Clubes privativos: opção de estadia em alto estilo

em Valor Econômico, 19/julho

Alternativas de hospedagem de curta duração, apartamentos luxuosos em novos complexos de lazer e entretenimento devem agitar o mercado imobiliário na capital paulista.

Em abril deste ano, a ponte aérea Rio-São Paulo registrou um volume de 557 mil passageiros transportados — cerca de 18 mil por dia —, segundo relatório da Associação LatinoAmericana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta). Na maioria, são pessoas em viagens de negócios, que se deslocam com frequência entre as duas cidades.

Para muitos que visitam a capital paulista regularmente, resta pernoitar em hotéis ou estúdios de “short stay” para atenuar a rotina estressante de passar boa parte do tempo entrando e saindo de aviões. O alento para essa turma é que a oferta de estadia por temporada na cidade ganhou um novo produto nas últimas semanas: apartamentos em clubes privativos, com lazer de alto padrão e conforto “cinco estrelas”.

No conceito, são quartos de hotéis luxuosos, alguns com o tamanho de uma casa, que são abrigados em complexos de entretenimento, com serviços e acesso seguro e restrito aos sócios do empreendimento.

Mas o que torna esses apartamentos uma opção bastante sedutora — rivalizando com o mercado imobiliário local — é o pacote que oferecem: alta gastronomia, eventos exclusivos, “networking” junto aos demais associados, praia artificial e piscina de onda para a prática de surfe. Em resumo, dá para cumprir a agenda de trabalho e voltar para terminar o dia no clube — seja em um “happy hour” no bar exclusivo ou pegando uma onda em plena metrópole.

Na Zona Sul de São Paulo, o Beyond The Club (BTC), da KSM Realty, da Realty Properties e do BTG Pactual Asset Management, está com as obras em ritmo acelerado. O empreendimento ocupa uma área de 70 mil metros quadrados e terá piscina de ondas para a prática de surfe em 30% do terreno, além de praia com areia, três restaurantes, spa e infraestrutura de lazer completa. A meta é concluir a obra em julho de 2025, mas já em março as ondas devem começar a quebrar por ali.

Cerca de 45% dos três mil títulos de sócio já foram vendidos. O valor unitário está em R$ 778 mil, equivalente a um estúdio compacto no Itaim. Segundo o sócio-fundador da KSM, Oscar Segall, muitos clientes moram fora de São Paulo e fecharam negócio com o objetivo de trabalhar e descansar na cidade.

“Há sócios que vêm uma ou duas vezes por semana do Rio ou de cidades do agronegócio e não têm imóvel em São Paulo. Ficando no clube, é possível trazer esposa ou família, porque eles terão o que fazer.

O espaço tem ‘coworking’ e salas de reunião. No fim do expediente, ainda há tempo de dar mergulho na praia ou pegar uma onda, quem sabe, ao lado do Gabriel Medina, campeão de surfe e cliente do Beyond”, provoca Segall.

O BTC terá 74 quartos, alguns com cem metros quadrados, e projeto de interiores do arquiteto Gui Mattos. A ideia é oferecer serviços básicos, como de limpeza e governança.

A alimentação deverá ser pedida diretamente aos restaurantes do clube. “Um cliente sugeriu alugar o apartamento por dez anos, mas isso não está previsto no estatuto do clube. Quando entrar em operação, vamos entender o uso e a ocupação das unidades e podemos repensar essa operação”, diz o executivo.

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Os apartamentos não são ativos imobiliários ou hoteleiros tradicionais: na prática, não estão à venda nem podem ser locados ou reservados pelo público comum — estão atrelados à adesão de programas de membros e só podem ser ocupados com a presença do sócio.

É como funciona no Soho House São Paulo, a filial brasileira da rede internacional de “member’s club”, fundada pelo empresário Nick Jones, em Londres. Inaugurado em junho passado dentro do Cidade Matarazzo, na região da Avenida Paulista, o clube tem áreas sociais, ambientes de trabalho e 32 apartamentos para associados, com decoração que privilegia a identidade histórica e cultural do lugar.

“O projeto consumiu mais de quatro anos de trabalho e busca refletir a rica materialidade da cidade, com piso de madeira recuperada, azulejos cerâmicos pintados à mão e padrões sobrepostos, em meio a detalhes da arquitetura já existente”, explica a diretora de Membership para América Latina, Alicia Gutierrez.

A estadia pode ser de curta ou longa temporada, conforme a disponibilidade. Para fazer parte do Soho House São Paulo, é preciso ter o nome aprovado por um comitê interno, pagar uma taxa de adesão de R$ 3,8 mil e valores anuais entre R$ 8,15 mil/ano (para usufruir apenas da casa em São Paulo) e R$ 20,65 mil no caso da categoria com acesso a todas as 43 sedes ao redor do mundo.

A executiva não revelou quantos associados já ingressaram na operação paulistana, mas se disse “impressionada com o interesse”. Em todo o mundo, a marca tem 193 mil sócios, alguns deles, celebridades como Leonardo DiCaprio, Miley Cyrus e Justin Bieber.

O charme de passar um tempo hospedado no Soho House é exatamente esse: poder conviver com personalidades e participar de uma comunidade ligada à economia criativa — algo que nem o melhor hotel “business” da cidade é capaz de oferecer.


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