfatizou.

Dificuldade de repasse

Renato Correia disse também que há incorporadoras com dificuldade de encaminhar o cliente para o financiamento bancário no momento de entrega das chaves do imóvel vendido na planta. A situação, segundo ele, decorre da elevação dos juros no País e da falta de recursos para abastecer os financiamentos. “Tem muito empreendimento com dificuldade de fazer o repasse”, disse.

Diante dessa situação, o presidente da CBIC reiterou o pleito para que ocorra a liberação dos depósitos compulsórios dos bancos e o seu direcionamento para o crédito imobiliário. Essa medida serviria para amenizar a situação de aperto até um momento mais favorável nos próximos meses. O Banco Central (BC), entretanto, não tem indicado apoio à medida. “O BC entende que não é um remédio definitivo”, comentou Correia.

A proposta consiste na redução de 5% no compulsório bancário com o objetivo de direcionar o dinheiro para os financiamentos de imóveis. Essa sugestão foi encaminhada para a autoridade monetária no início de 2023 pelos representantes do setor da construção, entre eles a própria CBIC, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o Secovi (que reúne as empresas do setor imobiliário) e o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção). Ao longo do ano, os bancos também aderiram, sob liderança da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Por trás dessa movimentação está a preocupação com os juros altos do crédito imobiliário, que inibem lançamentos e vendas. Uma das razões para isso é o encarecimento das fontes de recursos que os bancos usam para conceder empréstimos.

Os últimos anos foram marcados por perda de recursos das cadernetas de poupança - fonte de recursos com menor custo para o crédito - e a necessidade de utilização de outras fontes de mercado pelos bancos, geralmente atreladas ao CDI.


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