O que pensa o mercado imobiliário sobre o ciclo de alta de juros

em O Globo, 13/dezembro

A recente elevação da taxa Selic para 12,25%, acompanhada de sinalizações de novos aumentos de 1 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom, trouxe preocupação no mercado imobiliário. Alguns enxergam oportunidades pontuais, outros alertam para os riscos de retração no setor.A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) expressou surpresa com o movimento, destacando os possíveis impactos negativos para o setor.

Em nota no site da instituição, a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, disse que medida surpreendeu parte dos analistas e reflete uma combinação de fatores complexos, incluindo as incertezas em torno da política monetária americana, o risco fiscal, a depreciação do real, a inflação e o dinamismo da atividade econômica, além do aquecimento do mercado de trabalho.

 No setor da construção civil, a preocupação é ainda maior, especialmente em relação ao financiamento imobiliário com recursos da caderneta de poupança (SBPE). Desde 2021, a poupança tem registrado uma queda nos recursos, tendência que deve continuar no próximo ano. Como resultado, espera-se o adiamento de novos lançamentos imobiliários e um ritmo mais moderado nas atividades do setor.

Para Marco Adnet, sócio-diretor da Konek Transformação Imobiliária, o mercado imobiliário continua sendo um porto seguro, especialmente em tempos de crise monetária. Ele destacou que, com o dólar em alta, investidores buscam ativos reais, como imóveis, para proteger seu patrimônio. Adnet também ressaltou que o setor de construção civil tem potencial para ser uma mola propulsora do PIB, desde que a carga tributária seja respeitada.

 No Rio de Janeiro, em particular, o baixo estoque imobiliário tem garantido boas vendas, mesmo em um cenário de juros elevados.

Por outro lado, Sylvio Pinheiro, diretor da G+P Soluções, classificou a decisão do Copom como uma "bomba" para o setor. Ele apontou que o aumento dos juros pressiona tanto os financiamentos quanto os custos de produção dos empreendimentos, dificultando a viabilidade econômica dos projetos.

 Se ele chegar aos 14%, como se desenha, a chance de recessão é muito grande. Isso porque há um impacto nos juros do dinheiro tomado para o financiamento e para a produção dos empreendimentos. Importante lembrar que o retorno para as incorporadoras já estava apertadíssimo e agora comparando com os juros e o custo de oportunidade do dinheiro no mercado, a equação fica bastante difícil de fechar. E para o cliente também fica complicado, pois o aumento da Selic levará os bancos a readequarem seus juros a longo prazo e isso vai dificultar a aquisição do imóvel. Então, não tem jeito: o aumento da taxa Selic é um duro golpe para o mercado imobiliário e para toda a economia.

Elcilio Brito, presidente da Lopes Rio, avaliou que o aumento da Selic terá um impacto mais severo no segmento de unidades prontas, que depende diretamente de financiamento, com uma possível redução de até 40% nas vendas.

 Já para os lançamentos do segmento econômico, incluindo o Minha Casa, Minha Vida, a queda será menor, entre 20% e 25%, mas, mesmo assim, também impacta. De toda forma, a decisão mexe com o todo o setor. No caso do incorporador, ele agora pegará um crédito ainda mais caro para desenvolver seus empreendimentos na planta. Já para o cliente deste perfil, no futuro ele poderá encontrar uma Selic mais baixa, pois o financiamento bancário do imóvel só acontecerá daqui a uns dois anos - comenta.


Ver online: O Globo