Precificar imóvel é desafio para proprietários na hora de vender ou alugar, diz pesquisa
em Folha de São Paulo, 10/dezembro
Oito em cada dez entrevistados sentem dificuldade em ter acesso a informações precisas sobre quanto valem as propriedades.
Um em cada três proprietários no Brasil afirma que definir o preço é uma das principais dificuldades na hora de colocar o imóvel à venda ou para alugar. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Datafolha em parceria com o QuintoAndar.
O maior desafio de precificar a propriedade, apontam, é ter acesso a informações precisas sobre quanto valem os imóveis no país.
Os entrevistados acreditam que um maior acesso a dados sobre preços de imóveis —como informações públicas sobre transações anteriores e preços estimados de imóveis em uma mesma região— pode aumentar a segurança nas transações, acelerar vendas e locações e aprimorar a tomada de decisão.
"A pesquisa identifica que há uma assimetria de informação no mercado imobiliário que dificulta quem precisa precificar um imóvel e também de quem busca entender qual o valor adequado a se pagar", afirma Pedro Capetti, especialista em dados do QuintoAndar.
"O proprietário, com poucas informações para tomar a decisão, acaba inflando o preço, na expectativa de conceder descontos ou de acreditar que determinado preço é o adequado. O inquilino ou comprador, por sua vez, acaba deixando de concretizar negócios pela incerteza se está fazendo um bom negócio", diz Capetti.
Para a maioria dos entrevistados, as informações do mercado imobiliário são muito pulverizadas, o que dificulta a vida de quem está na jornada de compra, venda ou locação. Seis em cada dez proprietários entrevistados afirmaram já ter utilizado site ou app para calcular o preço do imóvel.
A transparência nos preços é considerada essencial, e 71% defendem que o governo disponibilize dados sobre os preços de aluguel e de venda dos imóveis da cidade, utilizando fontes como ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), para orientar os valores dos imóveis anunciados para venda e locação.
O estado de conservação do imóvel, sua localização, a metragem e o número de cômodos são as características que mais impactam na definição do preço de um imóvel na opinião dos proprietários.
Foram entrevistadas 2.005 pessoas (51% homens e 49% mulheres), a partir de 18 anos (inquilinos, compradores, vendedores e proprietários de imóveis), de todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. A pesquisa foi feita entre os dias 27 de agosto e 12 de setembro de 2024 e tem uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo a pesquisa, 80% dos proprietários de imóveis disseram já ter tido dúvida se um imóvel similar ao deles foi vendido ou alugado por um preço abaixo ou acima. Enquanto dois em cada três brasileiros já deixaram de alugar, comprar ou vender um imóvel com medo de fazer um mau negócio por conta do preço.
"Essas dificuldades, muitas vezes, podem impactar a liquidez do imóvel, fazendo com que as transações demorem mais para serem concretizadas, além de desestimular também os compradores e inquilinos que buscam preços justos e transparentes", diz Capetti.
A pesquisa mostra que, para inquilinos e compradores, encontrar um imóvel que caiba no bolso é a maior preocupação. O aspecto financeiro é considerado mais importante do que saber se há problemas estruturais com o imóvel ou encontrar imóveis que atendam às necessidades específicas.
Porém, a incerteza em torno do preço anunciado é uma barreira que impede muitos brasileiros de realizar uma transação. "Essa situação não apenas impede que potenciais inquilinos avancem em suas decisões, mas também limita a liquidez do mercado, uma vez que muitos deixam de fechar negócio por não terem clareza se os preços são adequados", afirma o especialista.
Os proprietários investem tempo para saber como precificar. A maioria leva até um mês pesquisando para saber se o preço para vender ou alugar é o ideal. Período semelhante utilizado por inquilinos e compradores na pesquisa do preço adequado. O levantamento do Datafolha indica ainda que ambas as partes consideram a negociação por desconto no valor oferecido parte do processo.
Sete em cada dez entrevistados afirmaram quem anunciam o imóvel pensando em conceder algum percentual de desconto. Enquanto 52% dos inquilinos e compradores esperam abater entre 5% e 10% do valor oferecido para fechar a transação.
Pesquisar o preço de imóveis mesmo quando não há a intenção de vender, comprar ou alugar também é uma prática rotineira de todos os públicos. Segundo o estudo, 30% dos proprietários pesquisam preços de mercado regularmente, mesmo sem planejar vender ou alugar o imóvel.
Outros 51% fazem essa pesquisa ao iniciar o planejamento da negociação, enquanto 13% verificam os valores apenas no momento do anúncio. Outros 6% dizem que mantêm a busca mesmo depois da publicação do anúncio "para garantir que o preço está de acordo com o mercado".
Para Capetti, ter mais dados disponíveis para a consulta aberta da população e o desenvolvimento de produtos que consigam agregar mais informações para o consumidor melhoraria esse cenário de falta de transparência e de informações suficientes para a tomada de decisão.
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